Recentemente, eu finalmente voltei ao dentista. O pensamento de ir ao dentista sempre me fez estremecer um pouco, e um dos motivos é devido ao meu refluxo excessivamente sensível. Enquanto eu me deitava na cadeira, estava um pouco esperançosa de que dessa vez seria diferente. Mas quando eles colocaram o dispositivo para radiografia em minha boca, começando pelos meus molares posteriores, rapidamente ficou claro que a náusea estava mais do que ativa. Depois de algumas tentativas frustradas, a técnica disse, “Espere um segundo, vou trazer um pouco de sal para colocar em sua língua. Isso deve neutralizar essa náusea.”
Um pouco cética, mas disposta a tentar qualquer coisa, salpiquei uns grãos de sal em minha língua. Efetivamente, na tentativa seguinte da radiografia eu não tive mais vontade de vomitar. Essa querida técnica em odontologia não podia imaginar o quão profunda foi sua sugestão simples, não apenas porque permitiu que a consulta continuasse sem intercorrências, mas também porque minha mente começou imediatamente a ser preenchida com todos os tipos de realidades espirituais relacionadas ao sal.
A Significância do Sal
Ao longo da história, o sal teve usos incontáveis, desde preservar a carne até limpar panelas (dediquei um momento para pesquisar as várias maneiras que ele pode ser utilizado, e estou bastante impressionada.¹ O sal é mencionado nas escrituras diversas vezes também, desde ser aspergido em sacrifícios (Lv 2.13), a inutilizar a terra (Dt. 29.23), e até ser usado por Jesus como uma metáfora sobre o que deveria marcar nossas vidas (Mt 5.13).
Mas há um versículo em particular que me veio à mente enquanto eu ponderava sobre a minha consulta. Colossenses 4:6 diz, “O seu falar seja sempre agradável e temperado com sal, para que saibam como responder a cada um.”
Eu apenas considerei esse versículo à luz do fato de que o sal faz com que um alimento sem graça fique saboroso, e assim, o torna gostoso de comer. Mas algumas vezes, como naquelas radiografias, o sal pode simplesmente tornar algo tolerável, que, de outra forma nos faria vomitar porque é muito difícil de receber. O sal tem a capacidade não apenas de deixar algo com sabor bom, mas também permite que algo seja tolerado.
É fácil de esquecer o quão repulsiva a verdade pode ser para aqueles que ainda não têm seus olhos espirituais abertos ao evangelho.
O versículo acima está especificamente no contexto de como devemos falar para as “pessoas de fora”, ou incrédulos (Cl 4.5). Como cristãos pode ser difícil de digerir verdades que se deparam com nossa vontade própria a qualquer momento, mas ao fim reconhecemos que o que a Palavra de Deus diz está certo e que precisamos obedecer. No entanto, é fácil de esquecer o quão repulsiva a verdade pode ser para aqueles que ainda não têm seus olhos espirituais abertos ao evangelho. Não vai apenas contra suas preferências e desejos, mas frequentemente vai contra seu estilo de vida e também contra as coisas mais queridas para eles. Não é de admirar que a verdade seja tão ofensiva.
Tenho pensado nisso frequentemente quando leio comentários, opiniões, e declarações na mídia social que—embora as declarações possam ser verdadeiras o suficiente—são tudo, menos “temperadas com sal.” Temperada com inteligência? Sim. Temperada com um soco memorável? Isso também. Mas gracioso? Não muito. Acredite, não sou avessa à verdades duras, seja para recebê-las ou pronunciá-las. Elas são absolutamente necessárias. Mas até eu me encolho com a maneira com que algumas dessas verdades estão sendo apresentadas.
Por outro lado, quando eu leio ou ouço crentes que apresentam verdades incrivelmente difíceis com graciosidade temperada, é restaurador e vivificante. Esse tipo de comunicação requer a sabedoria de Deus e a submissão ao Seu Espírito, isso não é possível sem Ele. Deus pode usar palavras verdadeiras ditas de uma maneira áspera ou indelicada? É claro! Mas a maneira como são ditas podem e irão deixar mágoa desnecessária em seu rastro. É bem melhor que alguém seja impactado pela verdade devido à maneira pela qual a apresentamos do que apesar dela.
A questão é, como vamos temperar nossas palavras com sal?
Como ser sal
1. Sature-se com a Palavra
Jesus disse em Lucas 6.45, “O homem bom tira coisas boas do bom tesouro que está em seu coração. E o homem mau tira coisas más do mal que está em seu coração, porque a sua boca fala do que está cheio o coração."
O que preenche nossos corações certamente sairá de nossas bocas. É claro que é possível conhecer muito das Escrituras sem se submeter a ela. Mas se verdadeiramente amamos a Deus, preencheremos nossas mentes e corações com Sua Palavra a fim de obedecê-Lo e sermos transformadas pela verdade. Como diz Hebreus 4.12, “Pois a palavra de Deus é viva e eficaz,” com a capacidade de transformar nossos corações—e, portanto, nossas palavras—para Sua glória. À medida que nos preparamos para interações e conversas potencialmente delicadas com aqueles de nossas esferas, é absolutamente necessário que estejamos cheias e equipadas com as Escrituras de forma que nossas palavras e comportamento sejam para glorificá-Lo.
Se você não sabe por onde começar, considere ler Tiago e Colossenses. Observe como os crentes são ordenados a se comportar (especificamente como isso se aplica à nossa fala) e como isso contrasta com o comportamento mundano.
2. Ore por Sabedoria
Um de meus versículos favoritos e mais aplicáveis é Tiago 1.5, que diz, “Se algum de vocês tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá livremente, de boa vontade; e lhe será concedida” (NVI).
Que promessa! Nós, como crentes, temos acesso ilimitado à sabedoria de Deus para qualquer situação e conversa. Tudo o que temos de fazer é pedir.
Nossa postura contínua na abordagem de como devemos usar nossas palavras, faladas ou escritas, deve ser um reconhecimento humilde e com súplica de que somente Deus tem o discernimento e o entendimento que precisamos. Isso deve nos manter em dependência contínua perante Ele, dia após dia, à medida que procuramos usar nossas bocas para a glória de Deus.
Tente tornar isso um hábito, fazer uma pausa e orar por sabedoria antes de dar um conselho, responder a uma pergunta, reagir a uma acusação, oferecer conforto, ou qualquer outra circunstância onde você se encontre em uma situação em que palavras cuidadosas sejam necessárias. Deus certamente a concederá quando nos achegarmos a Ele com fé.
3. Pergunte: Com Quem Estou Falando?
Um aspecto interessante de Colossenses 4.6 é a afirmação, “para que saibam como responder a cada um.” Podemos certamente presumir que isso significa que cada resposta irá variar dependendo com quem estamos nos envolvendo. No contexto desse versículo, como mencionei anteriormente, a interação é com os incrédulos, mas eu acho que o princípio pode se aplicar com qualquer pessoa que estivermos falando, seja cristão ou não. Aqui estão algumas coisas a considerar:
- Essa pessoa é temente a Deus?
- Essa pessoa está agindo de forma sincera ou arrogante?
- Qual é a visão de mundo dessa pessoa?
Quando damos um passo atrás e consideramos com quem estamos falando ao invés de simplesmente iniciar nossa interação com eles, isso pode evitar mal-entendidos desnecessários, mágoas, ou até mesmo conflitos.
Quando nos preparamos para falar sobre temas delicados, pode ser fácil entrar de maneira defensiva. Isso provavelmente é verdade para a pessoa com que estamos interagindo. Uma passagem que achei incrivelmente útil é Tiago 1.19-20, “Meus amados irmãos, tenham isto em mente: Sejam todos prontos para ouvir, tardios para falar e tardios para irar-se, pois a ira do homem não produz a justiça de Deus” (NVI). Quando nos preocupamos mais com a pessoa que estamos falando do que em expor nossas opiniões, reservamos um tempo para ouvir, aprender, e então falar com amor, tato e sabedoria. Quando a glória de Deus é mais importante para nós do que estarmos certas ou até mesmo sermos ouvidas, podemos humildemente nos envolver com os outros de uma maneira que seja muito mais produtiva do que poderia ser de outra forma.
Isso significa que não precisaremos falar a verdade abrasiva às vezes? Não. Isso significa que a verdade será sempre aceita? Novamente não. No entanto, independentemente do resultado, podemos nos afastar da conversa (pessoalmente ou online) sabendo que nossas línguas não iniciaram incêndios nocivos causando danos desnecessários (Tiago 3.5).
Especiarias Perfumadas, Aroma Agradável
Por fim, eu quero mencionar mais um versículo que apareceu em minha pesquisa sobre o tema do sal. Há apenas um outro exemplo nas Escrituras quando a frase exata “temperado com sal” é usada, e é em Êxodo 30.34-35, quando Deus está dando instruções a Moisés sobre como preparar os incensos sagrados usados no tabernáculo. E diz,
Disse ainda o Senhor a Moisés: "Junte as seguintes essências: bálsamo, ônica, gálbano e incenso puro, todos em quantidades iguais. E faça um incenso de mistura aromática, obra de perfumista. Temperado com sal, será puro e santo.”
Nossas palavras, como aquele incenso, devem ser oferecidas como um aroma agradável ao Senhor. Nossas línguas devem render-se ao nosso Criador, separada para Sua glória. Esse é um chamado impossível em nossa própria força. Mas Deus é tão fiel. Por causa de Jesus—Sua morte, sepultamento e ressurreição em nosso favor—temos a capacidade de usar nossas palavras como uma adoração ao nosso Criador. Que privilégio surpreendente.
Como tenho certeza de que é verdade para todas nós, falei muitas palavras sem tempero. Podemos ser tentadas a nos desesperar, perder a esperança de que nossas bocas serão um dia santificadas. Mas em vez de dar espaço ao desânimo, voltemos nossos olhos para Cristo. Tudo que precisamos fazer é voltar para Ele em arrependimento e dependência, confiando que Ele vai purificar nossas bocas para serem usadas como instrumentos para justiça nesse mundo sombrio.
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