O tribunal foi encerrado

Eu aprecio ficção jurídica em todas as suas formas – livros, filmes, televisão – mas na realidade, só pus os pés em um tribunal de verdade em uma ocasião: serviço de júri. Não surpreendentemente, o tribunal tinha pouca semelhança com as representações de Hollywood. Sentei-me na galeria, observando os procedimentos que visam impedir o ingresso de indivíduos considerados parciais em um júri de sentença com interesse minguante, imaginando se a gravidez seria uma desculpa aceitável para dar ao juiz caso meu número fosse chamado. Felizmente, eu nunca tive que descobrir. Saí do tribunal algumas horas depois, sem planos de voltar.

No entanto, muitas vezes me pego entrando em outro tipo de tribunal.

Este tribunal reside na minha imaginação, e dentro de seus muros não sou uma mera observadora dos procedimentos. Eu sou a ré. O juiz e o júri são meus pensamentos desenfreados. As provas contra mim? Qualquer coisa que minha carne possa encontrar para me acusar, seja uma palavra, pensamento, ação ou motivo. Na maioria das vezes, o martelo bate, declarando-me culpada da acusação.

Talvez você também esteja familiarizada com este tribunal. É o tribunal das opiniões, tanto as dos outros quanto as minhas. Repleta de dúvidas, autoanálise e vergonha.

Mas temos esperança.

Esse tribunal foi encerrado. Podemos (e devemos!) sair pela porta.

 

O tribunal das opiniões alheias

“Pouco me importa ser julgado por vocês ou por qualquer tribunal humano; de fato, nem eu julgo a mim mesmo.” (1 Coríntios 4.3)

Paulo, enfrentando críticas da igreja que plantou em Corinto, diz a esses cristãos imaturos que se recusa a ser julgado por eles. Se eles querem criticá-lo, isso é problema deles; mas ele não vai deixar que isso o aborreça.

Antes de prosseguirmos, precisamos dar uma paradinha para considerar o que Paulo não quis dizer.

Sair do tribunal das opiniões alheias não significa que não precisamos prestar contas. Paulo não dá a seus leitores permissão para fazer o que quiserem e zombar de qualquer um que ousaria confrontá-los sobre seus pecados. Em muitos lugares ao longo de suas epístolas, Paulo endossa a responsabilidade e rejeita a vida licenciosa.

  • “Irmãos, se alguém for surpreendido em algum pecado, vocês, que são espirituais deverão restaurá-lo com mansidão. Cuide-se, porém, cada um para que também não seja tentado.” (Gálatas 6.1, ênfase acrescentada)
  • “Que diremos então? Continuaremos pecando para que a graça aumente? De maneira nenhuma! Nós, os que morremos para o pecado, como podemos continuar vivendo nele?” (Romanos 6.1-2, ênfase acrescentada)
  • “Tenham uma mesma atitude uns para com os outros. Não sejam orgulhosos, mas estejam dispostos a associar-se a pessoas de posição inferior. Não sejam sábios aos seus próprios olhos.” (Romanos 12.16, ênfase acrescentada)

Paulo, de forma alguma, está dizendo que não precisa que ninguém lhe diga nada e que ele pode fazer o que quiser impunemente. Pelo contrário, Paulo reconhece que não está sendo julgado pelas opiniões dos outros. Ele se apresentará a um Juiz, e é a opinião Dele que importa e a de mais ninguém.

Provavelmente os coríntios criticaram a fala de Paulo, mas o apóstolo diz que ele se preocupa com apenas uma coisa: pregar Jesus Cristo e Ele crucificado (1 Coríntios 2.1-2). Ele veio intencionalmente sem a fala eloquente de um orador habilidoso para que seus ouvintes soubessem que a mensagem tinha poder, não o mensageiro (1 Coríntios 2.4-5). Paulo não afirma ter ministrado perfeitamente aos coríntios, mas ministrou-lhes fielmente. Portanto, não importa o que dizem sobre ele. Ele sabe que fez o que o verdadeiro Juiz lhe pediu.

E você e eu?

Muitas vezes sou indiciada pelas opiniões alheias – mesmo que essas opiniões estejam apenas na minha cabeça. Imagino críticas expressas através do silêncio ou assumo que uma palavra sussurrada era sobre mim. Da mesma forma, lembro-me vividamente da desaprovação real imposta a mim, justificada ou não. Eu gasto muita energia mental analisando conversas e imaginando o que os outros pensam de mim.

Mas o Espírito Santo, através do apóstolo Paulo, me diz para sair deste tribunal.

 

O tribunal das minhas próprias opiniões

Talvez ainda mais perigoso do que o tribunal das opiniões alheias é o tribunal que mantenho das minhas opiniões sobre mim mesma. Mas Paulo fala sobre isso também: “De fato, nem eu julgo a mim mesmo. Embora em nada minha consciência me acuse, nem por isso justifico a mim mesmo; o Senhor é quem me julga.” (1 Coríntios 4.3-4)

Paulo não gasta tempo analisando o que ocorreu em Corinto, torcendo as mãos e se perguntando se deveria ter feito algo de forma diferente. Dado o estado daquela igreja, a dúvida viria naturalmente para a maioria de nós. Mas não para Paulo. Ele não se pergunta se deveria ter ensinado mais sobre casamento e imoralidade. Ele não questiona o que pregou ou agoniza se ele saiu cedo demais. Ele não desce essa ladeira.

Eu gostaria que fosse tão simples para mim.

Ouvimos muito sobre “conversa interna” negativa e positiva. Os “especialistas” nos dizem que se pararmos de falar mal de nós mesmas e começarmos a dizer coisas boas e positivas, a nossa vida mudará. Um artigo afirma que tudo, da vitalidade à resposta imunológica e à satisfação geral com a vida, melhorará.

Certamente, devemos evitar dizer coisas negativas vergonhosas para nós mesmas; no entanto, a resposta bíblica não é transformar o negativo em positivo. O problema com a conversa interna, seja positiva ou negativa, é que ela é egocêntrica. A última coisa que eu preciso é mais de mim.

Considere o que as Escrituras dizem sobre onde nossas mentes deveriam estar:

  • “Como eu amo a tua lei! Medito nela o dia inteiro.” (Salmo 119.97, ênfase acrescentada)
  • Mantenham o pensamento nas coisas do alto, e não nas coisas terrenas.” (Colossenses 3.2, ênfase acrescentada)
  • Pensem bem naquele que suportou tal oposição dos pecadores contra si mesmo, para que vocês não se cansem nem se desanimem.” (Hebreus 12.3, ênfase acrescentada)
  • “Nada façam por ambição egoísta ou por vaidade, mas humildemente considerem os outros superiores a si mesmos. Cada um cuide, não somente dos seus interesses, mas também dos interesses dos outros.” (Filipenses 2.3-4, ênfase acrescentada)

Minhas amigas, a humildade não quer dizer esvaziar seu próprio ego em vez de inflá-lo. Embora muitas vezes atribuída erroneamente a C. S. Lewis, qualquer que seja o autor que disse: “Humildade não é pensar menos de si mesmo; é pensar menos em si mesmo” estava certo.

Precisamos sair do tribunal da autoanalise.

O tribunal que importa

Devemos sair do tribunal das opiniões alheias e até das nossas próprias e viver à luz do único tribunal que importa: “O Senhor é quem me julga.” (1 Coríntios 4.4)

Paulo se submete a um Juiz: o Senhor Jesus Cristo, o Juiz dos vivos e dos mortos. Em certo sentido, esse julgamento ainda está por vir (Apocalipse 20:11-15). No entanto, em outro sentido, já aconteceu.

 

Com três palavras, Cristo encerrou o tribunal: “Está consumado” (João 19.30). Com aquele clamor final da cruz, nosso Salvador pagou o resgate e cumpriu nossa sentença integralmente, ao suportar a ira eterna e infinita de Deus contra todo pecado de todos os tempos. Agora, podemos estar diante Dele justificadas (Romanos 5.1).

 

justificação às vezes é definida “como se eu nunca tivesse pecado”. Essa definição é verdadeira, mas incompleta. Se essa fosse o único sentido da palavra justificação, receberíamos apenas um veredicto de “inocente” no tribunal. Seria uma maravilha da misericórdia de Deus, mas não teríamos a esperança do céu. A definição mais completa de justificação significa que Deus não apenas me vê sem culpa; Ele realmente me vê como inocente. Toda a justiça de Cristo foi creditada em minha conta.

Pense em um devedor perdoado de uma dívida insondável. Ter apenas um balanço limpo mereceria uma grande celebração. Mas agora imagine que esse mesmo devedor não apenas seja liquidado de seu déficit, mas também receba uma fortuna além da medida, um valor maior do que o que ele devia.

Isso é justificação.

E é por isso que Paulo pode oferecer esta promessa: “Portanto, agora já não há condenação para os que estão em Cristo Jesus.” (Romanos 8.1)

E mais essa: “Quem fará alguma acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica.” (Romanos 8.33)

O tribunal for encerrado.  Não há condenação.

Não dos outros.

Não de mi mesma.

Não do próprio Deus.

Se você se identifica com minha luta constante contra as vozes da dúvida e preocupação com o que os outros estão pensando, junte-se a mim para sair desse tribunal.

O veredicto já está dado. Se você conhece a Cristo, você está justificada; não há condenação. Mantenha seus olhos nele.

Sobre o Autor

Cindy Matson

Cindy Matson mora em uma pequena cidade no estado de Minnesota, EUA com o marido, o filho e a filha. Cindy gosta de ler livros, beber café e treinar basquete. Você pode ler mais reflexões dela sobre a Palavra de Deus em biblestudynerd.com.