Às vezes, crio em minha mente uma imagem equivocada de contentamento. Imagino uma disposição bastante despreocupada de alguém que tem sua vida em equilíbrio. Ela não se sente muito sobrecarregada ou incomodada. Ela sabe exatamente a coisa certa a dizer e seus relacionamentos são cheios de encorajamento, respeito mútuo e longas conversas em cafés aconchegantes. Quando os tempos difíceis chegam, ela é durona, sempre capaz de lidar com as dificuldades com um espírito gracioso.
Esta não é a minha vida. Os medos surgem, as circunstâncias difíceis sobrecarregam e os relacionamentos decepcionam. Às vezes fico desanimada simplesmente por estar desanimada. Olho por cima do muro para o contentamento de Paulo com profunda admiração por sua confiança em proclamar: “Aprendi a viver contente em toda e qualquer situação” (Filipenses 4:11).
5 coisas que o contentamento não é
No entanto, quanto mais reflito sobre as cartas de Paulo, mais o Senhor continua a refinar minhas noções incompletas de contentamento. Paulo não é despreocupado, tranquilo e cercado por relacionamentos sem problemas. De fato, considerar o quadro mais amplo do ministério de Paulo me dá uma visão mais completa do que é contentamento ao obter uma visão do que ele não é.
1. O contentamento não é uma existência despreocupada
Contentamento não é ter tudo sob controle e encontrar uma vida de equilíbrio perfeito entre trabalho e lazer. Nem é um momento idílico passado balançando em uma rede, tomando chá doce e lendo um livro em uma tarde fria de outono enquanto todo o mundo ao seu redor desmorona. A descrição de Paul de seu tempo na Ásia provavelmente não entraria no feed do Facebook:
Irmãos, não queremos que vocês desconheçam as tribulações que sofremos na província da Ásia, as quais foram muito além da nossa capacidade de suportar, a ponto de perdermos a esperança da própria vida. (2 Coríntios 1.8)
Oprimido, aflito, desesperado, essas descrições não estão em oposição a uma alma contente.
2. O contentamento não é a ausência de conflitos e angústias relacionais
Paulo teve sua cota de desentendimentos relacionais, mesmo com Barnabé por causa de uma disputa a respeito de Marcos (Atos 15.39). Em meio a profunda afeição, o ministério incluiu angústia relacional:
Pois eu escrevi com grande aflição e angústia de coração, e com muitas lágrimas, não para entristecê-los, mas para que soubessem como é profundo o meu amor por vocês. (2 Coríntios 2.4)
Amar os outros significa que nossos corações estarão angustiados por eles. O contentamento não é uma disposição indiferente para com os outros. Em vez disso, devemos esperar que a profundidade de nosso amor um pelo outro envolva muitas lágrimas e angústia de coração.
3. O contentamento não é uma vida livre de anseios e gemidos em nossa angústia
Quando erroneamente vemos o contentamento como manter uma atitude positiva de Poliana o tempo todo, deixamos de entrar mais profundamente no relacionamento com Jesus. Ele estava com a alma perturbada na véspera de sua crucificação e em agonia orou várias vezes ao Pai por resgate. Paulo descreveu sua própria experiência com uma angústia semelhante:
Enquanto isso, gememos, desejando ser revestidos da nossa habitação celestial. (2 Coríntios 5.2)
Contentamento não significa que estamos livres de desejos, anseios ou circunstâncias dolorosas. Clamar a Deus por alívio não é oposição ao contentamento.
4. O contentamento não é estar livre do medo e da ansiedade
Paulo explicou o estado de suas circunstâncias e turbulência interna em detalhes gritantes:
Pois, quando chegamos à Macedônia, não tivemos nenhum descanso, mas fomos atribulados de toda forma: conflitos externos, temores internos. (2 Coríntios 7.5)
Cinco vezes recebi dos judeus trinta e nove açoites. Três vezes fui golpeado com varas, uma vez apedrejado, três vezes sofri naufrágio, passei uma noite e um dia exposto à fúria do mar. Estive continuamente viajando de uma parte a outra, enfrentei perigos nos rios, perigos de assaltantes, perigos dos meus compatriotas, perigos dos gentios; perigos na cidade, perigos no deserto, perigos no mar e perigos dos falsos irmãos. Trabalhei arduamente; muitas vezes fiquei sem dormir, passei fome e sede, e muitas vezes fiquei em jejum; suportei frio e nudez. Além disso, enfrento diariamente uma pressão interior, a saber, a minha preocupação com todas as igrejas. (2 Coríntios 11.24-28)
Paulo enfrentou o perigo exterior e a ansiedade interior. Ele não escondeu suas lutas, tanto físicas quanto emocionais. Em vez disso, ele compartilhou suas fraquezas, dificuldades e fardos para que pudesse se gloriar ainda mais na força de Cristo (2 Coríntios 4.7).
5. O contentamento não é estar livre da luta contra o pecado
Paulo não estava livre do pecado. Ele odiava suas escolhas pecaminosas e lutou contra elas:
Não entendo o que faço. Pois não faço o que desejo, mas o que odeio. (Romanos 7.15)
Paulo combateu o bom combate. Não foi fácil. A vida cristã é descrita como uma corrida, uma batalha e um parto. Cada um deles denota uma luta ativa (e dolorosa) e não um passeio tranquilo no parque. Lutar diligentemente contra o pecado não se opõe ao contentamento.
O verdadeiro contentamento
Em meio a temores, circunstâncias difíceis e batalhas contra o pecado, Paulo ainda reivindicava contentamento em todas as coisas. Se o contentamento não é uma das coisas que normalmente pensamos que seja, com o que ele se parece?
Jeremias 17.7–8 nos diz:
Mas bendito é o homem
cuja confiança está no SENHOR,
cuja confiança nele está.
Ele será como uma árvore plantada junto às águas
e que estende as suas raízes para o ribeiro.
Ela não temerá quando chegar o calor,
porque as suas folhas estão sempre verdes;
não ficará ansiosa no ano da seca
nem deixará de dar fruto”.
No ano da seca, a árvore plantada junto às águas continua a dar frutos.
O contentamento não é fruto de circunstâncias perfeitas ou de uma constituição calma. É o resultado da confiança no Senhor. Paulo enfrentou medo, ansiedade, perigos físicos e dificuldades no ministério, assim como todos nós. No entanto, ele enfrentou essas lutas em oração, com uma profunda certeza na bondade de Deus.
A realidade da situação espiritual de Paulo provou ser maior do que sua experiência terrena. Da fonte das riquezas celestiais, Paulo viveu uma vida de contentamento terreno. Romanos 8 fornece uma janela para as verdades que trouxeram paz a Paulo em meio a várias provações:
- Paulo se alegrou porque sua situação celestial estava segura.“Portanto, agora já não há condenação para os que estão em Cristo Jesus” (v. 1).
- Paulo colocou sua mente em assuntos espirituais. “A mentalidade da carne é morte, mas a mentalidade do Espírito é vida e paz” (v. 6).
- Paulo entendeu que nada poderia acontecer com ele, exceto o que era, em última análise, para o seu bem.“Sabemos que Deus age em todas as coisas para o bem daqueles que o amam, dos que foram chamados de acordo com o seu propósito” (v. 28).
- Paulo sabia que Deus era por ele.“Que diremos, pois, diante dessas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós? Aquele que não poupou seu próprio Filho, mas o entregou por todos nós, como não nos dará com ele, e de graça, todas as coisas?” (vss. 31–32).
- Paulo confiou no único relacionamento que nunca falharia. “ Pois estou convencido de que nem morte nem vida, nem anjos nem demônios, nem o presente nem o futuro, nem quaisquer poderes, nem altura nem profundidade, nem qualquer outra coisa na criação será capaz de nos separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus, nosso Senhor” (vs. 38–39).
Em meio às reviravoltas da vida, a boa notícia permanece constante: não estamos condenados. O Espírito vive dentro de nós. Deus opera todas as coisas para o nosso bem. Ele é por nós. Nada pode nos separar do amor de Deus.
Nosso mundo (e nossa própria imaginação) continuará a apresentar um sonho impossível de uma vida despreocupada. Se perseguirmos uma miragem de contentamento, nunca a encontraremos. No entanto, confiando em Cristo, encontramos refrigério para nossas almas em meio a sofrimentos, dificuldades e provações. Como Charles Surgeon questionou: “Se Cristo fosse apenas uma cisterna, em breve poderíamos esgotar sua plenitude, mas quem consegue drenar uma fonte?”1
Da fonte das riquezas celestiais flui o verdadeiro contentamento.
Nota: Uma versão deste post foi publicada anteriormente no blog de Melissa em https://www.thegospelcoalition.org/blogs/melissa-kruger/contentment-is-not/
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1 C. H. Spurgeon and Edmond Hez Swem, Spurgeon’s Gold: New Selections from the Works of C.H. Spurgeon. (Washington: Judd & Detweiler, Printers, 1888), 198.