Deixando um legado de alegria profunda

Imagine o seguinte: você chega a uma reunião do ministério de mulheres e pergunta casualmente à coordenadora “Como você está?” e ela suspira, “Estou indo, dadas as circunstâncias.” Qual é a sua reação inicial? Você estaria inclinada a seguir essa mulher e rastejar com ela pelas circunstâncias? Quanto tempo passaria antes de você se cansar com o peso dessas mesmas circunstâncias?

Alegria profunda numa líder dedicada

Eu estava na casa dos quarenta e a Sra. Johnston estava na casa dos setenta quando começou a frequentar nossa igreja. Seu amor radiante por Jesus nos envolveu. Quando ela se mudou para uma casa de repouso, adorava levar a minha classe da escola dominical para visitá-la. De sua cama, ela sempre nos recebia com um sorriso grande e uma saudação alegre. No Natal, cantamos canções natalinas para ela. No domingo seguinte, li Lucas 2.10 para as crianças: “E o anjo disse-lhes: ‘Não tenham medo. Estou lhes trazendo boas novas de grande alegria’.” Então eu perguntei: “O que é alegria?” Um dos meninos respondeu imediatamente: “Sra. Johnston.” As crianças concordaram, balançando as cabeças. Elas não podiam definir a palavra alegria, enxergavam-na incorporada nela. Elas sabiam intuitivamente que a verdadeira alegria transcende as circunstâncias. Essa líder vivificadora me aproximou de Jesus. Ainda me sinto energizada com o legado de alegria que ela me passou.

Ser uma líder alegre não significa fingir uma personalidade extrovertida e entusiasmada. A alegria não é uma emoção que produzimos. A alegria bíblica é um dom da graça divina, um fruto do Espírito:

Jesus disse: “Tenho lhes dito estas palavras para que a minha alegria esteja em vocês e a alegria de vocês seja completa.” (João 15.11)

“Mas o fruto do Espírito é amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio. Contra essas coisas não há lei.” (Gálatas 5.22-23)

Embora estejamos nos concentrando na alegria, observe que o fruto é singular. Esta é a obra abrangente e progressiva do Espírito Santo produzindo em nós atributos que refletem o caráter de Cristo. À medida que utilizamos os meios de graça que Ele concede – a Palavra, oração, adoração, sacramentos, comunhão – Ele transforma nossos desejos, atitudes e ações.

Muitas coisas boas nos dão alegria. Sou conhecida por aplaudir a beleza do nascer do sol. Devemos nos juntar aos anjos que se alegram por causa de um pecador que se arrepende (Lucas 15.10). E João diz: “Não tenho alegria maior do que ouvir que meus filhos estão andando na verdade.” (3 João 4).  Mas tem mais. Em Romanos 5, Paulo cita as bênçãos que são nossas porque Deus nos justificou, e culmina com o versículo 11 (grifo meu): “Não apenas isso, mas também nos alegramos em Deus, por meio de nosso Senhor Jesus Cristo.” Esta é uma alegria que vai além das pessoas e das circunstâncias. Como o Salmo 21.6 declara “Lhe deste a alegria da Tua presença.” Numa situação confusa e sem precedentes, Maria canta este hino: “O meu espírito se alegra em Deus meu Salvador” (Lucas 1.47), grifo meu .

Ao estudar o Salmo 92, comecei a desejar mais do que Paulo descreveu.

“Mais do que” alegria

Aos oitenta anos, fiquei intrigada com a promessa de Deus no Salmo 92.12-13: “Os justos florescerão . . . mesmo na velhice darão fruto.” Para entender como alguém com habilidades físicas diminuídas pode florescer, eu precisava examinar essa promessa no contexto de todo o Salmo. Começa assim:

“Como é bom render graças ao Senhor e cantar louvores ao teu nome, ó Altíssimo, anunciar de manhã o teu amor leal e de noite a tua fidelidade, ao som da lira de dez cordas e da cítara, e da melodia da harpa. Tu me alegras, Senhor, com os teus feitos; as obras das tuas mãos levam-me a cantar de alegria.” (v. 1-4)

A ideia de que Deus – não as circunstâncias ou as pessoas – nos deixa alegres me cativou. Eu também vi uma progressão: agradeça, comece e termine o dia declarando Seu amor e Sua fidelidade inabalável, e Ele nos alegrará. Fiz disso o modelo de minhas orações.

Vários meses depois, meu precioso marido foi para o céu. Durante sua doença e morte, não fiquei surpresa com a paz que Deus me deu, mas a minha enorme gratidão por meu amado estar na presença de Jesus e a alegria que eu sentia em minha alma me surpreenderam. Então percebi que Deus estava respondendo às minhas orações. Não posso explicar como a tristeza, a gratidão e a alegria podem coexistir, mas eu sei disso: a alegria do evangelho é grande o suficiente para conter minha tristeza. Sentimos tristeza, mas não como aqueles sem esperança (1 Tessalonicenses 4.13), e também sentimos tristeza, mas não como aqueles sem alegria. A alegria do Evangelho é um mistério maravilhoso.

Suspeito que a Sra. Johnston se esforçava bastante para nos cumprimentar com o coração feliz. Lamento ter tomado a sua alegria como certa e não ter perguntado a ela como se envolver nessa luta de fé. Mas agora é a minha vez de dizer como a profunda simplicidade do modelo do Salmo 92 está me dando “armas de justiça” (2 Coríntios 6.7) para lutar pela alegria. O que se segue certamente não é exaustivo. É simplesmente o que essa mulher mais velha está aprendendo agora.

É bom render graças

Prontamente concordamos com isso até chegarmos ao comando chocante em 1 Tessalonicenses 5.18, “Dêem graças em todas as circunstâncias, pois esta é a vontade de Deus para vocês em Cristo Jesus.”

Como damos graças em toda e qualquer circunstância?

Parece-me que inclui confiança em Seu amor soberano, submissão à Sua autoridade e obediência à Sua Palavra. Não importa a situação que enfrentávamos, por décadas meu marido citava Romanos 8.28–29 com confiança e calma: “Sabemos que Deus age em todas as coisas para o bem daqueles que o amam, dos que foram chamados de acordo com o seu propósito. Pois aqueles que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho.” Esta passagem está tão entrelaçada na alma da nossa família que nossos netos a gravaram em madeira para dar a Gene no seu octogésimo aniversário. O quadro fica pendurado por cima da porta da frente, então, ao sair, é a última coisa que veem.

Deus pode cumprir a promessa de Romanos 8 porque Ele é soberano. Ele a manterá porque nos ama. Portanto, se Ele age em todas as coisas para cumprir esse propósito glorioso, posso agradecê-lo em tudo. Nada é aleatório e nada é desperdiçado. Como Paulo disse da prisão: “Quero que saibam, irmãos, que aquilo que me aconteceu tem antes servido para o progresso do evangelho.” (Filipenses 1.12)

Todas as manhãs, peço ao Senhor que abra meus olhos para ver Sua misericórdia e me dê a graça da gratidão. Estou começando a “ver” coisas que havia esquecido. Sua beleza na natureza e Sua bondade por meio dos outros são abraços celestiais, lembrando-me de Sua Presença comigo. Estou cada vez mais ciente da visão a longo prazo e sou capaz de agradecer a Ele porque o evangelho está progredindo em minha vida e na vida de outras pessoas, mesmo que eu não o veja.

Declare o evangelho

Estou aprendendo a alegria de intencionalmente começar e terminar cada dia declarando Seu amor inabalável e Sua fidelidade ao meu próprio coração e aos outros. Seu amor constante e Sua fidelidade são validados na cruz. Lembrar-me repetidamente do evangelho me ajuda a pensar biblicamente e orar por graça para glorificar ao Senhor em todas as circunstâncias e relacionamentos.

Oração

Salmo 92.4 é uma oração: “Tu me alegras, Senhor, com os teus feitos; as obras das tuas mãos levam-me a cantar de alegria.”

Estou aprendendo a alegria de ouvir a Deus quando Ele fala por meio de Sua Palavra e, em seguida responder, orando Sua Palavra em minha vida. Frequentemente, venho a Ele com minha frustração e desapontamento e peço que mude os outros para que eu seja feliz. Esta é uma oração egocêntrica. Considere estas orações das Escrituras:

“Alegra o coração do teu servo, pois a ti, Senhor, elevo a minha alma.Tu és bondoso e perdoador, Senhor, rico em graça para com todos os que te invocam. Escuta a minha oração, Senhor; atenta para a minha súplica!” (Salmo 86.4-6)

“Satisfaze-nos pela manhã com o teu amor leal, e todos os nossos dias cantaremos felizes.” (Salmo 90.14)

O privilégio da oração é o nosso acesso à presença e ao poder do Senhor. Alegria é um presente, portanto simplesmente peça a Ele por isso e depois administre este presente para Sua glória.

Imagine isso

Você chega a uma reunião do ministério de mulheres sabendo que a coordenadora está passando por um momento difícil. Você diz que tem orado por ela. O rosto dela fica radiante quando ela diz em meio às lágrimas:

Estou “entristecida, mas sempre alegre” (2 Coríntios 6.10).  Quando Jesus foi insultado “não revidava; mas entregava-se àquele que julga com justiça.” (1 Pedro 2.23) Ore para que eu me entregue a Ele, “servindo-O com alegria” (Salmo 100.2), lembrando que estou sob Sua graça—sempre.

Qual é o legado dessa líder?  Quando alguém te pergunta “Como você está?”, que legado deixará?

 

Sobre o Autor

Susan Hunt

Susan Hunt é viúva de Gene Hunt, mãe de três filhos, avó de treze netos e bisavó de dois bisnetos. Ela foi coordenadora do ministério de mulheres da Presbyterian Church in America e escreveu vários livros para mulheres e alguns para o público infantil. Ela ama passar tempo com a sua família, sentar na sua varanda com mulheres mais jovens e cuidar das flores que seus netos ajudam a plantar no seu jardim.