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Antes que meus olhos te vissem: discipulando a próxima geração para valorizar a vida

Por Heather Cofer

Um dia antes do nosso quinto filho nascer, eu estava passeando com meus três filhos mais novos. Pouco antes de parar no sinal vermelho, notei um grupo pró-vida perto do cruzamento com cartazes na mão.

Em dois desses sinais havia imagens de bebês abortados.

Eu sou pró-vida, mas confesso que me senti um pouco desconfortável por meus filhos estarem prestes a ser expostos a algo que seus olhinhos nunca deveriam ter que ver – eles não estavam preparados para lidar com essa situação. Dito e feito, segundos depois, ouvi a voz preocupada da minha filha de seis anos: “Mamãe, o que há de errado com esses bebês?”

Gostando ou não, eu tinha duas escolhas: eu poderia fugir da pergunta ou eu poderia abordá-la. Com um apelo interno: “Senhor, ajuda-me”, escolhi a última.

“Esses são bebês que a vida foi tirada deles quando ainda estavam na barriga de suas mães.”

Houve suspiros de horror. O fato de eu ser “ótima com crianças” tornou isso ainda mais significativo para eles.

“O quê?! Como?”

“Um médico colocou um remédio especial dentro da mãe para que eles não tivessem mais vida.”

“Por que?!”

“Porque às vezes as mães não querem seus bebês ou pensam que não podem cuidar deles. E alguns médicos optam por fazer coisas muito ruins.”

“E os pais? O que eles disseram?”

“Às vezes, são os pais que dizem às mães que elas têm que parar a vida do bebê porque eles não querem ser pais. E as mães acham que não têm outra escolha.”

Pergunta após pergunta.

Então minha filha de seis anos disse, com desespero em sua voz: “Oh, precisamos orar por esses bebês nas fotos”.

Eu não conseguia impedir que as lágrimas enchessem meus olhos. “Esses bebês estão com Jesus agora. Mas vamos orar pelos bebês que precisam que suas mães escolham que eles vivam.”

Ouvi com admiração enquanto minha filha pedia ao Deus do universo em nome desses bebês e de suas mães. Depois de orarmos, a conversa continuou. Eu lhes falei sobre os centros de apoio à gravidez, como eu costumava ser voluntária num deles, e que há pessoas que passam suas vidas amando essas mães, pais e bebês. Seus olhos se iluminaram de esperança.

Já se passou um ano desde aquela experiência, e ainda estou maravilhada pensando que o que poderia traumatizar meus filhos, Deus usou para instruir seus ternos corações a lidar com algo difícil. Até hoje vejo, regularmente, evidências de que Ele permitiu a exposição dos meus filhos a um mal inimaginável a fim de que aquela oportunidade fosse usada para ensinar-lhes e aumentar sua compreensão do valor da vida a partir do momento em que um bebê começa a se formar no ventre de sua mãe.

 

Valor do útero ao túmulo

É uma tragédia vivermos em um mundo onde horrores como o aborto existem, manchando a inocência de nossos filhos desde a tenra idade. No entanto, estou cada vez mais convicta de que, em vez de fugir dessas realidades, devemos preparar ativamente nossos filhos para enfrentá-las.  Isso significa que nós devemos expor os filhos, conscientemente, a todos os males lá fora? Absolutamente não. Mas, por mais que procuremos proteger suas mentes e corações delicados agora, eles eventualmente serão cada vez mais expostos às realidades devastadoras do pecado. E é nosso trabalho fundamentá-los fielmente na verdade, saturá-los na Palavra e ensiná-los a aplicar essa verdade em suas ações, palavras e atitudes. 

Então, como começamos a ensinar nossos filhos a valorizar a vida dos que foram feitos à imagem de Deus desde o “ventre até o túmulo”? Antes de mais nada, somente pela graça de Deus. Mas aqui estão algumas maneiras pelas quais podemos de forma prática colocar essa graça em ação:

 

1. Compreenda-a.

Se quisermos ensinar fielmente nossos filhos, precisamos compreender o que a Bíblia nos ensina sobre a santidade da vida humana e por que ela é significativa. Não há um único versículo que diga: “Você não matará um bebê no útero”. No entanto, toda a Bíblia testifica da realidade de que Deus é o doador da vida, que temos valor intrínseco como portadores de Sua imagem e que somente Ele tem o direito de decidir o tempo de vida de uma pessoa.

Logo no primeiro capítulo da Bíblia, vemos que Deus foi proposital na criação de seres humanos.

Gênesis 1.27 diz,

“Criou Deus o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou.” 

Deus nos criou à Sua imagem – homens e mulheres. E à luz dessa realidade, somos mais valiosos do que qualquer um de Seus outros seres criados. Jesus afirma isso em Mateus 6 quando, falando de como Deus cuida de Sua criação, Ele diz: “Você não vale mais do que eles?” (v. 26). Essa é uma realidade surpreendente.

O Salmo 139:13-16 testifica da verdade de que Deus não apenas ordena os dias da vida de uma pessoa, mas que Ele está intrinsecamente envolvido em todos os detalhes do nosso ser desde o momento da concepção.

Tu criaste o íntimo do meu ser e me teceste no ventre de minha mãe.
Eu te louvo porque me fizeste de modo especial e admirável. Tuas obras são maravilhosas! Disso tenho plena certeza. Meus ossos não estavam escondidos de ti quando em secreto fui formado e entretecido como nas profundezas da terra. Os teus olhos viram o meu embrião; todos os dias determinados para mim foram escritos no teu livro antes de qualquer deles existir.” (NVI)

Eu diria que, quer estejamos falando sobre o assunto do aborto ou qualquer um dos outros assuntos atuais e urgentes sobre nossa identidade humana, nunca foi tão importante para nós compreendermos verdadeiramente quem é Deus, como Ele ordenou este mundo e como nos encaixamos em Sua narrativa providencial.

 

2. Ensine-a.

Além de estarmos firmemente plantadas na verdade sobre o valor e a dignidade da vida, também devemos propositadamente procurar incutir essas verdades em nossos filhos ou em outros que têm sido confiados aos nossos cuidados. Precisamos pedir ao Senhor que nos ajude a manter nossos olhos e ouvidos bem abertos para oportunidades de entrelaçar essas verdades bíblicas nas conversas do dia-a-dia.

Especificamente em relação à vida no útero, meu marido e eu compartilhamos com nossos filhos a alegria – e também a aflição – que vem com uma nova gravidez. Envolvemos nossos filhos em todo o processo, logo depois de descobrir que outro irmão está a caminho, permitindo assim que eles participem de toda a expectativa. Embora eu nunca tenha perdido um bebê, estivemos perto de muitos que experimentaram isso através de aborto espontâneo, mortes ao nascimento ou mortes precoces, e tivemos muitas conversas sobre essas tragédias com nossos pequenos. Nosso desejo em compartilhar esses momentos de alegria e de tristeza é que eles compreendam o quão valiosa é cada vida a partir do momento da concepção, muito antes que o olho humano possa vê-la.

Também procuramos ensiná-los como é honrar os feitos à imagem e semelhança de Deus em geral.  Quando ouço um dos meus filhos menosprezar a si mesmo ou a outros de alguma forma com suas palavras, lembro ele ou ela de que todos nós somos criados por Deus e, como tal, devemos nos referir sobre nós mesmos ou aos outros de maneira que traga honra ao Senhor. Esses momentos, então, muitas vezes se tornam uma oportunidade perfeita para falar sobre a realidade do pecado e a esperança do evangelho.

Esse discipulado pode ocorrer de inúmeras formas no nosso dia-a-dia, não há uma fórmula única. Mas, ao buscarmos a sabedoria do Senhor, Ele nos capacitará a aproveitar todas as oportunidades para apontar nossos filhos de volta ao Senhor e ao Seu precioso design para a vida.

 

3. Viva-a.

Por fim, precisamos ter certeza de que estamos vivendo de tal maneira que demonstre que realmente acreditamos no que afirmamos acreditar. Como diz o ditado, as lições são mais captadas do que ensinadas. Aqui estão algumas perguntas que podemos fazer a nós mesmas para avaliar como estamos nos saindo nessa área:

  • Como falo e trato outros portadores da imagem de Deus de todas as idades, etnias e povos?
  • Qual é a minha atitude em relação às crianças?
  • Como reajo à gravidez não planejada, minha ou de outra pessoa?
  • Há algo na maneira como eu ajo ou falo que rebaixa o valor de outra vida humana?
  • Preciso me arrepender de alguma maneira pela qual fui orgulhosa ou menosprezei outros?

Muitas vezes me vi orando o Salmo 139:23-24 ao avaliar estas perguntas em minha própria vida: 

“Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração; prova-me, e conhece as minhas inquietações. Vê se em minha conduta algo que te ofende, e dirige-me pelo caminho eterno.” (NVI)

Nossos filhos e aqueles sob nossa influência precisam ver que fomos transformadas pelo evangelho e capacitadas para viver o que dizemos que cremos. Eles precisam ouvir o evangelho em nossas palavras assim como vê-lo em nossas ações. Deus pode e nos capacitará a viver isso à medida que nos submetemos a Ele.

 

Obras maravilhosas

No final de cada livro do bebê que eu faço para meus filhos, eu incluo uma foto de seu ultrassom ao lado de uma foto deles com um ano de idade. Quero dissipar qualquer dúvida de que eles não foram muito amados a partir do momento em que Deus começou a formá-los em meu ventre. Eu anseio que eles entendam que suas vidas são presentes e sempre foram. Para as crianças que foram uma surpresa para nós, quero que elas ouçam de meus lábios que Deus sabia o tempo para a chegada de outra criança infinitamente melhor do que nós, enchendo nossas vidas de alegria. Quero combater qualquer mentira do inimigo de que eles são uma inconveniência, um obstáculo, um “Plano B”, com garantias do meu amor e, mais importante, do amor de Deus e do plano perfeito Dele para suas vidas. E eu oro para que, compelidas por esse amor, eles entrem neste mundo escuro e proclamem a verdade do nosso Criador perfeito para aqueles que precisam saber que suas vidas também têm valor.

 

Sobre a autora
Heather Cofer

Heather Cofer é esposa e mãe de cinco filhos que vive no norte do Colorado com uma paixão por encorajar as mulheres a amar Jesus. Ela é autora de “Expectant: Cultivating a Vision for Christ-Centered Pregnancy”, e  também escreveu para Set Apart Ministries, Risen Motherhood e Well-Watered Women.  Ela gosta de flores frescas, bom café e risadas com os entes queridos.