Na manhã de Natal do ano passado, eu não queria sair da cama. Eu estava esgotada de tanto lutar. Exausta. Cansada daquela sensação de “isso não deveria ser assim”. As queridas tradições de família estavam à minha espera, mas não poderiam mudar o caos em minha mente agitada. Meu coração estava em frangalhos e eu sabia que o pior ainda estava por vir. Deitada na cama de solteiro do meu quarto de infância, soltei um suspiro e me enterrei mais a fundo no cobertor de flanela. Então, grandes lágrimas começaram a rolar pelo meu rosto e, de repente, entendi porque dezembro tem um jeitinho especial de dar um soco de tristeza no estômago da gente.
Eu nunca havia experimentado a realidade das celebrações difíceis. Eu só conhecia a deliciosa bondade de uma família que se ama com todas as forças, as cozinhas que tem cheirinho de infância e aquela sensação mágica de se aconchegar na cama na véspera de Natal em suave expectativa. Eu não conhecia o vazio daquela dor que embrulha o estômago na manhã de Natal. Agora eu conheço.
Com as minhas feridas expostas, me sentei sozinha no sofá em frente à árvore de Natal dos meus pais, enfeitada com ornamentos belíssimos. Eu estava um pouco brava, totalmente em choque, desesperadamente triste e fingindo que estava tudo bem. A dor faz isso. Ela nos assusta, então desviamos o olhar e escolhemos o entorpecimento, fingindo que a dor não existe de verdade. Porque, se esquecermos que ela está ali, talvez ela não nos engula por completo.
Colocar um sorriso de “tá tudo bem” e comer um pedaço de pavê no almoço de Natal parece bem melhor do que deixar as lágrimas rolarem à vontade, né? No Natal passado, eu havia enterrado uma quantidade enorme de dor. Eu tinha uma pá bem grande. Consegui me desvencilhar das perguntas assustadoras, coloquei um curativo gigante sobre as minhas feridas e mergulhei nas festividades com todo o meu ser — porque, às vezes, qualquer gostinho de alegria que nos lembra que ainda estamos vivas é um alívio bem-vindo.
Tristeza + Esperança = Natal
Ninguém quer que o seu Natal seja doloroso. Queremos que ele tenha aparência, som, sabor, cheirinho e sensação de bem-estar. Costumamos fugir de tudo o que ameaça matar essa felicidade. É uma reação instintiva. A dor vem nos pegar, nós nos esquivamos e pegamos mais um pedaço do chocotone.
Quer estejamos enterrando a dor bem fundo sob a frieza dos nossos corações e fingindo que ela não existe, quer estejamos estiradas no chão porque não conseguimos nem nos levantar sob o peso insuportável da dor — Jesus sabe. Jesus conhece a sua dor. Jesus sabe da pancada que te destruiu no Natal. Jesus sabe o que fizeram contra você. Jesus sabe como serão os seus Natais futuros. Jesus sabe como curar sua dor. Jesus te conhece, te vê, te ama e não vai parar de te carregar por conta disso. Passar um Natal cheio de tristeza é difícil. Mas o Natal existe para a sua dor. O profeta Isaías nos diz que Jesus entende, mil vezes melhor, a tristeza que esmaga nossos corações — mas nenhuma parte dessa dor foi desperdiçada. Ela nos salvou.
Era desprezado e o mais rejeitado entre os homens, homem de dores e que sabe o que é padecer. E, como um de quem os homens escondem o rosto, era desprezado, e dele não fizemos caso. Certamente ele tomou sobre si as nossas enfermidades e as nossas dores levou sobre si; e nós o considerávamos como aflito, ferido de Deus e oprimido. Mas ele foi traspassado por causa das nossas transgressões e esmagado por causa das nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas feridas fomos sarados (...)
Designaram-lhe a sepultura com os ímpios, mas com o rico esteve na sua morte, embora não tivesse feito injustiça, e nenhum engano fosse encontrado em sua boca. Todavia, ao Senhor agradou esmagá-lo, fazendo-o sofrer. Quando ele der a sua alma como oferta pelo pecado, verá a sua posteridade e prolongará os seus dias; e a vontade do Senhor prosperará nas suas mãos. Ele verá o fruto do trabalho de sua alma e ficará satisfeito. O meu Servo, o Justo, com o seu conhecimento justificará a muitos, porque as iniquidades deles levará sobre si. (Is 53.3-5, 9-11).
Jesus nasceu em um mundo quebrado, com rachaduras causadas pela dor. Jesus viveu neste mundo quebrado. Jesus foi morto por este mundo quebrado. Jesus morreu por este mundo que te dá socos no estômago e te expõe à dor por toda esquina que você passa. Ele sentiu nossa dor. Ele carregou nossas tristezas. Ele foi traspassado. Moído. Morto. Ele sabe.
Com a cruz sobre as costas, nosso Salvador segura nossa dor com uma ternura que vai muito além da nossa capacidade de compreensão. Ao mesmo tempo, Ele carrega toda a esperança de que precisamos. Ele foi traspassado e moído por nós, e são a dor e a morte de Jesus que nos curam.
Esperança extravagante e absurda
Também Isaías diz: "Virá a raiz de Jessé, aquele que se levanta para governar os gentios; nele os gentios esperarão". E o Deus da esperança encha vocês de toda alegria e paz na fé que vocês têm, para que sejam ricos de esperança no poder do Espírito Santo. (Rm 15.12–13)
O Natal enche nossos corações com a esperança mais extraordinária e absurda do mundo — esperança de fazer o queixo cair! Dor que se transforma em cura? Morte que se transforma em vida? O que é isso? É assim que Jesus trabalha. Com olhos repletos de amor, Ele olha para a Sua criança ferida deitada no chão, chorando de dor e cega pelo pecado e oferece uma troca radical que é praticamente ridícula: nossa morte pela Sua vida. Esperança extraordinária, extravagante, exagerada. Esse é o Natal. Porque Jesus vira o nosso mundo de cabeça para baixo com o amor e a esperança do Evangelho, essa é a nossa realidade todos os dias.
Jesus cura coisas quebradas
Talvez você ainda esteja sofrendo, querida. E tudo bem; tudo bem não estar bem neste Natal. Jesus vai te envolver com Seu consolo de uma forma que somente Ele consegue. Ele vai curar o seu coração partido, porque Jesus é Aquele que cura. Ele é Aquele que dá esperança. Ele é Aquele que, com misericórdia, nos permite experimentar a dor e a alegria ao mesmo tempo, até mesmo no Natal. Não faz sentido — como podemos sofrer e encontrar esperança ao mesmo tempo? — mas é para isso que o Natal existe.
Somente em Deus, ó minha alma, espere silenciosa, porque dele vem a minha esperança. Só ele é a minha rocha, a minha salvação e o meu alto refúgio; não serei jamais abalado. De Deus dependem a minha salvação e a minha glória; ele é a minha forte rocha e o meu refúgio. (Sl 62.5–7)
Se você está sofrendo hoje, se está tentando enterrar a dor, ou se está encarando-a de frente, agarre essa esperança de que Jesus cura coisas quebradas e nunca a solte. Aconchegue-se em Seu amor paternal, em Sua ternura que encharca nossas feridas de paz. Com lágrimas nos olhos, você pode dizer: “Jesus, isso dói tanto”. E Ele responderá: “Eu sei. Eu sei melhor do que você jamais saberá. Estou aqui para redimir o que foi destruído”.
Ele sara os que têm o coração quebrantado e trata das feridas deles. (Sl 147.3) (...) e o seu nome será: “Maravilhoso Conselheiro”, “Deus Forte”, “Pai da Eternidade”, “Príncipe da Paz”. (Is 9.6)