Orando pelas senhoras do terremoto

Quando Mary Kassian começou a falar durante sua primeira sessão no Revive ’21, me lembrei de uma menina do quinto ano para quem eu tinha dado aulas, anos atrás e de quem nunca me esqueci. Eu a vi caminhando pelo corredor do abrigo de mulheres, olhos baixos, coluna reta. Ela frequentou a sala na qual eu estava ensinando, dentro de um abrigo para crianças que não podiam frequentar uma escola tradicional pelo medo de que seus agressores as encontrassem.

Em seu primeiro dia, aquela menininha entrou na sala de aula com a mochila no ombro, escondendo-se atrás da mãe. A mulher mais velha manteve o cabelo solto sobre o rosto enquanto preenchia o formulário.

Não sei quantos minutos se passaram antes que a mulher finalmente erguesse os olhos e me deixasse ver o hematoma escuro em suas bochechas e o olho que não se abria mais.

Nos primeiros dias, tentamos de todas as maneiras possíveis interagir com a nossa nova aluna. O trauma atinge as crianças de um milhão de maneiras diferentes, mas até aquela preciosa menina ser matriculada, eu nunca tinha visto uma criança tão quieta. Ela cobriu a mesa com desenhos de rostos, olhos escuros que afundavam como crateras na página: grandes, redondos e pretos. Ela se sentou sozinha ao lado da janela, cativada por um lagarto que se escondeu nas sombras.

Lentamente, ela começou a responder às minhas perguntas, um sussurro de cada vez, sua voz suave. Quando ela ficou sem palavras, observamos o lagarto junto com ela. Dentro dela, algo se libertou. Ela começou a falar frases completas no dia em que batizamos o lagarto de “Dewlap”.

Com o tempo, trabalhamos com o material de ciências do quinto ano, essas foram as lições que vieram à minha mente quando a Mary subiu ao palco no Revive. Lembrei-me de ver a garota escrever palavras científicas que ela não conseguia pronunciar, vocabulário com o qual ela estava familiarizada, mas não conseguia definir. Ela escreveu em uma coluna:

impacto

solavanco

estremecimento

devastação

Ela deixou cair o lápis quando o som de uma porta batendo quebrou o silêncio e quando o pegou novamente, ela escreveu a definição de falha geológica.

Como ela chegou a isso? 

No Revive ’21, Mary Kassian explicou que uma falha geológica é uma fratura na superfície da Terra, um lugar onde a rocha está quebrada. Quando a falha geológica se movimenta, ocorre um terremoto.

Violência doméstica, abuso, estupro, nessas áreas todas, a falha geológica se movimentou e o mundo se fragmentou. O mundo não foi criado para se quebrar assim. Como chegamos a isso?

Quando éramos crianças, muitas de nós ouvimos a história de Caim e Abel na Escola Dominical, mas nunca nos concentramos no que aconteceu com Caim depois que o Senhor o puniu por assassinar Abel. A palestra de Mary foi sobre esta parte das Escrituras. Gênesis 4:16 diz: ” Então Caim afastou-se da presença do SENHOR” e a vida começou a mudar. Como Mary explicou, os pais de Caim podem tê-lo criado para seguir o Senhor, mas ele começou a seguir o seu próprio caminho e não o de Deus. Ele rejeitou a autoridade de Deus e contaminou a sua própria carne. Sua prole seguiu seus passos, vivendo uma vida de pecado e depravação, principalmente na área da sexualidade.

No momento em que Gênesis nos apresenta a Lameque, algumas gerações posteriores a Caim, não é surpreendente que ele também tenha se desviado dos desígnios de Deus. Gênesis 4:19 diz que Lameque tomou duas esposas para si e como Mary acrescentou: “quem sabe quantas amantes ele teve”. Em Gênesis 4:23–24, Lameque disse às esposas que prestassem atenção às suas palavras e depois se gabou de ter matado um homem como vingança.

Descrevendo essa passagem, Mary Kassian retratou Lameque: “Meio bêbado. Talvez ele tenha agarrado uma de suas esposas pelos cabelos, puxando-a para perto de seu rosto, para que ela pudesse cheirar seu hálito quente, pútrido e alcoólico e ver seus olhos injetados de sangue e ouvi-lo dizer: Qualquer um que cruzar o meu caminho, querida, vai ter a garganta cortada”.

Lameque era o tipo de homem perverso que, se vivesse hoje, faria com que sua esposa e filha corressem em busca de abrigo, precisando ser resgatadas do comportamento violento dele. Ele era um homem real que viveu no contexto histórico do Antigo Testamento, mas nós vemos esse tipo de comportamento ainda hoje, não é mesmo?

Quando a história se afasta da ostentação de Lameque em Gênesis 4, a narrativa volta para Adão e Eva para apresentar outro personagem que trouxe luz a uma linhagem familiar que precisava desesperadamente de um raio de esperança.

Jesus é o ponto de exclamação

Em Gênesis 4:25, após a morte de Abel, Adão e Eva tiveram um filho chamado Sete. Ele foi contemporâneo de Lameque. Sete teve seu próprio filho, Enos. “Naquela época”, diz Gênesis 4:26, à medida que os filhos de Caim se tornavam cada vez mais perversos, “as pessoas começaram a invocar o nome do Senhor”.

Por quê? “A maldade os deixou desesperados por Deus”. Quando Mary acrescentou este comentário, minha mente voltou-se para a minha ex-aluna. Uma semana depois de se matricular na escola, ela e a mãe desapareceram no meio da noite. Elas estavam desesperadas por segurança. Desesperadas por abrigo. Desesperadas por luz para romper sua escuridão sem fim.

Quando elas deixaram o abrigo, minha aluna não levou nenhum trabalho com ela. Ainda tenho o seu desenho de Dewlap. Quando limpamos sua mesa, me deparei com o vocabulário de ciências que ela nunca terminou de escrever. Ao ler a sua definição de estremecimento falha geológica, me lamentei por nunca ter comunicado a ela que não era a culpada pelo que havia sido feito com ela.

Foi com isso em mente que ouvi Mary compartilhar sobre a genealogia em Gênesis 5, um capítulo que a maioria de nós folheia com frequência. Eu nunca havia pensado ao ler, apenas algumas páginas antes, sobre a maldade sexual que havia se tornado cada vez mais galopante entre as pessoas que Deus fez à Sua imagem. Eu nunca havia pensado no sofrimento das esposas de Lameque, suas vidas devastadas por cada decisão de seguir o caminho de Caim que ele tomou. Nunca havia pensado nas crianças que cresceram sob as suas sombras. 

É nessa parte das Escrituras que Deus dá um vislumbre de luz no final de uma longa linhagem familiar. Como Mary apontou, na genealogia de Adão, o assassino Caim deveria ter sido listado como o filho primogênito, mas o nascimento de Sete apontava para um Filho ainda melhor que viria. Vá para a genealogia em Lucas 3 e siga os indivíduos até o final da página: Jesus Cristo filho de Sete, filho de Adão, filho de Deus.

“Ao final de uma história cheia de loucura, Jesus é o ponto de exclamação” Mary disse.

  • Jesus, que declara a justiça final e completa (Romanos 2:16)
  • Jesus, que absorve a vergonha e o medo (Hebreus 6:18–20)
  • Jesus, que redime a devastação das falhas geológicas mais profundas (1 Pedro 5:10)

“A mulher terremoto”

Muitas de nós nunca experimentamos um terremoto. Lucy Jones sobreviveu ao primeiro quando tinha apenas dois anos de idade. Enquanto o chão balançava, a mãe de Lucy a levou para o corredor e a protegeu com seu corpo. Esse momento moldou toda a vida de Lucy. Ela cresceu e se tornou uma das sismólogas mais influentes do mundo, recebendo o apelido de: “A Mulher do Terremoto”.

No Revive, Mary compartilhou que Lucy agora ensina outros californianos sobre terremotos: “Ela é a voz maternal de cuidado, preocupação e calma a quem eles recorrem sempre que a terra começa a tremer”.

Isso é o que eu espero para a minha ex-aluna do quinto ano: que conforme ela cresça, ela seja conhecida por aqueles ao seu redor como uma “Mulher do Terremoto”. Hoje, não importa onde ela esteja, oro para que ela experimente a proteção de Deus. Oro para que ela não seja arrastada para as trevas por causa do que experimentou, mas que seja uma voz em sua geração, generosa em proclamar histórias de Luz.

Se você também foi impactada pela devastação de falhas geológicas que mudaram do desígnio de Deus para a sexualidade e a moralidade, estou orando por você também. Você pode não ser mais criança, mas pode ser que ainda sinta o chão tremendo, mesmo sendo adulta.

Como Mary compartilhou, você pode se tornar uma mulher do terremoto hoje:

  • Uma mulher do terremoto invoca o nome do Senhor. A maldade deste mundo a torna desesperada por Ele. Ele é a sua salvação.
  • Uma mulher do terremoto torna a sua mente à prova de terremotos e enraizada na verdade. A Palavra de Deus é sua ajuda e seu escudo.
  • Uma mulher do terremoto luta de joelhos contra as forças das trevas do mundo, porque estamos vivendo uma batalha. Ela sabe que Cristo vai vencer no final.
  • Uma mulher do terremoto ajuda amorosamente os outros, esforçando-se para manter o equilíbrio entre a verdade, a compaixão e o amor enquanto se preocupa com os outros.
  • Uma mulher do terremoto sempre aponta as pessoas para Jesus, porque Jesus é o único que tem o poder de recriar e redimir. Ele é o ponto de exclamação no final de sua história.

Que Jesus seja o ponto de exclamação no final de sua história também.

 

Sobre o Autor

Katie Laitkep

Katie trabalhava como professora hospitalar quando Deus a chamou para se juntar ao Revive Our Hearts como escritora da equipe. Ela atua remotamente de Houston, Texas, onde Deus a sustenta por meio de praias de água salgada, das Escrituras e de sua igreja local.