Eu parei no meu caminho, atordoada. Não me lembrava de ter escrito aquilo, mas lá estava a minha caligrafia rabiscada na margem da minha Bíblia.
“Eis a glória de Jesus!” 27 de janeiro de 2013.
Escrito apenas dois dias após a morte de meu marido, não é de se admirar que eu não me lembrasse dessa anotação! Mas me lembro nitidamente de ter vivido aquele dia. Foi a primeira reunião de adoração depois que Jon morreu. Embora meu cérebro estivesse entorpecido, senti-me compelida a estar com a igreja. O luto era estarrecedor, mas eu tinha que ir.
Nossa igreja se reunia em uma velha boate, vestígios de sua antiga vida ainda presentes – um longo bar no saguão, espelhos vistosos, paredes pretas no auditório, paredes com chiclete rosa e verde limão no banheiro. Lembro-me do banheiro porque desabei lá em lágrimas depois de ouvir “Be Still My Soul” tocando como prelúdio.
“Eu não consigo, mas eu tenho que orar. Apenas orar.”
Duas queridas irmãs se ajoelharam ao meu lado, me segurando, intercedendo, implorando por mim. E a graça de Deus era tangível. A presença do Espírito Santo era tão poderosa que era quase física.
Voltei e chorei com as mãos levantadas, cercada por tantos que me amavam. Naquele dia eu sabia que minha igreja era a minha família. Cada pessoa queria carregar o peso da tristeza comigo. As lágrimas escorriam livremente. As pessoas se abraçavam em pequenos grupos e ninguém queria ir embora. Meu marido também era profundamente amado.
Um jovem universitário se aproximou de mim, com lágrimas escorrendo pelo rosto. “Eu nunca havia chorado por alguém que não conheçia antes.” E eu me peguei confortando e abraçando ele.
O tesouro do meu coração
Anos mais tarde, estava vendo as minhas anotações na minha Bíblia tentando me lembrar do sermão daquele domingo. Não me lembrei, mas de alguma forma, “Eis a glória de Jesus!” rompeu a névoa da dor naquele dia. Ao ler a passagem que meu pastor deve ter pregado, me deparei com algumas coisas difíceis.
“Não acumulem para vocês tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem destroem, e onde os ladrões arrombam e furtam. Mas acumulem para vocês tesouros nos céus, onde a traça e a ferrugem não destroem, e onde os ladrões não arrombam nem furtam. Pois onde estiver o seu tesouro, aí também estará o seu coração.” (Mt 6:19-21)
E então me lembrei. Quando ouvi essa passagem no auge do meu maior medo se tornando realidade, pensei: “Meu coração está no céu. Meu tesouro está lá porque é onde Jon está.”
Ele era o cara que eu esperei durante anos de solteirice, e ele me cobriu de amor desde o momento em que o conheci. Ele foi meu primeiro beijo. O primeiro homem a tirar meu fôlego. Jon era cheio de energia, iluminando qualquer lugar que ele entrava, e seguia em frente a todo vapor em novas aventuras. Você podia ter acabado de conhecê-lo, mas ele era seu novo melhor amigo. Ele irradiava paixão por Cristo. Ele era um tesouro.
Eu posso ter dito “até que a morte nos separe” no dia do nosso casamento, mas a morte em dois anos, oito meses e três dias não era o que eu tinha em mente.
De alguma forma eu penso “Eis a glória de Jesus!” era a resposta que eu queria ter, mesmo que ainda não pudesse ver a glória de Jesus. Mas apenas dois dias atrás, quando Jon me segurou pela última vez, meus pensamentos mais conscientes eram: “Eu só quero ele de volta. Ou Deus, você poderia me levar lá também? Por favor?” Eu ansiava pelo céu porque Jon estava lá.
Muitas vezes ponderei sobre a ideia de “tesouro”. Valorizar algo é valorizá-lo muito. Nosso tesouro final é o que mais valorizamos, o que tem precedência sobre todos. É o que captura nossa atenção e domina nossas emoções; é onde nosso coração está.
Ao longo do caminho, cheguei a algumas conclusões difíceis. Jon não poderia ser meu tesouro final, mas Jesus deve ser. Meu segundo amor, David, e meus três lindos filhos não podem ser meus maiores tesouros. Mas Jesus deve ser.
Lembro-me de outra passagem:
A quem tenho nos céus senão a ti?
E na terra, nada mais desejo
além de estar junto a ti.
O meu corpo e o meu coração
poderão fraquejar,
mas Deus é a força do meu coração
e a minha herança para sempre. (Salmo 73:25-26)
O quê? Eu tenho alguém no céu. O homem com quem eu queria envelhecer, o homem que eu amava, está lá. E você está me dizendo que o salmista desejava somente a Deus? Que Deus era o único que ele tinha no céu?
Sim.
Você fica de queixo caído como o meu? Eu li esse versículo tantas vezes, mas agora ele carrega um novo significado.
Jesus é a melhor coisa
Certamente Asafe, o cantor de Salmos, deve ter experimentado a morte de um ente querido. Mas ele desenhou uma linha na areia; Deus foi quem satisfez sua alma. Ninguém mais poderia comparar. Deus era o captor de sua afeição primária, seu tesouro supremo. Como o salmista, estou aprendendo que Jesus é a melhor coisa.
É tentador lembrar do meu primeiro marido apenas através de memórias cor de rosa. Ele era maravilhoso, mas também era falível. Ele me amava, mas também falhou comigo, assim como eu falhei com ele. No entanto, Jesus nunca falha. Há tesouros incalculáveis nos esperando na eternidade, mas superando todos eles está o próprio Jesus.
“Depois ouvi todas as criaturas existentes no céu, na terra, debaixo da terra e no mar, e tudo o que neles há, que diziam:
‘Àquele que está assentado
no trono
e ao Cordeiro
sejam o louvor, a honra,
a glória e o poder,
para todo o sempre!’” (Ap 5:13)
Somente Jesus foi o Cordeiro imaculado, morto por mim e por você. Somente Jesus poderia satisfazer a justa ira de Deus. Somente Jesus poderia fazer esta mulher morta reviver. (Romanos 3:25; 1 João 2:2, 4:10; Gálatas 2:20)
Jesus, o criador de todas as coisas, é o Senhor Todo-Poderoso. Como diz a canção,
Nosso Deus é o Leão, o Leão de Judá
Ele está rugindo com poder e lutando nossas batalhas
E todo joelho se dobrará diante Dele.1
Ele é o Rei que endireita o mundo, que traz boas novas aos pobres, que une nossos corações partidos, que liberta os cativos e que conforta todos os que choram. Ele é o Restaurador, o Inversor. Ele pegou minha vida esmagada, retorcida e quebrada em pedacinhos e me vestiu com um lindo cocar em vez de cinzas (Isaías 61:1-3). Ele é o Deus que faz brotar magníficos carvalhos onde antes não havia nada além de tocos carbonizados.
E no final, só Jesus pode suportar o peso de ser o tesouro final do meu coração. Todos os outros seriam esmagados pelo peso dessa responsabilidade enquanto minhas expectativas defeituosas se acumulariam em suas costas.
Contemplando a Glória de Jesus
Agora vamos esclarecer: valorizar Cristo acima de tudo não significa que eu amo Jon, ou David, ou meus três preciosos pequeninos menos. Significa que quero que meu amor por Deus seja tão exponencialmente maior, que meu amor por eles pareça insignificante em comparação.
Isso é uma coisa difícil de ouvir, eu sei. É uma coisa difícil de escrever.
Mas descobri que quanto mais conheço a Deus, mais o valorizo. Quanto mais me debruço sobre as realidades da morte e ressurreição de Cristo, mais fico hipnotizada por Ele. Infelizmente, às vezes ainda tento fazer bons tesouros, tesouros supremos. Ainda não estou salva da presença do pecado. Mas estou aprendendo o que é ansiar por Jesus. Anseio pela eternidade porque há Alguém que me cativa de forma abrangente, que vale mais do que todos os tesouros do mundo juntos.
Quando eu estava arrasada, quando ansiava por ir onde Jon estava, ainda assim minha alma se agarrou à essa verdade. Minhas emoções gritavam o oposto, mas o Espírito Santo rompeu a névoa.
“Eis a glória de Jesus!”
Olhando para trás, vejo Sua glória irradiando através daquela reunião de adoração. Uma parte do corpo foi quebrada, então todos foram quebrados – uma comunidade de crentes unidos em luto, mas com as mãos levantadas em rendição. Sua glória ressoou enquanto outros me seguravam. Esta é Sua noiva, a igreja, proclamando corajosamente diante da devastação: “Este não é o fim!” É o que a igreja faz.
E a glória de Deus brilhou quando me abracei a um jovem soluçando, seu corpo tremendo contra o meu. Eu não tinha nada para dar a ele, nenhuma força, nenhum poder para confortá-lo, mas eu sabia de quem nós dois precisávamos.
O céu não é o céu porque Jon está lá. É o céu porque Jesus está.
1 Tradução livre de um trecho da música “The Lion and the Lamb” de Big Daddy Weave.