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A Transformação de Jackie Hill Perry – Ep1: Um coração ferido

Publicadas: jun 17, 2024

Raquel Anderson: Jackie Hill Perry queria sair do seu estilo de vida como lésbica, mas também sabia que não conseguiria fazer isso sozinha.

Jackie Hill Perry: Parecia uma missão impossível tentar não gostar de mulheres, tentar não me envolver nesses relacionamentos, tentar não explodir de raiva, tentar não assistir pornografia. Tipo, como você para de fazer essas coisas quando obviamente não consegue? Por isso é que eu precisava do Espírito Santo.

Raquel: Este é o Aviva Nossos Corações com Nancy DeMoss Wolgemuth, autora de Mentiras em que as Mulheres Acreditam, na voz de Renata Santos.

Se você tem crianças pequenas em casa, esteja ciente de que os episódios desta semana não são gráficos, mas inclui discussões sobre alguns temas adultos, e que também fala sobre a graça redentora do nosso Salvador.

Porém, talvez você prefira não ouvir este programa na presença de seus filhos pequenos. 

Aqui está Nancy

Nancy DeMoss Wolgemuth: Nossa convidada de hoje é uma mulher a quem eu queria que nosso público conhecesse há muito tempo, e estou muito grata, Jackie Hill Perry, por você estar aqui no estúdio conosco hoje — finalmente! Estamos falando sobre isso há, sei lá, talvez um ano ou mais.

Jackie: Sim.

Nancy: Muito obrigada por estar no Aviva Nossos Corações hoje.

Jackie: Obrigada, Nancy.

Nancy: Jackie Hill Perry — quando te conheci pela primeira vez, você era Jackie Hill.

Jackie: Sim.

Nancy: Seu sobrenome agora inclui Perry.  Vamos conversar um pouco sobre sua jornada.

Jackie é poetisa, palestrante e artista. Você pode encontrá-la no X (antigo Twitter) @JackieHillPerry e também no Instagram . 

Jackie, eu sigo apenas trinta e duas pessoas no Twitter, e você é uma delas porque eu amo seu coração. Amo o que você diz! Amei assistir sua jornada ao longo de vários anos.

Acho que uma das primeiras vezes que comecei a me identificar com você foi por sua franqueza e honestidade.  

Honestamente, eu não entendo muito o movimento hip hop, esse gênero, e na época eu nem sabia o que era sua poesia falada. Agora eu amo! 

Mas comecei a ouvir falar sobre essa mulher que estava noiva desse rapaz, ou eles estavam namorando, e depois ficaram noivos. Vocês estavam documentando isso em vídeo e postando. 

Me lembro de ter sido tão tocada pela sua franqueza, sua honestidade, pelo que Deus estava fazendo em você e em seu noivo, Preston. E, na verdade, nós nos conectamos através do Twitter.

Jackie: Sim.

Nancy: Tenho apreciado muito a sua amizade, e estou tão agradecida por poder compartilhar sua história com nossas ouvintes. 

Vamos passar por várias épocas da sua trajetória, e ver a graça transformadora e o poder de Deus e do evangelho em sua vida. Nosso ministério é sobre isso.

Você e eu provavelmente não poderíamos vir de origens mais diferentes em muitos aspectos, e foi por isso que amei ouvir como o evangelho está vivo e ativo em sua vida.

Jackie: Sim.

Nancy: Então, vamos começar com sua infância… Você cresceu em um lar onde as coisas não seguiam o ideal de Deus. Conta pra gente, o que te vem à mente quando você pensa em família e em sua primeira infância? Quais são algumas das imagens, das palavras que te vêm à mente?

Jackie: Família, mas não a família como Deus pretendia. Acho que crescer e ser criada por uma mãe solteira, só com a minha mãe por perto e tendo um pai super inconsistente, que entrava e saía da minha vida. 

Tipo, ele estava presente por um ano, era consistente, e então desaparecia por um ano ou dois, depois sumia novamente por três.

Mas ver minha mãe sendo a provedora, minha protetora, meu tudo, me fez pensar que as mulheres eram autossuficientes. 

Eu coloquei todos os homens na mesma categoria, baseada em como meu pai me tratava, que todos os homens não eram dignos de confiança, inconsistentes e eram pessoas que usavam mulheres quando as queriam e quando precisavam delas, apenas querendo seus corpos ou conforto ou qualquer coisa que elas pudessem fornecer.

Não era uma vida saudável, mas na verdade eu não tinha ciência disso. Era a vida que eu conhecia. Eu não tinha amigos que tinham ‘pai’. Ninguém tinha ‘pai’! Todo mundo só tinha mãe. Só isso!

Nancy: Então, sua visão do que significava ser um homem e o que significava ser uma mulher foram moldadas por essas experiências de infância.

Jackie: Sim.

Nancy: E como você processava isso em seu coração tão jovem?

Jackie: Acho que pensei que os homens não eram capazes de sentir, de certa forma. Me sentia como uma menininha, com quem o pai não se importava. 

Era como se os homens tivessem o poder de fazer qualquer coisa que quisessem. Nada os afetava, mas eles afetavam os outros. 

Então acho que além da confusão de gênero que eu tinha em minha mente, pensando que eu deveria ser um menino, eu pensava, “Cara, os homens têm o poder de fazer coisas que as mulheres não têm.”

Nancy: Vamos voltar um pouquinho. Confusão de gênero.

Jackie: Sim.

Nancy: Com que idade você se identificou — é claro, tenho certeza de que você não conhecia esse termo — mas você disse que pensava que deveria ter sido um menino ou queria ser um menino? Como foi isso?

Jackie: Pré-escola, primeiro, segundo ano do Ensino Fundamental I.

Nancy: Você poderia descrever esses pensamentos?

Jackie: Eu sentia que não gostava de ser uma menina. Eu não queria usar vestidos. Eu não queria brincar com bonecas. 

Quando eu ia ao banheiro, eu usava o banheiro como eu pensava que os homens usavam. Lembro de tomar banho e minha mãe me dar uma toalha, e eu enrolava a toalha em volta da minha cintura em vez de no peito porque pensava: “Ah, é assim que os homens fazem. Eles enrolam a toalha desse jeito.”

Lembro de beber o refrigerante root beer como eu via os homens beberem cerveja, imitando a masculinidade. E isso foi bem antes do “ser trans” ser um assunto aberto ou popular. Provavelmente foi em 1994. 

Não era “moda” naquela época, e acho que para mim isso foi graça divina, porque eu não fui exposta à ideia de que o que eu estava sentindo era normal, como acontece com as crianças hoje em dia.

Nancy: E isso me intriga porque sua visão dos homens, vinda de seu pai, não era lá muito positiva.

Jackie: Verdade.

Nancy: Então, por que você acha que queria ser um menino?

Jackie: Acho que é o pecado, mas também acho que o pecado se manifestou em: “Os homens têm a capacidade de fazer o que querem e não serem afetados por isso em comparação com as mulheres”. 

Eu presumi que as mulheres eram fracas e vulneráveis à dor de maneiras que os homens não pareciam ser. 

Honestamente, eu só comecei a desconstruir essa ideologia sobre os homens quando me casei, quando vi que meu marido era um ser emocional, mas isso se manifestou de maneiras diferentes. Foi tipo, “Ah, os homens também têm sentimentos!”

Então acho que, eu sentia essa dor, me sentia ferida pelos homens em minha vida e em meu coração, parecia que, para escapar, ou me colocar de um jeito em que eu não sentisse dor, eu precisava ser “quem estava no poder”, e eu achava que os homens eram os que tinham poder sobre as mulheres.

Nancy: Então, quando criança, você tinha esse desejo de ser um menino, como você demonstrava isso?

Jackie: Acho que naquelas pequenas maneiras como eu agia, mas era algo que nunca assumi. Eu nunca contei a ninguém. Acho que nunca falei isso abertamente para as pessoas até minha conversão. 

Não se manifestou de forma predominante até eu começar a viver o estilo de vida lésbico. Comecei a me vestir como um menino, agir como um menino, usar roupas íntimas de menino e imitar os modos de meninos. 

Eu pensava, basicamente, que estava sendo eu mesma, mas, ao mesmo tempo, acho que minha consciência ainda sentia tipo: “Isso não é você. Acho que você não sabe quem você é,” porque na verdade nem eu sabia quem eu era. Eu não acho que, naquela época, eu estava “de bem” com aquilo que Deus me criou para ser.

Nancy: Ok, deixa eu voltar um pouquinho. Você tinha uma tia…

Jackie: Sim.

Nancy: …que te levava à igreja?

Jackie: Sim. Minha mãe trabalhava em um restaurante de fast-food, e ela trabalhava todos os domingos. Então, quando ela trabalhava, eu ficava com minha tia, que era cunhada dela. 

Ela era cristã, então íamos à igreja todos os domingos. Era como se eu fosse criada no cristianismo sem que ele estivesse de fato em minha casa. Eu ouvi falar da morte de Jesus. 

Lembro-me das imagens de Jesus e das pequenas ovelhas e Seu cajado. Mas o que mais me vem à memória é ter ouvido muito sobre Jesus.

Então, mesmo no meio da minha confusão, eu tinha essa consciência de Deus de formas que acho que as crianças ao meu redor não tinham. 

Eu lia — eu sou leitora — então, ainda criança, minha mãe me rodeava de livros. Eu lia livros sobre Jesus sendo judeu e o que isso significava ou sobre ser nascida de novo. 

Eu li toda a série do “Deixados Para Trás” — e isso foi com seis, sete, oito, nove anos. Eu lia muita literatura cristã. Era curioso para mim, essa ideia de Deus como Criador, nós como sua criação e o que isso significava para mim.

Nancy: E ainda, internamente, você lutava com o que estava acontecendo, que não era apenas o desejo de ser um menino ou pensar que você se identificava mais com isso, mas você também mencionou sua atração pelo mesmo sexo durante esses anos.

Jackie: Sim.

Nancy: Você falou sobre isso com alguém?

Jackie: Não.

Nancy: Mas o que estava acontecendo dentro da cabeça e do coração da Jackie?

Jackie: Não me lembro quando começou. Eu sei que foi antes do terceiro ano do Ensino Fundamental I, quando comecei a perceber que gostava tanto de meninas quanto de meninos. 

Lembro-me de estar no parquinho da escola e eu e algumas meninas fazíamos umas “coisas”.

Eu não entendia de onde vinha isso. Acho que em conversas como essas, muitas vezes alguém pode dizer, “Fui abusada,” e “Não tive pai,” e então isso aconteceu. Eu fui abusada e eu não tive pai, mas não acho que essas foram as principais formas pelas quais a atração pelo mesmo sexo se desenvolveu.

Acho que foi o pecado mesmo. Entende o que estou dizendo? Acho que essas coisas ampliaram o que já estava lá. 

Mas, desde muito jovem, eu senti que gostava de meninas, e não sabia o que fazer com isso. Eu sabia que era errado. Antes de ler a Bíblia, eu sentia que isso era algo para esconder; eu jamais poderia me abrir com as pessoas sobre isso

Então, especialmente quando eu ia à igreja e ouvia que essas pessoas iriam parar no inferno, porque foi assim que foi comunicado, era tipo, “Ah, vou ficar quietinha sobre tudo isso porque vai dar ruim!”

Mas eu não sabia o que fazer com isso. “Na moral”, eu não sabia! Eu estava super confusa!

Nancy: Então, sua consciência estava dizendo: “Isso está errado.”

Jackie: Sim.

Nancy: E outra parte de você estava dizendo: “Faça isso. Está tudo bem.”

Jackie: Sim.

Nancy: Curiosamente, se você tivesse essa experiência de infância nos dias de hoje, provavelmente teria sido…

Jackie: Provavelmente eu teria começado mais cedo do que comecei, porque acho que eu não tinha um nome para isso, nem tinha uma ideia de como minha suposta “gayzice” deveria parecer. 

Eu realmente não entendia nada sobre relacionamentos lésbicos até começar a assistir à MTV.

Lembro de ver na MTV um casal de lésbicas — eu devia estar no ensino médio nessa época— e foi tipo: “Ah, é assim que eu sou! Entendi!” 

Foi como se a mídia ajudasse a moldar uma parte de mim que eu nem bem entendia nem conhecia.

Nancy: E isso provavelmente está acontecendo muito hoje em dia.

Jackie: Com certeza.

Nancy: Você não precisa apenas da MTV.

Jackie: Não.

Nancy: Basta ligar o noticiário, e você pode obter ajuda com isso.

Jackie: Sim, ou o Google.

Nancy: Jackie, você foi abusada quando criança?

Jackie: Sim.

Nancy: Isso era algo que acontecia continuamente?

Jackie: Aconteceu duas vezes na casa de um amigo da minha família. Ele não era adulto. Eu devia ter uns seis anos. Ele devia ter uns doze ou treze anos. 

É claro que ele sabia que não deveria estar fazendo aquilo, mas eu não sabia que aquilo era abuso. Eu só achava que estava fazendo o que ele me mandava fazer.

Eu não reconheci que o que aconteceu comigo era errado e prejudicial até mais tarde na vida, quando assisti a um programa da Oprah. 

Uma garota estava descrevendo algo que aconteceu com ela, e ela usou o termo “molestar”, e eu desabei. Eu pensei, “Isso aconteceu comigo!” Eu era uma criança muito sexualizada e não entendia o porquê. 

Para mim, era tipo, “Ah, fui exposta a algo ao que não deveria ter sido exposta muito cedo.” 

Você mistura abuso, ausência de pai, ser criada por mãe solteira, pornografia e confusão de gênero e você tem… o quê? Eu!

Eu era o caos em pessoa!

Nancy: Como você se envolveu com pornografia?

Jackie: TV a cabo. Eu tinha TV a cabo no meu quarto. E nas casas das pessoas, eu ia lá e elas tinham cabo. Eu sabia em que canal sintonizar e em que horário seria exibido. Eu assistia o tempo todo quando estava fora de casa.

Nancy: Você tinha alguma amiga no ensino médio que você sabia que era gay? Quando você começou a ter uma categoria para isso?

Jackie: No ensino médio as pessoas eram muito mais abertas sobre sua sexualidade. Havia meninas que eram gays, mas não era “moda” naquela época. Foi provavelmente há mais de vinte anos. Não era tão aceitável ser gay.

Mas a parte engraçada é que quando comecei a explorar a “gayzice” ou o lesbianismo, isso veio por meio de alguém que conheci no ensino médio que era gay. 

Ela veio para cima de mim. Eu já tinha amizade com ela. Então foi alguém que eu conhecia que me apresentou a esse universo e me fez querer ir atrás, porque eu nunca teria me metido nisso sozinha. Acho que precisava ser convidada.

Nancy: E esse primeiro convite veio quando?

Jackie: No ensino médio. Eu estava no último ano. Eu tinha dezessete anos. Ela veio até mim e disse: “Jackie, quando você vai ser minha namorada?” 

Eu fiquei, tipo, “Credo, tipo, isso é gay,” porque eu tinha que agir como se não gostasse. Quando ela disse isso, eu agi como se não fosse assim que eu me sentia, que não era uma coisa que eu queria fazer.

Mas quando cheguei em casa, sentei no meu quarto e pensei sobre isso por um bom tempo. “Vou seguir por esse caminho? Vou fazer isso? Esta é sua única chance. É melhor pelo menos tentar.” 

Foi como se eu estivesse pensando nisso nos últimos dezessete anos da minha vida e como isso era algo que eu queria fazer, então por que não? Então resolvi, “Sim. Vamos ver no que dá.”

Nancy: E o que aconteceu?

Jackie: Eu mandei uma mensagem para ela no Orkut, porque o Orkut estava na moda na época. 

Então, engatamos um relacionamento. Foi interessante porque quando nos beijamos pela primeira vez, não pareceu estranho. Não pareceu que eu estava fazendo algo estranho. Parecia, tipo: “Ah, eu deveria ter feito isso já há muito tempo.”

Ela me disse: “Jackie, você sempre foi gay.” Pelo jeito que eu agia, era como se… Então, para mim, acho que essa experiência solidificou o que eu pensava sobre minha identidade, que é, “Eu sou uma pessoa gay.”

Nancy: Eu sei que para muitas de nossas ouvintes. Isso é…

Jackie: Forte!

Nancy: Talvez seja um pouco fora da zona de conforto para algumas.

Jackie: Sim.

Nancy: Acho que muitas de nossas ouvintes provavelmente nunca tiveram uma conversa franca, cara a cara como esta, e pode parecer estranho ou desconfortável. 

Mas acho que é realmente importante que comecemos a ouvir e entender o que está acontecendo nos corações das pessoas, porque acontece em todas as famílias, em todas as igrejas — talvez não em todas, mas é muito mais comum do que se pensa.

Em vez de ter medo de falar sobre isso, ou dizer: “Não vamos falar sobre isso”… Obviamente, ouvintes que têm crianças pequenas, há um momento e lugar apropriados para serem expostos a esse tipo de história.

Jackie: Sim.

Nancy: Esse é um assunto tão fora do meu próprio contexto, mas acho extremamente útil falar sobre isso. 

Não para, de forma alguma, dramatizar ou glamourizar o pecado. É para entender como o inimigo trabalha e que tipo de mentiras as pessoas acreditam que podem acabar as levando por um caminho que não é o melhor de Deus para elas, que é o inimigo indo atrás delas.

Então, você teve a sua primeira experiência de como é essa vida lésbica, e estava se sentindo bem. Estava se sentindo normal. Quais foram os próximos passos depois disso?

Jackie: Nós ficamos juntas por alguns dias. 

Eu disse para mim mesma, “Ok, acho que vou tentar voltar para os “caras”, porque eu sei que Deus não gosta de gays. Deixa eu tentar ser heterossexual.” 

Então tentei ter um relacionamento com esse cara, e quando nos beijamos, foi nojento para mim. Era alguém que eu já tinha beijado antes, mas foi tipo, “Eu acho que sou gay, porque não gosto disso. Não gosto dele. Não gosto da masculinidade dele. Não gosto da virilidade dele.”

Então eu busquei outro relacionamento com outra mulher, e a partir daí entrei em um relacionamento de quase dois anos com essa outra mulher. 

E tudo isso ainda era segredo. Ninguém sabia, exceto uma pessoa na época. Minha mãe não sabia. Minha família não sabia. Meus amigos não sabiam, porque não era aceitável. Eu não queria passar vergonha.

No meu relacionamento com essa moça foi quando eu me transformei em “dominante”. Existem definições e papéis diferentes, em certo sentido, para “dominante” na comunidade gay negra e na comunidade gay branca. 

Então, na comunidade negra, “dominante” é uma mulher que se veste como um homem, meio que desempenha o papel de um homem. Em comunidades brancas, isso pode ser chamado também de “butch”. 

Quando comecei a me vestir assim, foi interessante porque comecei a chamar a atenção das mulheres de maneiras que nunca havia chamado dos homens. Foi como se as mulheres gostassem de mim e me quisessem. 

Então foi tipo, “Caramba, eu nunca me senti tão afirmada! Nunca me senti desejada assim pelos homens.” 

Então, as roupas, embora fossem confortáveis, também eram um meio de eu sentir amor, ou era isso que eu pensava. Eu mergulhei de cabeça nesse mundo e passei a ser assim, mas também isso me expôs muito mais rápido porque o fato é que você se parece com como você se sente.

Nancy: Então teve alguém em sua vida que dissesse: “O que está acontecendo aqui? 

Jackie: Minha mãe. Quer saber como ela descobriu? Acho que foi coisa de Deus. Estávamos no carro…

Nancy: Sua mãe, que não tinha um relacionamento com Cristo?

Jackie: Sim. Estávamos no carro. Ela estava ouvindo o rádio, e naquele programa estavam pedindo para as mães contarem sobre como descobriram que suas filhas eram gays, e quais eram os sinais, e todos os sinais eram: eu.

Eu estava sentada no carro, pensando: “Meu, por que estão falando sobre isso justo quando eu estou no carro?”

E ela olhou para mim e disse: “É você?”

E eu disse, “sim”, e chorei porque me senti assustada por ela saber sobre essa parte de mim.

Nosso relacionamento mudou de várias maneiras. Ela começou a me tratar como… Bom, as amigas que eu tinha, ela não as via mais como amigas; eram, em potencial, todas as mulheres com quem eu estava envolvida. 

Mas ao mesmo tempo em que eu estava saindo do armário como lésbica, eu também estava me tornando mais rebelde. 

Eu estava fumando maconha, roubando, sendo presa — todo esse tipo de coisa. Então nosso relacionamento estava em crise há tempo.

Nancy: Você conhecia alguma mulher cristã que você respeitasse, que você admirasse, ou que estava ministrando em sua vida de alguma forma? Ou era apenas um mundo totalmente diferente para você?

Jackie: Não. Nesse período eu não fui “evangelizada”, não tive qualquer comunicação com cristãos. 

Uma ocasião que me lembro que tocou meu coração foi quando eu estava em um evento, e minha amiga Taylor estava contando seu testemunho sobre o que Deus fez na vida dela. Ela começou a chorar e se emocionar sobre como Deus é bom, e como ela o ama, e como Ele é bom e misericordioso e fiel.

Eu lembro que achei tão estranho alguém chorar por Deus. Foi como, “Quem é este Deus para você ter tanta emoção sobre Ele?” 

Eu via Deus como, tipo, um chefe sobre as pessoas, e isso significava parar de ouvir certas músicas, começar a usar vestidos longos e ir à igreja o tempo todo. 

Mas o relacionamento dela com Ele parecia tão autêntico e tão bom para ela que me convenceu do meu pecado. Me convenceu de que, “Claramente eu não olho para Deus da mesma maneira que você olha.”

Mas ela era a única cristã com quem eu provavelmente interagia com certa frequência.

Nancy: Que lembrete maravilhoso de que, mesmo estando tão distante do Senhor, Ele ainda está ativo. Ele está vivo. Muitas vezes Ele está plantando sementes em suas vidas que talvez desconhecemos. 

Você pode ter um filho ou uma filha que está longe do Senhor, mas você não sabe quem Deus pode estar trazendo à vida dele ou dela para criar algum tipo de apetite ou fome pelo Senhor.

Então você continuou nesse estilo de vida lésbico. Você estava gostando?

Jackie: Eu me diverti, se é que posso chamar assim. Eu gostava das mulheres. Eu gostava do que sentia que elas me traziam porque quando penso na minha infância, meu pai não estava na minha vida, mas minha mãe estava! 

Então eu gostava de pessoas que se comunicavam comigo do jeito que a minha mãe fazia. Eu gostava da parte de cuidar. Eu gostava da preocupação. Parecia que, quando eu tinha relacionamentos com homens, tudo sempre girava em torno de sexo. Era como se todos só me quisessem pelo meu corpo.

Mas quando eu estava com mulheres, parecia que elas só me queriam como pessoa, quem eu era, minha mente, meu intelecto, meu humor, apenas eu, mesmo eu não sendo quem eu era realmente ao me comportar como um homem.

Então, esse aspecto eu gostava. Mas, no meio de tudo isso, eu nunca tive paz. Nunca, nunca tive paz! Minha consciência nunca me permitia ficar bem com o que eu fazia, a ponto de sempre dizer para minhas namoradas: 

“Você sabe que Deus não está feliz com isso, né?”

Elas diziam: “Como assim?”

Eu dizia: “Deus não gosta disso. Ele não está bem com isso.”

E então elas perguntavam: “Por que você é gay então?”

Eu respondia: “Eu vou ser salva quando tiver vinte e sete anos.” 

Eu costumava dizer que eu seria salva quando tivesse vinte e sete anos ou quando a grande tribulação acontecesse. Acho que Deus não permitiu que minha consciência se endurecesse. É nítido que Ele realmente me perseguiu por muito tempo.

Nancy: Quais foram algumas evidências de que Ele estava te perseguindo?

Jackie: Acho que a consciência de que meu pecado não era Okay. Mesmo que eu estivesse cercada de pessoas que estavam tentando justificar isso com a Bíblia, para mim estava claro na Palavra que isso não era correto perante Deus.

Nancy: Quais tipos de pessoas estavam tentando justificar isso com as Escrituras?

Jackie: Minhas amigas gays diziam que nasceram gays, que os cristãos interpretam as Escrituras de forma errada, tipo assim. Eu sentia que estavam mentindo. Era como, “Acho que você está tentando usar as Escrituras para se sentir melhor consigo mesma.”

Era como se eu soubesse que não estava tudo bem com Deus. Eu sabia que iria para o inferno se morresse. Eu estava convencida disso. Eu simplesmente não sabia como não agir conforme a minha natureza. Como é que você para de fazer isso?

Eu tentei parar de “pecar” várias vezes, e nunca deu certo. Eu recitei a oração do pecador. Li livros. Nada parecia funcionar. Então eu sentia, “Não consigo viver como uma cristã”, porque eu não sabia que o cristianismo era uma obra sobrenatural do Espírito de Deus por meio da graça. 

Eu não tinha ideia disso. Eu pensava que os cristãos eram pessoas que só paravam de fazer coisas ruins. E quando tentei parar de fazer coisas ruins, não deu certo, então eu achei que era melhor só continuar pecando mesmo.

Nancy: Então não era como se o que você estava fazendo fosse ruim e errado, também tinha um aspecto natural, normal?

Jackie: Sim, é impossível parar. Parecia uma missão impossível tentar não gostar de mulheres, tentar não me envolver nesses relacionamentos, tentar não explodir de raiva, tentar não assistir pornografia. Tipo, como você para de fazer essas coisas quando obviamente não consegue? Por isso é que eu precisava do Espírito Santo.

Nancy: Então, você diz que o Senhor estava te perseguindo.

Jackie: Sim.

Nancy: Ele obviamente estava de olho em você o tempo todo.

Jackie: Sim.

Nancy: Como você se tornou consciente disso?

Jackie: Minhas convicções começaram a aumentar uns seis meses antes da minha conversão. Parecia que não era tão fácil agir como se elas não existissem. Ainda me lembro de fazer coisas com meninas e… eu sentia um conflito interno. 

Eu sentia como se Deus estivesse perto. Isso meio que me assustou. Mas eu sentia essa consciência de Deus, e sentia como se Ele estivesse falando ao meu coração.

Minha amiga Taylor, aquela que mencionei sobre o testemunho dela com o Senhor, lembro-me dela escrevendo para mim na minha caixa de entrada do Facebook. Ela disse: “Jackie, você é linda.”

Eu não ouvia que era bonita daquela maneira feminina há anos. Então, alguém usar um atributo feminino a meu respeito mexeu muito comigo . 

Liguei para minha prima Keisha e disse: “Keisha, sinto que Deus está me chamando, mas eu não quero nada com Ele. Eu não quero ser cristã. Eu não quero parar de ir aos clubes. Eu não quero parar de beber. Eu não quero parar de fazer o que estou fazendo. Mas sinto que não consigo me livrar desse Deus.”

E ela disse: “Você sabe de uma coisa? Deus te ama, e Ele vai te salvar, mas antes Ele vai te mostrar que você precisa Dele.”

Na boa, eu não sabia o que ela queria dizer com isso. Eu achava que fosse, tipo, papo de crente. Mas Ele fez exatamente o que ela falou. 

Pouco depois disso, meu pai morreu. Quando ele morreu, isso não me fez querer buscar a Deus nem mais nem menos, mas meio que “matou” aquela ideia no meu coração de que nós um dia teríamos algum tipo de relacionamento.

Quando ele morreu, foi quando comecei a me envolver em todo o tipo de coisa louca. Eu disse a uma das minhas amigas: “Será que Deus me quer tanto assim?” Tive essa conversa enquanto estava fumando maconha com alguém.  

Eu disse: “Sinto como se Deus… será que Ele realmente está tentando me fazer precisar Dele? Porque eu simplesmente não entendo.”

Isso culminou em outubro de 2008, quando finalmente entreguei minha vida a Jesus.

Raquel: Jackie Hill Perry tem uma história incrível sobre o encontro da liberdade, plenitude e abundância em Cristo. Ela estará compartilhando sua jornada ao longo desta semana aqui no Aviva Nossos Corações. Ela também escreveu um livro, compartilhando um pouco mais sobre a sua história. O livro chama-se “Garota gay, bom Deus – a história de quem eu era e de quem Ele sempre foi” disponível no nosso site.

Talvez você conheça alguém que esteja lutando com algumas das mesmas questões ou dúvidas que Jackie esteve. 

Você pode indicar este programa a qualquer pessoa que precise ouvi-lo, visitando www.avivanossoscoracoes.com 

Lá você pode compartilhar o áudio ou a transcrição deste podcast. Você pode também receber esses podcasts diariamente pelo WhatsApp, o que é ainda mais fácil de compartilhar. Para se unir a um grupo de WhatsApp e receber os podcasts diariamente clique no link aqui na transcrição ou no nosso site. 

Após se converter a Cristo e deixar o estilo de vida gay, Jackie Hill Perry conheceu uma mulher que começou a discipulá-la na verdade do evangelho.

Jackie: Ela me disse: “Jackie, a homossexualidade não é o seu único problema. O orgulho é um problema. O medo é um problema. A cobiça é um problema. O zelo é um problema. Você precisa aprender a deixar Deus ser Senhor em tudo, não apenas em sua sexualidade.”

Raquel: Ouça sobre esse relacionamento de mentoria amanhã no Aviva Nossos Corações.

Continuamos com o desafio de 30 dias de oração pelos filhos pródigos que começamos semana passada. Não deixe de participar deste desafio. Clique no link no final desta transcrição para ingressar no grupo do WhatsApp do Aviva Nossos Corações e receber um conteúdo guiado para te inspirar a orar por essa pessoa.

WhatsApp: Desafio de 30 dias de oração pelos filhos pródigos

O Aviva Nossos Corações é o ministério em língua portuguesa do Revive Our Hearts com Nancy DeMoss Wolgemuth, chamando as mulheres à liberdade, à plenitude e à abundância em Cristo.

Clique aqui para o original em inglês.