Para a glória de Deus, não tem outro jeito

Disquei lentamente o número que meu marido havia anotado. A mensagem do médico dizia para retornar à ligação o mais rápido possível. Casados há cerca de dezoito meses, agora estávamos sentados lado a lado em nosso apartamento, na única peça de mobília nova que possuíamos, enquanto o médico atendia minha ligação e começava a explicar:

“Encontramos uma massa no centro do seu cérebro.”

Uma tela para a graça divina

Já se passaram vinte anos desde que essas palavras inauguraram uma jornada que incluiu provações, crescimento e oportunidades para conhecer a Deus e revelá-Lo de maneiras que eu jamais poderia ter feito sem aquele tumor.

Já contei essa história de muitas maneiras (posso contá-la em cinco minutos, três horas ou pelo tempo que preferir), para muitas pessoas, em todos os tipos de contextos. Mas essa narrativa é significativa por causa do marco de vinte anos que o Senhor me permitiu alcançar. A Palavra de Deus está cheia de lembretes, das pedras que os israelitas colocaram para lembrar a si próprios e a seus filhos da libertação divina (Josué 4) à Ceia do Senhor (1 Coríntios 11). Portanto, a cada ano, perto da data de minha primeira cirurgia no cérebro, procuro lembrar tudo o que Deus fez e dar a Ele toda a honra e glória.

Os detalhes médicos da minha história servem apenas como uma tela de fundo para tudo o que Deus tem revelado sobre Si mesmo – Seu caráter e Sua verdade – nas últimas duas décadas. Mas você precisa de alguns detalhes para ver essa beleza com mais clareza.

Duas semanas depois daquele telefonema do médico, fiz uma cirurgia de dez horas para remover o tumor de dois centímetros e meio da glândula pineal do meu cérebro. Fora diagnosticado como benigno, o que se confirmou após a cirurgia, mas devido à sua localização, foi difícil removê-lo e obstruía significativamente a fluidez do líquido cérebro espinhal em meu cérebro. Na verdade, mesmo após a retirada do tumor, meu cérebro não reaprendeu como mover esse líquido, então voltei para a mesa de cirurgia cerca de um mês depois para implantar um dreno que escoaria o fluido do meu cérebro para o meu abdômen.

Nos dias que antecederam a minha cirurgia e mais definitivamente nas semanas de recuperação e a segunda cirurgia de emergência, tive uma compreensão mais clara de Deus jamais experimentada em meus vinte e três anos de vida até aquele momento. A primeira coisa que aprendi foi isto: quando você depende completamente de Deus e dos outros para sua saúde e necessidades físicas, você percebe com uma clareza impressionante que é totalmente dependente de Deus para todas as coisas.

Embora eu tivesse entendido minha necessidade de um Salvador quando jovem, minha fé permaneceu bastante superficial até os anos de faculdade. Durante aquele tempo, um depósito das verdades sobre Deus e Sua Palavra foi construído sobre o alicerce de fé da minha infância. O que aprendi sobre o caráter de Deus se tornou minha âncora durante os dias turbulentos desta crise de saúde. Os relacionamentos que eu havia formado de acordo com a Palavra de Deus, particularmente com meu marido, tornaram-se uma fonte de encorajamento e força. O modelo de oração e louvor que pratiquei durante toda a minha vida se aprofundou e cresceu. E descobri que minha “história cerebral” – como minha família e eu amorosamente começamos a chamá-la – me deu muitos tipos de oportunidades para conectar com pessoas e declarar a esperança, a verdade e a glória de Deus nas conversas do dia a dia.

Modelos de verdade

A minha vida foi misericordiosamente preservada por Deus.  Pedi então a Ele que me usasse para trazer nova vida, e Ele me concedeu essa graça. Minha primeira filha nasceu cerca de dois anos após a minha primeira cirurgia, depois tive outra filha, e poucos anos à frente nasceu meu filho.  Durante o tempo que passei grávida, o dreno implantado mexeu muito dentro do meu abdômen.  Quando meu filho estava com 5 meses o dreno parou de funcionar de forma dramática fazendo com que o meu cérebro se enchesse de líquido. Tiveram que perfurar dois orifícios em meu crânio para aliviar a pressão antes de poder substituir o dreno.

A recuperação após essa cirurgia foi um grande desafio, já que eu tinha filhas de quatro e dois anos e um filho de cinco meses para cuidar durante o processo. A combinação da recuperação mental e física daquela cirurgia de emergência junto com as demandas mentais, físicas e espirituais de ser uma jovem mãe foi pesada. Mas eu havia aprendido algumas verdades básicas e um modelo de como reagir durante as minhas cirurgias anteriores.

As verdades básicas? Deus é o autor e criador soberano do mundo e tudo que nele há – inclusive eu (João 1.3-4). Ele está acima de todas as coisas, todas as circunstâncias e todas as pessoas – inclusive eu (Efésios 1.20–22). Dependo Dele em todos os momentos para ter vida, habilidade e compreensão. Não tenho controle da minha vida; eu sou um mordomo da vida (minha e dos meus filhos), saúde, habilidades e compreensão dadas por Deus, criador soberano e autoritário, e eu irei revelá-Lo e declará-Lo para aqueles ao meu redor da maneira que Ele pedir. Passar por um trauma de saúde como uma jovem mãe tornou isso absolutamente inegável para mim.

Meu cérebro e o dreno ficaram estáveis por vários anos. Durante esse tempo mudamos para um novo estado, acrescentamos outro filho à nossa turma e voltamos para Michigan, de onde havíamos partido. Durante a transição para a vida com crianças no ensino fundamental, experimentei alguns sinais de alerta de que meu segundo implante estava falhando. Agradecemos os avisos e a possibilidade desta vez de planejar uma substituição do dreno em vez de uma cirurgia de emergência. Mas complicações surgiram depois que o terceiro dreno foi implantado: experimentei um sangramento cerebral significativo que provocou efeitos cognitivos como confusão, perda de memória, falta de foco e fadiga extrema por alguns meses. Mais uma vez, voltei às verdades e os modelos que havia aprendido em minhas cirurgias anteriores.

Deus é soberano.

Sou totalmente dependente Dele para todas as coisas, em todos os momentos.

Eu sou um mordomo.

Vou revelá-Lo e declará-Lo de todas as formas, para todas as pessoas.

Sou grata e vou louvá-Lo.

A novidade nessa recuperação foi caminhar por ela com crianças que compreendiam muito mais o que estava acontecendo. Meu marido e eu tínhamos de responder a muitas perguntas, fazer muitos ajustes diários, depois explicar e explicar novamente o que estava acontecendo e onde a nossa verdadeira esperança deveria estar. Embora essas conversas muitas vezes fossem difíceis, e às vezes quase impossíveis para mim por causa dos meus desafios cognitivos, também havia uma grande alegria em ver meus filhos compreenderem e confiarem em Deus de novas maneiras.

Minha missão, minha esperança

Já se passaram seis anos desde a última substituição do dreno, e agora chegamos ao vigésimo aniversário do início desta jornada. Nossa família está em outra nova temporada com crianças no ensino fundamental e médio. Nossa filha mais velha está no terceiro ano do ensino médio, fazendo planos para a faculdade e tomando decisões para a vida como uma jovem adulta. Tive alguns sinais de alerta de que este terceiro implante pode estar se aproximando do seu final mas, por enquanto, sou grata por minha boa saúde e por seguir o modelo de confiança e verdade que Deus estabeleceu em mim. Estou impressionada com a bondade de Deus que, em meio a uma época tumultuada em nosso país e no mundo, tem me dado a oportunidade de declarar Suas verdades e confiabilidade.

Eu amo a Palavra de Deus. Eu me apeguei a ela de forma consistente ao longo desta jornada, mas duas passagens em particular se destacam. A primeira é uma descrição da minha missão, inspirada em João 4.39-42: compartilhar meu testemunho com outras pessoas na esperança de que elas vão à Bíblia e ao próprio Cristo para “saber que Ele é realmente o Salvador do mundo. ” A segunda é 2 Coríntios 4. O capítulo inteiro está repleto de propósito e sólidas verdades, mas esses versículos em particular têm sido um alicerce e um trampolim para mim:

“Portanto, visto que temos este ministério pela misericórdia que nos foi dada, não desanimamos. Antes, renunciamos aos procedimentos secretos e vergonhosos; não usamos de engano nem torcemos a palavra de Deus. Pelo contrário, mediante a clara exposição da verdade, recomendamo-nos à consciência de todos, diante de Deus. Mas se o nosso evangelho está encoberto, para os que estão perecendo é que está encoberto. O deus desta era cegou o entendimento dos descrentes, para que não vejam a luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus. Pois não nos pregamos a nós mesmos, mas a Jesus Cristo, o Senhor, e a nós como escravos de vocês, por amor de Jesus.” (2 Coríntios 4.1-5)

“Por isso não desanimamos. Embora exteriormente estejamos a desgastar-nos, interiormente estamos sendo renovados dia após dia, pois os nossos sofrimentos leves e momentâneos estão produzindo para nós uma glória eterna que pesa mais do que todos eles. Assim, fixamos os olhos, não naquilo que se vê, mas no que não se vê, pois o que se vê é transitório, mas o que não se vê é eterno.” (2 Coríntios 4.16-18)

É minha sincera esperança e objetivo que, ao ler minha história, você tenha visto uma revelação do caráter de Deus e Suas verdades. Se você consegue se relacionar com a experiência de traumas pessoais de saúde, os problemas de saúde de um ente querido ou mesmo uma época particularmente difícil da vida, oro para que tenha sido encorajada e estimulada a perseverar. Se você está contemplando algum aspecto de Deus ou da vida como testifiquei aqui, peço que o Espírito Santo possa lhe dar entendimento. Acima de tudo, como você se juntou a mim nesta marca de vinte anos na minha jornada, junte-se a mim para proclamar:

Bendirei o Senhor o tempo todo!

Os meus lábios sempre o louvarão.

Minha alma se gloriará no Senhor;

ouçam os oprimidos e se alegrem.
Proclamem a grandeza do Senhor comigo;

juntos exaltemos o seu nome.

(Salmo 34.1-3)

 

Sobre o Autor

Heidi Jo Fulk

Heidi Jo Fulk deseja conhecer e viver a Palavra de Deus e, então, ensiná-la a outras mulheres e desafiá-las a fazer o mesmo. Heidi e seu marido, Dan, vivem no Michigan com seus quatro filhos, onde ela também lidera o ministério de mulheres de sua igreja.