Bernard Lawrence “Bernie” Madoff.
Nenhum outro nome, exceto talvez o do próprio Ponzi, está mais intimamente ligado ao termo “golpista”. No decorrer de 25 anos, valendo-se de um esquema Ponzi bem elaborado, Madoff defraudou dezenas de milhares de pessoas roubando-lhes bilhões de dólares. O Departamento de Justiça dos Estados Unidos relatou ter distribuído mais de 4 bilhões de dólares a mais de 27 mil vítimas da fraude de Madoff. A profundidade, amplitude e sucesso temporário do seu esquema tem intrigado a muitos desde a sua descoberta 15 anos atrás. No entanto, enquanto histórias assim cativam a nossa atenção, elas também servem para salientar a nossa suscetibilidade a cair em golpes. O que Madoff fez com suas vítimas é inegavelmente horrível e deve nos servir de alerta enquanto procuramos administrar nossas finanças. Porém, esquemas Ponzi, táticas de propaganda enganosa e golpes de internet não são os únicos ardis contra os quais precisamos nos proteger.
Provérbios 29:25 nos alerta acerca de uma armadilha diferente:
“Quem teme ao homem cai em armadilhas, mas quem confia no Senhor está seguro.” (NVI)
Ela atende por muitos nomes diferentes: pressão de grupo, codependência, necessidade de agradar, temor dos homens e desejo de aprovação. Mas qualquer que seja o rótulo que você der, trata-se de idolatria. E cair em suas garras pode causar uma devastação na sua vida. Você está presa nessa armadilha? A seguir, mostro quatro sinais que indicam um possível sim, junto com uma solução muito importante para livrar você dela – toda extraída da narrativa de 1 Samuel 15.
Primeiro sinal: você dá ouvidos a más ideias
“Você tem uma única tarefa.”
Essa é, em essência, a mensagem que o profeta Samuel entrega para Saul na abertura do capítulo 15 de 1 Samuel.
Qual era essa tarefa? Muito simples, na verdade: “Dizimar os amalequitas, junto com todas as suas posses. Não deixar nada e ninguém para trás.”
Entendeu, Saul?
Parece que não. O versículo 9 diz:
“Mas Saul e o exército pouparam Agague e o melhor das ovelhas e dos bois, os bezerros gordos e os cordeiros. Pouparam tudo que era bom, mas a tudo que era desprezível e inútil destruíram por completo.” (1 Samuel 15:9)
Saul e seus homens pensavam que sabiam mais do que Deus. Tenho certeza que eles devem ter concluído que seria um desperdício destruir todo aquele rebanho de valor e não ser capaz de tirar proveito da vida do rei Agague. Essa com certeza não era a intenção de Deus!
As Escrituras não são claras sobre quem foi o autor da ideia de poupar Agague e o melhor das posses dos amalequitas. Pode ter sido Saul. Mas eu suspeito de que ele tenha dado ouvidos às outras pessoas. Afinal de contas, conforme veremos logo adiante, ele é rápido em apontar que a ideia de fazer aquilo foi do povo. Acredito que havia pelo mesmo um pouquinho de verdade naquela declaração.
Quando você está presa na armadilha da aprovação, você começa a dar corda para más ideias. Comumente, associamos esse comportamento a adolescentes, mas vamos admitir: nós, adultos, não somos muito melhores. Talvez você já tenha tido pensamentos desse tipo:
- Todo mundo usa os pronomes de gênero do meu colega de trabalho. Eu deveria usar também.
- Outras pessoas no meu trabalho estão xingando políticos, então não tem nada demais se eu fizer o mesmo.
- As mulheres do meu grupo de estudo bíblico estão reclamando do pastor. Qual o problema em eu reclamar também?
- Meus colegas de trabalho alteraram o cartão de ponto deles. Eles me achariam esquisita se eu não alterasse também.
- Eu não quero ser cancelada, então voltei atrás na minha antiga posição (bíblica) contra a homossexualidade.
Deu para pegar a ideia? Quando você começa a ceder ao discurso do mundo, você está caminhando direto para a armadilha!
Segundo sinal: você começa a se entregar à auto exaltação (ou: você começa a se achar a última bolacha do pacote)
Após Saul ceder ao povo e desobedecer a Deus, ele continua percorrendo o caminho do temor dos homens ao construir um monumento para si mesmo (v. 12). Ele estampa o seu próprio selo de aprovação sobre o que ele fez e então ergue um memorial à sua desobediência. Bem ousado, não?
Imagino que, como eu, você não consiga se imaginar fazendo algo tão petulante e arrogante. Porém, isso não significa que nunca nos inflaríamos para ficarmos bem na fita na frente das outras pessoas. Embora não exista um motivo único para um determinado comportamento, acredito que, com frequência, nossas formas mais sutis de auto exaltação são estimuladas pelo desejo de conseguir a aprovação de olhos que nos observam. Talvez um ou dois desses itens vão soar familiares:
- Recusar-me a deixar que descubram meus momentos vergonhosos.
- Sentir a necessidade de ter a melhor história da roda. (“Você só extraiu dois dentes do siso? Então deixa eu te contar como foi a extração dos meus quatro dentes do siso enquanto eu estava acordada!”)
- Fazer-me parecer bem em toda história que conto.
- Naquele momento oportuno, mencionar o nome de alguém conhecido para mostrar que eu o conheço e me exibir.
- Ficar me mostrando com ares de humildade enquanto converso. (“Ontem, tive que levar meu Rolls Royce para consertar o dispenser de água automático. Foi tão cansativo!”)
Talvez para você não seja o caso de se exibir na frente dos outros, mas sim de se depreciar. De qualquer jeito, o foco continua em você e isso continua levando você para a armadilha do temor dos homens. Em última análise, podemos encontrar a fonte desse comportamento no orgulho. O querido pastor Tim Keller nos ensina como é a verdadeira humildade motivada pelo Evangelho:
Exercer verdadeira humildade cristã significa deixar de associar toda experiência e conversa comigo mesma. Na verdade, eu paro de pensar em mim mesma. É a liberdade que esquecer-se de si mesma traz. O bendito descanso que apenas esquecer-se de si mesma proporciona.
Terceiro sinal: você coloca a culpa nos outros
Quando Samuel entra em cena e adverte Saul por conta da sua desobediência, Saul repetidamente desvia a culpa para “o povo” (vv. 14, 15, 21, 24). Esqueça o fato de que ele é o rei e que a responsabilidade recai sobre as costas dele; foi culpa do “povo”. Eles falaram para poupar o rei. Eles o convenceram a salvar o melhor gado. Ou pelo menos é isso que ele está dizendo.
Mas espera lá. Pensei que Saul queria a aprovação do povo. Por que ele está os culpando agora?
Boa pergunta. A armadilha da aprovação é complicada. Saul queria aprovação de todo mundo, incluindo Samuel. Então, quando foi vantajoso poupar Agague para ganhar a aprovação do povo, foi exatamente isso que ele fez. Quando foi conveniente apontar o dedo para o mesmo povo, foi exatamente isso que ele fez.
Se você tem dificuldade em assumir os seus erros, talvez, assim como Saul, você foi capturado pelo temor dos homens e o seu ídolo da aprovação.
Quarto sinal: você diz aquilo que as pessoas querem ouvir
Saul achou que podia sair da encrenca em que ele se meteu com Samuel. Ele presumiu que, se ele tivesse um motivo “piedoso” para a sua desobediência, o velho poderia lhe dar uma colher de chá. Talvez seja por isso que ele disse:
"Os soldados os trouxeram dos amalequitas; eles pouparam o melhor das ovelhas e dos bois para o sacrificarem ao Senhor seu Deus, mas destruímos totalmente o restante." (1 Samuel 15:15, negrito acrescido).
Não é de surpreender que Samuel não tenha caído na tentativa fuleira de Saul em bancar o religioso. Então, Saul tenta outra tática – o falso arrependimento.
"Pequei", disse Saul. "Violei a ordem do Senhor e as instruções que você me deu. Tive medo dos soldados e lhes atendi. Agora eu lhe imploro, perdoe o meu pecado e volte comigo, para que eu adore o Senhor." (1 Samuel 15:24,25)
Não dá para ouvir a insinceridade tinindo nessa confissão? “Está bem, você me pegou. Me desculpe. Podemos tocar o barco agora?”
Saul não ligava de ter resistido a Deus. Ele só se importava com aquilo que estava em seu caminho. Qual é a sua atitude quando você é confrontada por alguma transgressão? O seu pecado parte o seu coração? Ou você corre para jogar tudo para debaixo do tapete com um pseudo pedido de desculpas? Paulo chama isso de “tristeza segundo o mundo” e garante que isso leva à morte. (2 Cor. 7:9)
A armadilha da aprovação é mortal.
O remédio: contemplar a glória de Deus
Mas existe esperança.
Se você ou alguém que você conhece está preso no laço do temor dos homens, existe esperança. Primeiro Samuel 15 apenas sussurra a fonte da esperança, mas está lá. Veja o versículo 29:
“Aquele que é a Glória de Israel não mente nem se arrepende, pois não é homem para se arrepender." (1 Samuel 15:29, negrito acrescido)
Glória.
Eminência.
Era exatamente isso que Saul estava procurando. Samuel sutilmente o faz recordar que embora ele estivesse usando a coroa, a glória e a eminência não pertencem a ele em última instância. E elas também não pertencem a você ou a mim. Se você está se debatendo no laço do temor dos homens, separe um tempo para considerar a pessoa de Deus.
- Ele é Eterno. Ele sempre foi e sempre será.
- Ele é Imutável. Ele nunca mudou e nunca vai mudar.
- Ele é Todo-Poderoso. Nada é difícil demais para Ele.
- Ele é Onipresente. Você nunca vai conseguir ir para algum lugar onde Ele não esteja.
- Ele é Onisciente. Ele vê seu coração e conhece suas palavras antes mesmo de você pronunciá-las. Ele sabe o fim desde o início.
- Ele tem o Controle absoluto. Nada acontece sem Sua permissão divina.
- Ele é Infinito. Ele não tem barreiras ou limitações.
- Ele é Santo. Ele é diferente de toda a Sua criação. Ele é completamente separado.
Só existe uma saída da armadilha da aprovação – contemplar detidamente aquele que é verdadeiramente glorioso.