Na minha adolescência, tornei-me escrava da bulimia. Eu amava e apreciava comida, mas não queria que “os efeitos colaterais” tomassem conta do meu corpo. Como fiquei feliz ao encontrar essa maneira de comer o que eu queria sem consequências — ou assim pensei. Pouco a pouco grande parte da minha vida começou a se concentrar em torno de compulsões alimentares. Tomava decisões específicas sobre com quem eu andaria, o que eu faria, e quando o faria, baseadas no meu crescente vício.
Ninguém sabia, e minha felicidade parecia depender de eles não descobrirem. Vivia para comer desregradamente. Nesses momentos, eu poderia viver sem limites — com a exceção, é claro, das glândulas inchadas, relações tensas, oportunidades desperdiçadas e o sentimento perpétuo de culpa e medo de que seria descoberta. Mas eu podia comer o que quisesse!
Parece loucura, mas eu achava essa vida ótima para mim, e a escolhi vez após vez, mesmo tendo que abrir mão da minha “liberdade”. Porém um dia decidi parar. Li livros, consegui empregos e escolhi cursos de faculdade e pós-graduação, todos com o objetivo principal de aprender a me livrar das cadeias desse vício implacável..
E consegui parar … por um dia, uma semana, às vezes até por meses. Mas o vício nunca ia embora. Quando a vida se tornava muito difícil, me confortava separando um dia para comer à vontade sem interrupções. Quando uma amiga, parente ou qualquer circunstância interrompesse meus planos, a restrição forçada me deixava como uma fera dentro de uma jaula. Por mais que tentasse, só conseguia breves períodos de abstinência. Minha mente e meu coração estavam literalmente obcecados por comida.
Durante minha pós-graduação comecei a me preocupar com a minha alma. Me sentia tão culpada. Sabia que Deus não estava satisfeito com o que eu estava fazendo. Argumentava que mesmo que Ele tolerasse a minha alimentação exagerada e autoindução de vômitos, ele certamente odiava a mentira, o roubo e manipulação que acompanhavam o meu problema. Mas tudo isso era essencial, pois o sigilo me dava a “paz” necessária para continuar no pecado. Que existência absolutamente miserável era a minha!
Depois de concluir a pós-graduação, meu marido e eu começamos a frequentar uma igreja evangélica, e comecei a ler a Bíblia. Eu estava sem emprego, e Deus providenciou uma senhora, cristã, que me contratou para transcrever seus diários pessoais. Ao ler sobre seus próprios fracassos e batalhas com autoindulgência, vi uma diferença inconfundível. A felicidade dela estava em Deus. Minha felicidade estava na comida. Ao lutar com seu problema ela abria mão de sua indulgência pecaminosa por amor a Deus. Ao passo que na minha luta, eu virava as costas para Deus e o Seu caminho por amor à comida.
Só me restava reclamar com Deus. Sentia que eu morreria se parasse permanentemente de praticar a bulimia. Significaria desistir de tudo o que eu amava (embora também odiava) sobre a vida. Não poderia fazer isso. Sabia que não conseguiria.
Nessa mesma época, um pregador visitou a nossa igreja e compartilhou seu testemunho de como o poder de Deus o libertou do pecado da gula. Certamente ninguém prestou mais atenção do que eu naquele dia! Quando ele disse: “Se você quiser parar de pecar, memorize as Escrituras”, comecei imediatamente. Não funcionou da maneira mágica e instantânea que eu esperava, mas o meu desespero era tanto que continuei. Passei hora após hora, dia após dia memorizando, lendo, estudando e meditando sobre as Escrituras. Continuei clamando e implorando a Deus por ajuda, pela libertação.
Meu desejo por libertação aumentou ainda mais à medida que eu observava a beleza de Cristo, a paz e a felicidade que claramente pertenciam a todos que andavam com Ele em liberdade. Mas esse privilégio ainda não era meu. Será que poderia ser? Esperançosa, eu pensava muito sobre isso.
Um dia, ao estudar e meditar na Palavra de Deus, quebrou-se o primeiro de vários elos da cadeia de escravidão que me prendia. Eu sabia que a palavra evangelho significava “boas novas”, mas foi somente neste momento que me ocorreu porque a frase “boas novas” foi usada para descrever a obra de Cristo. Cristo morreu pelo pecado. Por meio de Sua morte, Ele me libertou da pena do pecado. Isso eu sabia. Mas por meio de Sua ressurreição, uma nova vida foi disponibilizada a todos os Seus.
O que eu percebi naquele momento foi que Jesus era Aquele que tinha o poder para me libertar, e Ele faria isso me tornando completamente nova! Eu sabia, por experiência própria e difícil, que jamais poderia lutar contra o poder que a bulimia tinha sobre mim. Seria sua escrava para sempre. Minha única esperança era a possibilidade de que o velho eu morresse e fosse refeito, renascido, e eu seria uma nova pessoa em Cristo.
Quando respondi a Deus pela fé, comecei a experimentar um novo desejo. Antes disso, sempre quis ser livre para poder viver sem obstáculos. Pela primeira vez, eu queria ser livre para poder amar meu Deus e Salvador com todo meu coração e com toda a minha alma — do jeito que Ele merece! Algo tinha realmente mudado.
Então, parei de praticar bulimia daquele dia em diante? Não. Na verdade, traí meu novo Mestre muitas vezes. Mas até o processo do meu fracasso foi incrivelmente diferente. Ele permaneceu fiel a mim. Ele me abençoou tão ricamente durante os momentos que eu passava em Sua presença que comecei a amar a Sua presença. E cativada desta forma, a frequência da minha alimentação exagerada e autoindução de vômitos diminuía, até que um dia percebi que não precisava dessa prática mais. Estava feliz sem ela.
Jamais achei que isso poderia acontecer comigo, mas a verdade me libertou! Jesus se tornou mais importante, mais satisfatório e mais desejoso do que o mais doce, mais atraente dos alimentos!
Isso foi há cerca de quinze anos, e eu ainda estou livre. Na verdade, sou mais livre. Algumas vezes sinto aqueles velhos desejos voltando? Sim. Penso muito em comida? Às vezes. Mas estou experimentando a incrível graça e o poder invencível de Deus, que está me refazendo em todos os sentidos. Porque Ele me libertou e eu ainda estou sendo libertada, sei que um dia serei completamente, totalmente liberta — serei perfeita como Jesus, sem distrações, sem impulsos para o pecado, a fim de servir, adorar e amá-Lo para sempre!
Não passa um dia sequer sem que eu me encante com o que Ele fez por mim. Eu O amo e corro atrás Dele e Seus caminhos porque Ele me libertou. Sim, o evangelho é “boas novas.” É de fato o poder de Deus para a salvação (liberdade)! E sim, agora tenho uma nova obsessão: liberdade para todos em Cristo! “O teu amor é melhor do que a vida! Por isso os meus lábios te exaltarão. A minha alma ficará satisfeita como de rico banquete.” (Salmo 63.3-5)
. . . Parar a prática da bulimia foi apenas o começo de uma vida totalmente nova, mas foi um começo importante. Foi durante este tempo na minha vida que comecei a acreditar que o poder de Deus vai além da minha imaginação. Quero compartilhar alguns pontos que foram úteis para mim durante todo meu processo de libertação.
Creio que o caminho básico para uma mudança é o mesmo, não importa qual seja o hábito ou vício: dependência de Deus, confiar Nele para te ajudar um dia de cada vez, firmar-se no propósito de evitar os “gatilhos”, adicionar rotinas que promovem a saúde, e saturar-se com as verdades bíblicas. Minha batalha pessoal foi com bulimia, então é sobre isso que eu me refiro. No entanto, acredito que esses mesmos princípios podem ser aplicados àqueles que buscam libertação de outros hábitos e vícios destrutivos. Continuo praticando estas mesmas coisas, buscando a Deus por maior libertação de qualquer coisa ou pessoa que queira me dominar.
1. Clame a Deus
Confissão
Se você está em cativeiro, não há caminho para uma completa liberdade, sem ser pelo Seu poder. Deixe-O saber que você está ciente de que precisa Dele, e que você é incapaz de se libertar. Em Sua presença, reconheça que você não merece nada além de punição, pois falhou em amá-Lo acima de todas as outras coisas. Implore por Sua misericórdia.
Honestidade
Diga a Ele, honestamente se puder, que odeia o fato de a comida ter sugado o amor e a energia que deveriam ter sido dedicadas a Ele. Expresse seu desejo de dar a Ele todo o afeto do seu coração. Se você se encontrar apenas repetindo palavras, sem seu coração e sua mente estarem comprometidos, admita isso para Ele. Seja completamente honesta diante do seu Salvador. Honestidade é essencial para a cura. Peça a Deus para revelar a verdade sobre seu próprio coração.
Decepção
Às vezes, podemos supor que, com certeza, queremos ser libertas — seria loucura não querermos nos libertar da escravidão à comida em nossas vidas — e que queremos ser livres para que possamos amar a Deus mais do que qualquer coisa ou pessoa. Mas essas suposições podem ser enganosas. Simplesmente querer ou supor que algo seja verdade não faz com que seja a verdade. Não espere encontrar honestidade e pureza em seu coração. Quando colocarmos nossos corações sob o holofote das Escrituras, geralmente encontraremos uma mistura de desejos e paixões sagrados e profanos.
Sem a Palavra de Deus como nosso “espelho”, não podemos saber o que é realmente verdadeiro em nossos próprios corações. O que devemos fazer quando reconhecemos que, embora desejamos amá-Lo com todo o nosso coração, e estar livre do domínio da bulimia, nos encontramos repetidamente fazendo escolhas que nos levam a excessos na alimentação e vômitos autoinduzidos? E o que vamos fazer quando nos encontramos insistindo, pelo menos mentalmente, que realmente amamos a Deus mais do que a comida, embora estejamos cometendo excessos na alimentação? Pedimos a Deus que purifique nossos corações, e nos mostre o engano. Comece a perceber o que você diz, pensa e faz, especialmente em relação à comida, e coloque-se diante de Deus e Sua luz reveladora.
Petição
Faça essa oração: “Ó Deus, você conhece o meu coração. Quero estar livre da bulimia [ou qualquer que seja o vício pecaminoso]; Quero Te amar com todo meu coração, mas percebo que ainda não O amo. Sei disso porque continuo me apegando ao meu velho “amor”. Você é digno de todo o meu amor. Por amor ao Seu nome, faça-me absolutamente pura em devoção e amor por Ti.” Toda vez que você reconhecer que o seu coração está abrigando uma mistura de desejos e paixões, corra para Aquele que te auxilia e cura. Continue voltando para Ele. Se você vier até Ele desta maneira, reconhecendo e confessando o fracasso, a mistura de motivação e desejo, e comprometendo-se a viver em obediência à Sua Palavra, você receberá ajuda.
Embora seu amor por Ele ainda não seja tudo o que você quer que seja, se é seu objetivo e intenção amá-Lo acima de tudo, você pode ter certeza de que Ele ouvirá e responderá aos seus clamores por libertação.
2. Confie em Deus por hoje
Confie Nele para ajudá-la neste dia a comer saudavelmente e evitar excessos na alimentação e vômitos autoinduzidos. Não diga a si mesma: “Nunca mais vou comer excessivamente e induzir o vômito.” Em vez disso, ore: “Ajude-me, por favor, Senhor, e por meio de Sua graça, vou obedecê-Lo hoje.” Confie Nele para lhe dar a força, perseverança e amor que você precisa para obedecê-Lo hoje. E depois prove sua confiança tomando decisões e fazendo escolhas sobre quais alimentos você comerá, por amor a Ele e usando a Sua Palavra como diretriz. Somos levadas à liberdade e transformadas dia após dia.
3. Evite alimentos “gatilhos”
Certamente existem algumas coisas específicas que você come em excesso — alimentos que você jamais comeria se não estivesse planejando autoinduzir o vômito em seguida. Enquanto você ainda está vulnerável a voltar ao seu velho mestre e “amor” por meio do hábito, você deve esperar para reintroduzir esses alimentos em sua dieta. Talvez você decida nunca mais comer algumas dessas coisas. Coma alimentos que você sente que fazem bem para o seu corpo, e não coma demais.
4. Acrescente exercício à sua rotina diária
Seu objetivo não é apenas parar de praticar excessos na alimentação e a posterior autoindução de vômitos, mas tornar-se saudável porque você pertence a Deus e quer glorificá-Lo fazendo o melhor com tudo que Ele lhe confiou. Além de contribuir para sua saúde física, o exercício também ajudará a energizá-la e motivá-la. Estamos muito mais inclinadas à compulsão de comer em excesso quando nos sentimos lentas ou com pouca energia.
Uma oferta de gratidão
Pense no exercício como sua oferta de ação de graças a Deus. Uma oferta requer sacrifício. Que este “sacrifício” seja uma expressão de agradecimento a Deus por lhe dar a saúde necessária para o exercício.
Aviso
Se você achar que o exercício está se tornando em uma outra forma de “purgar-se”, reconheça, leve o problema a Deus, e lide com ele da mesma maneira você está lidando com a comida. Assim como a comida, “lidar com isso” não significa que você desistiu completamente, mas que você não deve permitir que te “governe”. Temos apenas um Mestre – Cristo, o Rei!
5. Sature-se com a verdade
Memorize as Escrituras (um excelente momento para isso é durante o exercício!) estude, ouça sermões, leia livros para ajudá-la a entender a Palavra de Deus, louve-O por causa das verdades que você está descobrindo. Faça tudo o que puder para colocar as verdades bíblicas dentro de você. “Alimente-se dessas verdades”. “Saboreie essas verdades”. Pense nelas como você pensava sobre comida. Assim como a comida tomou controle de sua vida, agora deixe a Palavra de Deus ultrapassá-la, dando-lhe a prioridade para dominar e governar sua vida.
Persiga seu objetivo
Sua vida está na Palavra de Deus (Deuteronômio 8.3; João 6.63). Procure-O em Sua Palavra acreditando nisso. Persiga-O a fim de viver a vida verdadeira, não desista até possuí-Lo por inteiro! Aos que O procuram, acreditando que o que Ele diz é verdadeiro e, pela fé, agem em obediência à Sua palavra, Ele concederá libertação. Você pode ser liberta da bulimia, e à medida que você continua a procurá-Lo desta forma, você irá vencendo sua batalha contra a escravidão à comida. Você será libertada para amar e servir seu bom Mestre!
Você pode pensar . . .
“Se eu me ‘saturar’ com a Bíblia, realmente serei liberta da bulimia?”
A Palavra de Deus não é uma “varinha mágica”. Não somos tocadas com um “zap” e imediatamente curadas (como eu esperava que acontecesse da primeira vez). A libertação é concedida de acordo com a nossa fé em Deus (a fé é um dom misericordioso de Deus, não algo que fabricamos naturalmente). Devemos nos perguntar: “Creio no que Ele diz?” “Creio que o Seu amor é mais satisfatório do que o mais rico dos alimentos? . . . que encontrarei em Sua presença a medida mais completa de alegria que existe? . . . que Ele é poderoso o suficiente para fazer qualquer coisa? . . . que Ele é sábio e muito bom?”
Acredite em Deus
O conhecimento bíblico em si não liberta ninguém. Muitos memorizaram e estudaram a Palavra de Deus e nunca foram alterados. Você pode lê-la, memorizá-la, e estudá-la, e nunca ser mudada. De acordo com Hebreus 4.2, “Pois as boas novas foram pregadas também a nós, tanto quanto a eles; mas a mensagem que eles ouviram de nada lhes valeu, pois não foi acompanhada de fé por aqueles que a ouviram.”
A mudança, a libertação vem quando você lê, memoriza, e estuda, crendo em Deus. Você não sabe quando ou como Ele fará o que Ele promete, mas você acredita que Ele fará. Você “se apega” a Ele e à Sua Palavra, obedecendo-O porque acredita Nele. Você abre mão do seu controle sobre coisas que você “ama” porque você acredita que o que Ele tem é melhor. “A fé sem obras é morta.” Se dissermos que acreditamos que o amor de Deus é mais satisfatório do que o mais rico dos alimentos, mas ainda planejamos e nos envolvemos em excessos alimentares, onde está a evidência de nossa fé?
Uma fé maior
Talvez você acredite em Deus o suficiente para orar, mas não o suficiente para mudar. Se você se vê sem fé, não acreditando Nele, peça a Deus que lhe ajude crer — peça a misericórdia de uma fé maior. Então comece novamente a obedecê-Lo, acreditando que lhe foi concedida a fé que pediu.
“Será fácil para mim parar com os excessos na alimentação e vômitos autoinduzidos?” Não – não se você está realmente presa. Pode ser mais fácil para algumas do que para outras — dependendo de quão arraigadas estão aos seus velhos hábitos. Os hábitos não mudam sem determinação intencional e comprometimento. Hábitos pecaminosos devem ser quebrados e substituídos. Não espere que isso seja fácil.
6. Aproveite momentos cruciais
É no meio dos momentos mais intensos de tentação — aqueles em que você se sente atraída a fazer aquilo que está acostumada a fazer — que você tem a oportunidade de abraçar e se apegar à graça de Deus para quebrar esses hábitos e ser liberta. Quando sentir aquela velha e familiar atração, pode ter certeza de que vai fazer o que sempre fez a menos que você propositalmente escolha fazer algo diferente. O “algo diferente”, pode ser uma de várias coisas — brincar com seus filhos, orar por alguém, pagar contas, escrever uma carta, dar uma volta . . . Deve ser algo ativo, não apenas mental. Faça algo diferente enquanto depende de Deus, louvando-O e lembrando-se novamente da verdade de que você passou a acreditar: Seu amor é mais satisfatório do que o mais rico dos alimentos!