icon-newsletter

Para aquelas de nós que anseiam os confortos dessa vida

Por Cindy Matson

Você reclama dos “problemas de primeiro mundo”? Provavelmente sim, como eu. Raiva da bateria do celular que acaba rápido demais ou o sinal de WiFi fraco, uma entrega de pizza que chegou dez minutos atrasada ou a dificuldade de achar uma vaga no estacionamento do shopping. Um comprador no mercado que me irrita por sua lerdeza, esquecendo minha senha de novo, não recebendo um lanche em um avião e o técnico do ar condicionado que só pode me atender daqui a uma semana.

Por que essas coisas nos frustram tanto? A resposta, pasmem, tem a ver com idolatria. Este é o segundo de três artigos sobre o trio de ídolos-raiz que nossos corações servem: aprovação, conforto e controle. Hoje vamos enfrentar o ídolo que nós, sofredoras de problemas do primeiro mundo, servimos tão prontamente: nosso próprio conforto.

 

Esta lista soa familiar?

O ídolo do conforto, como os três ídolos-raiz, pode aparecer na variedade de frutas em uma fruteira. Embora os frutos possam parecer diferentes, todos vêm da mesma raiz. Ao ler esta lista, veja se consegue encontrar frutos que aparecem em sua vida.

  • Assistir compulsivamente uma série na TV
  • Recusar-se a ajudar um vizinho no sábado porque você teria que abrir mão do seu tempo livre
  • Dormir até tarde em vez de se levantar para passar tempo na Palavra de Deus
  • Entregar-se a pecados sexuais: pornografia, masturbação, adultério, homossexualidade, etc.
  • Preguiça
  • Glutonaria
  • Autoindulgência
  • Exigindo tempo “só para você”
  • Não aproveitar oportunidades para ser generosa
  • Reação pecaminosa a …
    • Uma queda de energia elétrica
    • Mau tempo
    • Planos de férias que deram pra trás
    • Queda da internet
  • Gastar horas olhando mídias sociais
  • Assistir cultos da igreja apenas online (para que você possa ficar de pijama e evitar as pessoas)
  • Cobiça
  • Indisposição a ser vulnerável

E então, você se encontrou? Eu me achei. Mas talvez também tenha trazido uma pergunta à mente.

 

Como posso saber se é idolatria ou desfrute de dádivas divinas?

Um quadro pendurado na parede da minha sala de jantar me lembra de uma verdade abençoada do livro de Tiago: “Toda boa dádiva e todo dom perfeito vêm do alto” (1:17). Isso significa que chocolate, café, sono extra, um bom livro, um filme agradável, internet e transmissão de cultos ao vivo são todos presentes de Deus. Nenhum deles é inerentemente pecaminoso. No entanto, à sua maneira, cada um se encaixa na lista acima. Então, como devemos saber se estamos simplesmente desfrutando de uma boa dádiva do nosso generoso Pai celestial (Lucas 11:13) ou se estamos engajadas na idolatria do conforto?

A resposta a esta pergunta pode ser resumida em duas perguntas úteis que ouvi pela primeira vez de um pastor:

  1. Pecarei para obtê-lo?
  2. Vou pecar se não conseguir?

Um bom presente se transforma em um deus quando uma ou ambas as respostas às perguntas acima são “sim”. Por exemplo, como reajo quando meu marido usa a última cápsula de café sem me avisar e eu não tomo café pela manhã? Embora eu não consiga imaginar meu marido realmente fazendo isso, posso imaginar que minha resposta indicaria que eu provavelmente amo meu café – com certeza, meu conforto – um pouco demais. Se eu peco quando é retido, torna-se um ídolo.

Ou considere as mídias sociais. Embora eu tenha opiniões bastante fortes sobre o assunto, não acho que Facebook, Twitter ou Instagram sejam inerentemente pecaminosos. Eu acredito que é, pelo menos em teoria, possível usá-los para a glória de Deus. No entanto, como posso saber quando passei do limite? Considere a primeira pergunta. Você pode não sentir que está pecando ao usar as mídias sociais, mas ignora outros deveres quando está interagindo? Você negligencia seus filhos? Você fica buscando atualizações ao invés de ler a Palavra de Deus? Se sim, então uma resposta honesta para a primeira pergunta é sim.

Nossos corações são mestres em poluir a bondade de Deus com nossos próprios desejos idólatras.

 

Pense de forma diferente

Espero que tenha uma ideia de como o ídolo do conforto pode parecer em sua vida. Mas agora devemos considerar como precisamos alterar nossos pensamentos a respeito a fim de mudar (Efésios 4:23). Aqui estão duas atitudes para ajudá-la a governar o pensamento bíblico.

 

Rendição: o conforto é um presente, não um direito

Nossa cultura tornou-se obcecada com o conceito de “direitos”. E quando esses chamados “direitos” são violados, podemos reagir da maneira como quisermos. A indignação pública é um exemplo visível do que se passa em nossos corações quando um de nossos ídolos é ameaçado. Nós atacamos com raiva ou reviramos os olhos com desprezo porque achamos que temos direito ao conforto. Acreditamos que temos o direito fundamental de ter tudo que nos deixará confortáveis. Mas isso soa muito mais como a retórica do mundo do que um ensinamento Bíblico.

Aqui está o que merecemos, de acordo com as Escrituras:

  • “Pois o salário de pecado é a morte”(Romanos 6:23, ênfase acrescentada).
  • “Anteriormente, todos nós também vivíamos entre eles, satisfazendo as vontades da nossa carne, seguindo os seus desejos e pensamentos. Como os outros, éramos por natureza merecedores da ira.” (Efésios 2:3, ênfase acrescentada).
  • “Antes vocês estavam separados de Deus e, em suas mentes, eram inimigos por causa do mau procedimento de vocês.” (Colossenses 1:21, ênfase acrescentada).

Todas nós merecemos estar sob a ira de Deus, exiladas de Sua família, sofrer separação eterna Dele e punição no inferno. Simplificando, sem o evangelho, esses são os únicos “direitos” que realmente temos.

Isso significa que devo reconhecer meu café, internet, chocolate e tempo de leitura pessoal como presentes da graça de Deus. Eles não são meu direito. Ele pode tomá-los a qualquer momento, e eu devo estar bem com isso. Jó exemplifica essa atitude em uma situação exponencialmente mais terrível do que provavelmente qualquer uma de nós já nos encontramos. Ao perder todas as fontes de renda e todos os seus filhos em um único dia, Jó respondeu dessa maneira:

“Saí nu do ventre da minha mãe,

e nu partirei. O Senhor o deu,

o Senhor o levou;

louvado seja o nome do Senhor”. (Jó 1:21)

Isso é rendição— a atitude que devemos adotar se desejamos esmagar o ídolo do conforto.

 

Mordomia: tudo pertence a Deus

Não apenas devemos entregar as boas dádivas do nosso conforto, mas também devemos aprender a administrá-las bem. Posso administrar meu tempo a sós sem crianças gritando meu nome repetidamente para a glória de Deus? Posso administrar meu tempo na internet de uma forma que engrandeça o nome de Cristo? Minha sexualidade? Meus relacionamentos na igreja? Minhas escolhas alimentares? Minhas opções de entretenimento? Acredito que a resposta para tudo isso seja sim. Nós podemos—e devemos. Se qualquer quesito de conforto em minha vida não puder ser administrado de uma maneira que honre o Rei, devo abandoná-lo completamente.

Paulo concorda. Embora ele esteja falando especificamente de nossos corpos físicos, o princípio se estende a todas as partes de nossas vidas:

“Acaso não sabem que o corpo de vocês é santuário do Espírito Santo que habita em vocês, que lhes foi dado por Deus, e que vocês não são de si mesmos? Vocês foram comprados por alto preço. Portanto, glorifiquem a Deus com o corpo de vocês.” (1 Coríntios 6:19–20, ênfase acrescentada)

 

Aja de maneira diferente

Por fim, considere três passos de ação que você pode tomar para ajudá-la a servir ao Deus vivo e verdadeiro, em vez do seu próprio conforto.

 

Seja obediente

Na realidade é algo bem simples.  Aproximadamente cinquenta vezes por dia lembro ao meu filho de três anos: “Você precisa obedecer”. E eu também. Preciso amar bem os outros, mesmo quando isso significa sacrificar meu conforto. Preciso passar tempo na Palavra de Deus, mesmo que isso signifique sacrificar meu sono. Preciso administrar meu corpo para a glória de Deus, mesmo que isso signifique me negar um lanche gostoso. Eu preciso obedecer.

 

Seja grata

Aprenda a cultivar o hábito da gratidão. Você pode fazer isso de várias maneiras.

  • Expresse gratidão ao Doador de boas dádivas antes de desfrutá-las, ou mesmo quando privado delas. Sussurre uma oração de agradecimento antes de mergulhar naquele bolo de chocolate; agradeça a Deus pela internet quando ela estiver ruim—e então encontre uma maneira lucrativa de preencher seu tempo.
  • Faça uma lista de três coisas todos os dias pelas quais você é grata.
  • Encontre uma pessoa diferente todos os dias a quem você possa expressar gratidão.
  • Memorize o Salmo 100; ore-o de volta a Deus.
  • Aprenda todos os versos da Doxologia (baseado no Salmo 100).
  • Decore seu espelho com bilhetes adesivos expressando sua gratidão.

 

Seja generosa

Gratidão e generosidade são assassinos de ídolos. É muito difícil (impossível?) idolatrar algo pelo qual você é grato a Deus e com o qual é generoso. Você não responderá sim a nenhuma das perguntas diagnósticas se praticar a arte da generosidade. Comece sendo intencional. Como você pode compartilhar seu item de conforto favorito? Ou talvez seja algo que não pode ser compartilhado, como assistir TV. Por que não sacrificar seu tempo de TV para fazer algo de bom para outra pessoa? Jogue seu jogo favorito, compre uma refeição ou café, faça biscoitos de chocolate. O que você escolhe fazer pelo outro realmente não importa. Apenas encontre uma maneira de abençoar os outros em vez de se entregar às suas próprias vontades.

Que possamos derrubar nossos ídolos de conforto e celebrar a bondade de Deus!