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De Transgênero a Transformada, com Laura Perry – Ep3: Projetada e Definida por Deus

Publicadas: jun 13, 2024

Raquel: Se você estiver com crianças pequenas por perto, sugiro que você as direcione para outra atividade, que ouça este episódio com fones de ouvido ou em outro ambiente, devido ao conteúdo que iremos abordar.

Para Laura Perry, retransicionar, deixar de viver como homem, voltando a ser a mulher que Deus a criou para ser, foi um processo gradual. Ela diz que a Escritura foi crucial nessa jornada.

Laura Perry: E assim, à medida que Deus derramava Sua Palavra em mim, eu ficava cada vez mais convencida. Percebi, depois de um tempo, que não podia simplesmente distorcer um ou dois versículos para encaixá-los no que eu acreditava. Toda a Bíblia me dizia que eu não poderia ser transgênero!

Raquel: Este é o podcast Aviva Nossos Corações com Nancy DeMoss Wolgemuth, coautora  de Mulher, sua verdadeira feminilidade: Design Divino, na voz de Renata Santos e Dannah Gresh, na voz de Raquel Anderson.

Nancy DeMoss Wolgemuth: Hoje em dia, você provavelmente tem ouvido termos como “disforia de gênero” e “transgenerismo” aparecendo muito em suas mídias sociais e feeds de notícias. 

Ao lermos esses termos, é fácil esquecer que há pessoas por trás das estatísticas, pessoas por trás desses termos… É fácil até que envolva um amigo ou um membro da sua família.

Esta semana estamos ouvindo Laura Perry, que passou cerca de uma década vivendo como “Jake”, com a identidade de um homem. 

No episódio passado, a mãe da Laura, Francine, compartilhou a dor que sentiu e o que aprendeu enquanto caminhava por esse momento doloroso.

Se você perdeu qualquer um dos últimos programas, você pode ouvi-los no nosso site www.avivanossoscoracoes.com. 

Gostaria de enfatizar que é importante abordarmos esses assuntos de uma perspectiva bíblica. É aí que encontramos a verdade, e a verdade não é apenas certa e verdadeira, é também boa e bela.

Queremos aprender a alinhar nosso pensamento com o que Deus diz ser verdadeiro e correto, ao invés daquilo que é tantas vezes promovido através da mídia ou através de nossas outras instituições humanas. 

A Escritura diz em Gênesis 1.27 que “Deus criou o homem à sua própria imagem… macho e fêmea ele os criou.” E então, alguns versículos depois, Deus diz que Sua Criação foi “muito boa” (v. 31).

Então, como essa verdade se aplica a  situações quando alguém que Deus fez para ser mulher diz: “Eu não me sinto mulher. Sinto que sou um homem”, ou diz: “Não quero ser mulher. Quero ser homem.”? 

É correto alguém tentar fazer mudanças físicas para alterar seu gênero? Ou Deus nos programou com certas características que não podemos mudar, por mais que nos esforcemos?

Essas são apenas algumas das perguntas difíceis que Dannah Gresh e Laura Perry abordam hoje no Aviva Nossos Corações.  O episódio de hoje será um pouco mais longo do que o normal, mas tenho certeza que você será abençoada e encorajada com essa conversa fascinante e importante.

Raquel: Hoje vamos falar sobre um tema muito sensível e difícil, e de muita polêmica na nossa cultura. 

Nosso objetivo é chegar ao cerne do que a Palavra de Deus diz sobre gênero, disforia de gênero e transgenerismo. 

Nancy e Mary Kassian escreveram o livro “Mulher: sua Verdadeira Feminilidade: Design Divino” para abordar a pergunta: “Quem devemos ser como mulheres?” e “Quem os homens devem ser como homens?” E este certamente é um tópico super atual: Quem somos nós como mulheres e homens?

Recebi ontem uma carta de uma mãe de uma menina de doze anos que foi orientada pela professora a ler um livro, sobre um menino que sabia que era uma menina presa dentro de um corpo de menino. 

Acho que sei o título desse livro; está circulando em muitas escolas públicas agora (não vou citar o nome). A mãe escreveu o seguinte:

“Ela trouxe esse livro para casa e me mostrou. Eu disse: ‘De forma nenhuma!’ e gentilmente enviei um e-mail para sua professora pedindo outra opção para leitura.

A professora disse que minha filha seria retirada do clube do livro se não o lesse. A professora, então, disse que ela teria que encontrar outro livro para ler sobre questões sociais e um parceiro para ler com ela.”

Acho que é extremamente importante que orientemos os pais sobre a resposta adequada frente a uma situação como esta, e qual é a resposta do evangelho a ser dada ao invés da resposta precipitada. 

Eles devem correr para a diretoria da escola? Boicotar a escola? Devem tirar o filho da escola? Devem deixar o filho ler o livro e ser exposto? “Em algum momento essa criança será exposta mesmo!”

É um conjunto muito complexo de questões e nossa convidada de hoje entende deste assunto. Ela é alguém que vocês vêm nos incentivando a ter no Aviva Nossos Corações há muito tempo. 

Sinto que há muitas credenciais que poderia citar aqui… entre elas é que ela é uma escritora. Na verdade, eu quero ressaltar um ponto principal em sua biografia hoje, e é o seguinte: Laura Perry é uma mulher incrível de Deus! Olá,  Laura, bem-vinda ao Aviva Nossos Corações.

Laura: Muito obrigada por me receber! Eu fiquei emocionada só de ouvir esse comentário a respeito de mim, que essa é quem eu sou – uma mulher de Deus! Porque há alguns anos eu não tinha nenhum tipo de prazer em ouvir isso.

Raquel: Sim, diga-nos, há alguns anos, qual rótulo você teria preferido?

Laura: Olha, eu estava vivendo como um homem, e eu preferiria ser chamada de “homem de Deus”.

Raquel: Algumas pessoas não diriam que você é uma mulher de Deus agora. Eu declaro que você é acredito que é isso que o Deus Pai declara sobre você hoje. 

Mas algumas pessoas podem chamá-la de “homem anteriormente transgênero destransgênero”. Uau! Muitas palavras; precisamos de uma lição de vocabulário… e rápido!

Laura: Certo! É engraçado como algumas pessoas dizem algo assim, e então algumas delas declaram que eu nunca fui realmente trans. E elas farão qualquer coisa para dizer algo diferente da verdade, que é: que eu era uma mulher, fingi ser um homem e agora reivindiquei quem eu realmente sou em Cristo e quem Deus me fez para ser.

Raquel: Para quem não é familiar com este assunto, ajude-nos a entender o termo “transgênero“.

Laura: Bem, transgênero realmente é um termo bem abrangente que mudou ao longo dos anos. Inicialmente, nos anos 70 e 80, era chamado de “travesti”, que significava um homem se vestindo de mulher ou uma mulher se vestindo de homem. Muitas vezes incluindo cirurgias e outras transições médicas.

Transgênero, no entanto, tornou-se uma espécie de termo mais suave e preferível. Não carrega tanto estigma, e agora engloba todos os tipos de coisas. 

Realmente, a teologia que usam em relação a isso não faz muito sentido. É sempre contraditória.Estão sempre falando sobre como a sexualidade é firme e fixa e não pode ser mudada. 

Essa é uma das razões pelas quais eles não gostam que ninguém sugira o contrário ou ofereça ajuda ou aconselhamento. Mas, ainda assim, dizem que “o gênero é completamente fluido”. 

Portanto há um conflito de todos dizendo que gênero é o que você faz e é o que você sente: “Hoje eu me sinto um homem, e amanhã eu posso me sentir como uma mulher”. E, no entanto, a realidade é que você não pode ser as duas coisas.

Raquel: Então, Laura, ouvimos sua história nessas duas últimas transmissões do Aviva Nossos Corações, como foi a transição de ser Laura para ser “Jake”. Laura foi o nome que seus pais lhe deram; Jake foi o nome que você escolheu para si mesma.

Quando você “fez a transição”, você acreditava que ser homem era a sua identidade; que era “quem você era”. Você se sentia um homem. Você sentia que deveria ter um gênero diferente daquele que seu corpo indicava quando você nasceu.

Laura: Certo, e eu me lembro de ter tido essa conversa com meus pais no início, quando eu me assumi, e eles me lembraram da verdade de que eles sabiam quem eu era. 

Lembro de saber que essa era a realidade, mas não queria que fosse verdade. Continuei tendo que me convencer de que eu era um homem.

Eu olho para trás agora, e apesar de na época eu ter abraçado esse estilo de vida, ter acreditado profundamente que eu fosse um homem preso no corpo de uma mulher (exatamente como se diz nesta cultura), quando eu volto e penso em alguns meses, um ano ou mais antes de existir esse pensamento, eu percebo que, na verdade, tinha inveja dos homens. Eu odiava ser mulher e por isso rejeitava ser mulher.

Mas quanto mais eu abraçava essa ideia de que eu poderia me tornar um homem, mais eu acreditava que essa era a minha verdade.

Raquel: Você sempre odiou ser mulher?

Laura: Sim, desde muito cedo. Aconteceram muitas coisas ao longo dos anos que reforçaram isso. Acho que a raiva realmente chegou ao ápice ao perceber o quanto eu era maltratada por homens. 

Porém, esse sentimento não era somente no âmbito pessoal, mas incluía a forma como os homens falavam das mulheres, o jeito como eles nos tratavam. 

Era como se ser “mulher” tivesse acabado de se tornar essa coisa horrível de ser. Eu sentia que era uma maldição ser mulher. 

Sentia que Deus criou os homens, e então as mulheres foram Suas sobras que Ele criou para reproduzir os homens. Eu não via valor em ser mulher. É como se eu tivesse essa lente nos olhos de que eu deveria ser um menino, e então cada experiência na vida era filtrada através dessa lente.

Raquel: Laura, o que você está descrevendo é o que os psicólogos chamam de “disforia de gênero”.  Disforia de gênero é quando uma mulher está em desacordo com seu corpo físico.  

Ela se sente alienada de suas porções sexuais e biológicas, e experimenta sofrimento clinicamente significativo – sofrimento psicológico – por ser mulher e, ao invés disso, desejar ser homem.

Mary Kassian nos fala que essa palavra “disforia” vem de duas palavras gregas que significam “difícil de suportar”. É um profundo sentimento de desconforto ou insatisfação com quem você é, com seu corpo e sua identidade. 

Ela viveu isso um pouco quando criança. Ela tinha cinco irmãos e queria ser “um dos meninos”, então se tornou uma moleca.

Mas tenho certeza de que ela não experimentou a insatisfação de ser menina tão profundamente quanto você. Quando você percebeu que seu gênero “não se encaixava”, que você era disfórica de gênero, que ser mulher era algo muito difícil para você suportar?

Laura: Mesmo na infância eu vivia nesse mundo de fantasia. Quando eu tinha uns oito anos, comecei a escrever histórias sobre ser um menino. Eu jogava videogame o tempo todo, fingindo ser esses personagens masculinos. Eu nunca tinha ouvido a palavra “transgênero”.

A gente esquece, eu acho, o quanto a cultura mudou de lá pra cá, mas quando eu estava crescendo, eu não ouvia ninguém falando sobre esse assunto. 

Eu nunca tinha pensado, na verdade, em fazer a transição para o sexo oposto. Isso era apenas uma espécie de fantasia, um desejo. Eu sabia que tinha inveja dos meninos. Eu tinha raiva de Deus por ter me feito menina.

Aos vinte e cinco anos, eu já tinha passado por inúmeros relacionamentos tóxicos e estava vivendo em todos os tipos de pecado sexual. 

Eu tinha um vício horrível em pornografia e, quando a pornografia deixou de ser suficiente, comecei a conhecer homens aleatoriamente online. Eu estava desesperada para que os homens me amassem. 

Quando esses relacionamentos obviamente não davam certo e eu percebia como todos eles me deixavam tão destruída, eu pensei, “Sabe, a razão pela qual eu nunca sou feliz nesses encontros, a razão disso nunca funcionar é porque eu deveria ser o homem! Se eu fosse o homem, mostraria a eles como uma mulher deve ser tratada!”

Raquel: Quando você disse “eu queria ser amada”, isso chamou minha atenção. Não é isso que todas queremos? Queremos isso tão desesperadamente! Estou pensando em um versículo agora, Provérbios 19.22, “O que se deseja ver num homem é amor perene; melhor é ser pobre do que mentiroso.” (NVI)

Eu sempre pensava: Que combinação estranha! —melhor ser pobre do que mentiroso? Bem, é melhor não ter e dizer: “Eu realmente preciso ser amado”, do que simplesmente procurar amor em todos os lugares errados e nunca ficar realmente satisfeita, nunca ficar realmente plena.

Acho que se você olhar no Antigo Testamento, na maioria das vezes quando se fala sobre amor inabalável ou amor infalível, a fonte é Deus. Mas geralmente não é onde procuramos, e certamente não foi em Deus que você procurou por esse amor. 

Laura: Sim! Esse é um ótimo ponto para qualquer jovem que esteja nos ouvindo. Eu passei por todo tipo de pecado sexual que você poderia pensar, e é tão insatisfatório. 

Antes de entrar para o transgenerismo, entrei em um site de relacionamento adulto e me tornei quase como uma prostituta sem sequer ser paga por isso. Eu saía com todos aqueles homens desconhecidos. 

Lembro que sempre havia uma empolgação e uma expectativa e, “Talvez esse cara me queira!”. Só que depois eu me sentia tão suja e envergonhada quando ia embora. 

E a volta para casa era simplesmente horrível, porque a culpa e a humilhação vinham sobre mim. Eu me sentia como a pior das piores pessoas, como se eu não tivesse importância ou valor. Sentia que eu era só usada e descartada.

Raquel: Temos isso em comum, porque eu já estive nessa situação, nesse mesmo lugar, onde usei indevidamente o dom divino do sexo antes de me casar. 

Realmente foi uma experiência vazia. Sabe, acho que é porque quando experimentamos o presente sexual fora do design sonhado por Deus, que é um homem/uma mulher nos limites do casamento, então esse dom se torna uma falsificação! Não é o que era pra ser.

Há duas palavras diferentes usadas no Antigo Testamento para intimidade entre marido e mulher. Uma palavra é sobre saber/ conhecer; trata-se de intimidade; é sobre conectividade. 

Depois, há outra palavra no Antigo Testamento que fala sobre o pecado sexual. Significa basicamente trocar fluidos corporais (eca!). É simplesmente uma falsificação. Você ficou presa no físico e não chegou ao emocional. Você não conseguiu o que realmente estava procurando.

Acho que quando tentamos preencher essa necessidade de amor com homens ou mulheres ou pornografia ou conexões vazias de qualquer tipo, isso nunca vai satisfazer! 

Nunca vai ser suficiente. Isso sempre vai levar ao vício e a um desejo por mais, porque não encontramos o que estávamos procurando. É uma mentira.

Laura: Sim, com certeza. Na verdade, esse é um ponto interessante a se tratar, porque nunca foi suficiente! E você sempre quer que seja mais emocionante e mais provocativo. Mesmo com a pornografia, era um buraco negro.  

Lembro que, por fim, no último ano em que eu estava assistindo pornografia, eu tinha tanta vergonha das coisas que estava vendo. Eu pensava, “Não dá pra acreditar que eu cheguei a esse nível!” O problema é que a gente sempre precisa de uma emoção maior.

Raquel: Então, Laura, você chegou ao ponto de decidir: “Ok, chega de ser mulher! Vou abandonar essa vida e vou me tornar um homem!” Conte-nos sobre esse processo. O que aconteceu naquele momento?”

Laura: Olha, começou justamente com esse desespero pra deixar de ser mulher. Eu ainda não tinha ouvido a palavra “transgênero”, mas eu estava desesperada pra, de alguma forma, consertar essa fragilidade em mim, e eu não tinha desejo nenhum de ser mulher.

E então eu literalmente procurei no Google: “Menina virando menino”, só para ver o que apareceria. Fiquei impressionada com a quantidade de resultados que surgiram! E isso aconteceu em 2007, ou seja, foi bem antes desse assunto se tornar comum na grande mídia. 

Descobri que havia um grupo de apoio local em Tulsa, e pensei: “Uau, é exatamente assim que eu sou!” Fui à primeira reunião do grupo de apoio e, cinco minutos depois de me conhecerem, eles disseram: “Ah, você é definitivamente trans!”

Raquel: Nossa, foi um diagnóstico bem rápido!

Laura: Certamente! E claro, o líder e todos naquela sala eram trans, então, é claro, eles queriam me ‘afirmar’ e dizer: “Sim, você é trans”, porque todos eles querem essa afirmação para si mesmos. 

Quanto mais pessoas você conseguir para afirmar suas decisões, melhor você se sentirá em relação a elas e a si mesma.

E aí começa um ciclo de: você fica em dúvida sobre essa questão, então você se fortalece através das afirmações de outras pessoas, e aí elas te reafirmam. E daqui a pouco voltam as dúvidas e o ciclo continua.

Raquel: Quantos anos você tinha?

Laura: Eu tinha vinte e cinco anos. Lembro que, a certo ponto da conversa com esse grupo de apoio, eu estava muito preocupada em nunca parecer um homem. E eles disseram: “Ah, não se preocupa com isso! Em um ano ou mais tomando hormônios, ninguém vai nem saber que você já foi uma menina!” E esse foi o anzol que realmente fisgou o peixe.

Era isso que eu queria ouvir a vida toda. Era como se eu pudesse me reinventar completamente. Mas o que é surpreendente para mim é que esta é uma falsificação tão barata do inimigo. 

Meu amigo, Dr. Everett Piper, foi o primeiro a me trazer isso à mente. Ele teve uma influência enorme na minha vida; eu o ouvia no rádio.

Em um de seus discursos, ele disse que todos nós temos o desejo de ser alguém que não somos, de ser recriados, porque devemos nascer de novo, porque estamos nessa natureza caída, e não percebemos isso. Temos o desejo de ser alguém maior do que somos. 

Mas Satanás está tentando nos vender essa falsificação barata de que podemos recriar a nós mesmas, quando o que precisamos é de Jesus para nos dar vida, para nos restaurar a quem fomos criadas e destinadas a ser.

Raquel: Que pensamento profundo: todos nós temos o desejo de ser algo que não somos, porque Deus quer nos redimir, nos tornar o que Ele originalmente pretendia que fôssemos. Amo isso!

Eu amo o pensamento atrelado a isso. A Bíblia diz que, “Portanto, se alguém está em Cristo, é uma nova criação. As coisas antigas já passaram; eis que surgiram coisas novas.” (2 Coríntios 5.17). Era isso que você procurava, não é, Laura? Era algo que você queria deixar para trás.

Laura: Sim!

Raquel: É interessante! Sabia que teve um Dia de Conscientização Destrans, que foi promovido e discutido no Twitter, onde muitas pessoas trans que haviam retransicionado estavam falando sobre suas experiências?

Muitas delas trouxeram a ideia de que a razão pela qual haviam feito a transição era porque estavam tentando colocar um curativo de outro tipo numa ferida profunda e dolorosa.  

Elas haviam experimentado algum tipo de trauma ou abuso sexual, problemas de saúde mental ou tinham um ódio profundo por seus corpos.

Em outras palavras, havia algo muito mais profundo acontecendo em seus corações que mudar seus corpos não resolveria.  Você concordaria com isso?

Laura: Sim, com certeza! Há uma ferida profunda, desmedida. Baseia-se na auto rejeição. É por qualquer motivo: “Eu não gosto de mim. Não gosto de quem fui criada para ser. Eu não gosto de quem eu sou, então vou reinventar alguém que não sente essa dor, que as pessoas não odeiem. Vou ser alguém que as pessoas amam!”

E na minha cabeça, as pessoas amavam os homens. As mulheres não eram amadas; mulheres eram usadas e descartadas.

Raquel: Ouvimos isso o tempo todo. Existem várias culturas e ambientes em que as mulheres são extremamente maltratadas e subestimadas. 

O movimento feminista nos diz que há um sistema patriarcal altamente arraigado que dá vantagem aos homens e trata as mulheres como o segundo sexo.

Essas mensagens são comuns e nós as ouvimos o tempo todo e, de alguma forma, elas criaram raízes em você em um nível muito profundo.

Laura: Sim, eu lembro que ainda na época da faculdade eu estava conversando com uma amiga minha sobre minhas opiniões a respeito das mulheres. 

Eu estava rebaixando e degradando totalmente as mulheres, e eu me lembro de ter pensado: “Pera aí, eu sou uma mulher!”  (Isso foi antes de eu fazer a transição.) Eu tinha me tornado basicamente uma mulher machista, que odeia mulheres!

Eu tinha desenvolvido, por causa de experiências da infância e depois das coisas pelas quais passei na adolescência, e depois reforcei isso com a maneira como ouço homens falarem sobre mulheres há anos… Eu acabei desenvolvendo um profundo ódio pelas mulheres.

Raquel: Sim, é interessante, e eu estou abismada com o fato de você poder entrar em um grupo de apoio trans e em cinco minutos eles te diagnosticarem e dizerem: “Isso vai resolver todos os seus problemas!” e fazer isso soar como algo normal.

Você tinha essa antipatia extrema, quase ódio, pelas mulheres que não é muito politicamente correto em nossa cultura, se assim posso dizer! 

Por que alguém não disse: “Temos que consertar essa garota! Tem algo de errado com ela!” Por exemplo: “Precisamos ajudá-la a entender o valor das mulheres, mesmo que ela não queira ser uma”. Por que isso não fazia parte da conversa?

Laura: Acho que isso volta à questão sobre como eles têm que se auto afirmar. Você não quer invalidar a transição de outra pessoa, porque isso pode levantar dúvidas sobre o fato de que talvez você também não seja trans. Assim, ao afirmarem a outros como trans, reforçam sua própria ideologia e sua própria crença em si mesmos como trans, porque ninguém quer encarar o sofrimento.

É difícil enfrentar a dor, e eu não queria tentar consertar essa menina ferida, porque eu achava que ela não tinha valor. Eu precisava ser outra pessoa. 

Acho que parte dos primeiros anos, quando eu já queria ser meu irmão quando criança, aconteceu algo que realmente reforçou essa ideia de que mulher não era boa, quando eu tinha oito anos de idade. Fui molestada por um menino que era apenas um ano mais velho do que eu.

Você se lembra da história de Tamar, em 2 Samuel 13, quando ela foi estuprada por seu meio-irmão Amnon, e depois disso ele a desprezou e não queria mais nada com ela?

Foi assim com esse garoto que tinha me molestado. Ele não me rejeitou completamente a esse nível, mas ele realmente não ficou mais comigo depois disso. Existia esse sentimento de rejeição e eu pensava: “Ah, tá! Você me envolveu nesse relacionamento e agora tá me jogando fora”.

Eu sentia que os homens tinham todo o poder na relação, como se a garota não tivesse voz nenhuma. E então, quando entrei no ensino médio, eu namorava todos aqueles caras, mas era sempre rejeitada e descartada no final. 

Minha visão era: “A mulher não tem poder! Estou completamente sujeita a um homem me querer ou não!”

Raquel: Quantas mulheres você conheceu na comunidade trans, que estavam fazendo a transição para o sexo masculino? Você acha que tiveram experiências realmente dolorosas com homens assim?

Laura: Infelizmente, eu nem sei, porque a gente nunca conversava sobre isso. A gente conversava sobre nossas vidas, na maioria das vezes, como se elas tivessem começado depois da “transição”. 

De vez em quando a gente falava muito vagamente sobre a infância, mas não com tanta frequência. E isso principalmente no contexto de “como nossos pais tinham tanto ódio por nós”. Mas era raro falarmos sobre nossa própria dor.

Raquel: Conte-me sobre seus pais.

Laura: Eu cresci em uma família cristã. Quando olho para trás, vejo que eles eram muito, muito diferentes. Acho que é porque eles expressavam amor de forma tão diferente. 

Em retrospectiva, agora eu sei  que minha mãe me amava. Ela fez muito por mim. Ela simplesmente se matava tentando fazer coisas por mim, mas ela nunca passou muito tempo comigo.

Ela estava sempre meio querendo que eu fosse embora e a deixasse em paz, para que ela trabalhasse. Ela era muito movida pelo trabalho, ao passo que meu pai passava muito mais tempo comigo. 

Meu pai brincava comigo quase todas as noites. Ele ia a todos os jogos de futebol e a todas as competições de natação. Ele investiu uma grande parte do seu tempo comigo.

Na verdade, se ele tivesse que ir a uma loja de autopeças, ele voltava para casa, me buscava e me levava com ele. Aí ele anunciava para quem estivesse na loja que eu era o anjinho dele. Então, havia essa diferença extrema na maneira como meus pais demonstravam amor por mim.

Reconheço agora que ambas as formas são expressão de amor, mas foram recebidas de formas tão diferentes. 

Na minha interpretação, a minha mãe não me amava, porque ela não estava investindo o tempo dela comigo assim como o meu pai fazia.

Raquel: Então você entrou em uma comunidade trans onde te disseram que, se você fizesse a transição, seria a resposta para a sua dor e você seria feliz. Foi quando você decidiu que faria a transição. Me diga quais foram seus primeiros passos nessa jornada?

Laura: Bom, em primeiro lugar, eu tive que começar indo a uma psicóloga. Eu não tinha nenhum interesse em aconselhamento, mas isso era uma exigência legal na época para iniciar a transição. 

Eu tive três sessões obrigatórias com essa terapeuta, e na terceira sessão ela abaixou o caderno, olhou bem nos meus olhos e disse: “Uau! Você tem muitos problemas com sua mãe!”

Fiquei tão atordoada. Eu pensava: “Como é que fomos de eu falar sobre ser homem para falar da minha mãe?” Eu não conseguia ver a conexão! Fiquei com muita raiva. Eu meio que explodi com ela, e eu disse: “Não estou aqui para falar da minha mãe!”

E ela respondeu: “Então, você só quer esse diagnóstico”?

Eu disse: “Sim! É só para isso que estou aqui!”

E então ela disse: “Tudo bem”, e ela simplesmente me deu o que eu queria, me deu esse diagnóstico de “Transtorno de Identidade de Gênero”, que era como era chamado antes  dos ativistas mudarem para “disforia de gênero”.

Na verdade, isso estava declarado no site do DSM, (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders), que eram os padrões de cuidados para a transição. 

Foram os ativistas que pressionaram para mudar a classificação para disforia de gênero, porque não gostavam que fosse chamado de “transtorno mental”.

Descobri anos depois que ela nem sequer me diagnosticou oficialmente. Eu não sabia disso na época. Ela me deu uma carta afirmando que eu tinha sido diagnosticada com Transtorno de Identidade de Gênero, mas ela nunca  entregou um diagnóstico oficial.

Quando comecei a tomar testosterona, minha voz começou a ficar mais baixa e começaram a crescer pelos faciais. No início, essas mudanças foram super empolgantes. Cada pequena mudança era uma afirmação de: “Sim! Este é quem eu realmente sou!”

Depois, tive meu nome legalmente alterado. Sempre tinha algo para esperar, um próximo passo em direção à transição.

Havia pequenas coisas ao longo do caminho em que eu percebia: “Ok, isso é meio falso. Estou fazendo essas coisas para parecer um homem, e todo mundo está acreditando nisso. Sei que ainda sou trans… mas um dia isso será real.”

Eu não queria ser abertamente transgênero. Eu realmente queria ser um homem. Eu queria apagar completamente a existência da Laura… 

O que é engraçado. Aqui está uma citação que li anteriormente . . . Eles estavam falando sobre como as pessoas trans estão dizendo: “Não seremos apagados!” E eu fico pensando, “É exatamente isso que eles estão tentando fazer: Apagar a pessoa real!”

Somos nós (os cristãos) quem tentamos não os apagar. Mas, naquele momento, eu não queria nenhuma lembrança da Laura. 

Na verdade, tornou-se difícil até mesmo estar perto dos meus pais e da minha família, porque eles eram um lembrete da verdade de quem eu era.

Então, eu também quero que isso seja um encorajamento para os pais e familiares, se seus filhos que estão se identificando como trans e não estão querendo estar perto de vocês. 

Há algumas batalhas acontecendo: uma, eles não querem ser lembrados de seu lugar na família, das memórias, de quem eles realmente são. Mas também há uma batalha espiritual. Você tem o Espírito Santo, e eles provavelmente estão lidando com espíritos demoníacos. Eu sei que eu estava, e eu presenciei essa escuridão. 

Eu vi fotos de pessoas antes de fazer a transição, e depois quando elas começaram a transição, e há uma escuridão que vem sobre seus olhos.

Raquel: Para os membros de famílias que têm um irmão, uma irmã ou um filho em transição, um tio… Parece que muitos membros da família se afastam dessa pessoa. Mas pelo que você está dizendo, me faz chegar a conclusão de que isso pode não ser uma boa ideia.

Em termos de compaixão, não sei como faria isso com um dos meus filhos, independentemente do que eles estivessem passando. 

Não consigo imaginar, mas nunca passei por esta experiência. Seus pais não fizeram isso; deve ter sido um caminho difícil. 

Mas me parece, pelo que você está relatando, que foi bom estar com eles do ponto de vista de transformar sua mente, porque isso a lembrou de quem você realmente é.

Laura: Sim, eu era constantemente lembrada de quem eu realmente era. Só de estar perto deles me lembrava de que eu era filha deles, e eu não gostava muito. 

Na época, eu provavelmente diria que o meu incômodo acontecia porque eles se recusaram a me chamar de “Jake” e não usavam os pronomes masculinos. Mas a realidade era que só por estar na presença deles me lembrava de quem eu era de verdade.

Eles não precisavam falar nada, porque eu tinha todas as lembranças, sempre havia esse conhecimento interno. 

Na verdade, há tanta coisa acontecendo na mente de uma pessoa trans que ninguém percebe, porque ela nunca vai contar pra ninguém… Ou pelo menos a maioria das pessoas não vai contar.

Então, tinha essa lembrança constante de quem eu era de verdade. E eu sei que muito disso é resultado de oração, mas acho que parte disso é natural também. 

Tipo, toda vez que você se olha no espelho, toda vez que você vai ao banheiro, há tantos lembretes diários de que o que você está fazendo é falso.

Mas você sempre espera que seja real um dia, e isso te motiva a continuar no processo. Então você fica meio que  como numa “gangorra”. Como que subindo uma colina, tentando chegar ao ápice. Aí, um dia você o alcança, e é como se você estivesse longe demais para voltar para pro outro lado. Você está longe demais, em certo sentido, e você pensa: “Bom, eu não posso voltar atrás agora!” E você realmente acredita que a única escolha que resta é seguir em frente.

Raquel: Você não se sentia completamente como um homem, Laura, e ainda assim queria agir como um homem, então você buscou um relacionamento com uma mulher. Na verdade, ‘ela’ era um homem que tinha feito a transição para ser mulher. Essa acabou sendo uma relação próxima e amorosa. Fale-nos sobre isso.

Laura: Sim, foi bem interessante, porque acho que conseguimos meio que nos ‘validar’. Tínhamos esse entendimento mútuo, eu acho. Porque muita gente não entende como é a transição, mas a gente tinha um ao outro. E foi interessante a maneira como o Senhor o usou.

Raquel: Ele era um “ele” biológico, mas vivendo como uma “ela”, certo?

Laura: Sim. Sabe, isso é um incentivo para os pais. Às vezes vocês se preocupam tanto com os relacionamentos que seus filhos têm… Vocês pensam: “Ah, eles estão se afundando nesse estilo de vida…”

Mas, por causa das orações de meus pais, tudo o que estava acontecendo em minha vida, o fato de eu estar me entregando mais àquele estilo de vida, o Senhor estava usando tudo isso para me mudar e me atrair para Ele. 

Então, meu parceiro, na verdade – você não vai acreditar – foi um dos únicos que eu conheci, naquele estilo de vida, que era conservador.

Raquel: Você quer dizer conservador no sentido de político, e não teológico, certo? 

Laura: Sim, politicamente conservador. Falo isso independentemente da preferência política dos nossos ouvintes, esse não é o ponto aqui. 

Mas o posicionamento dele foi o que realmente começou a despertar esse interesse em mim, eu queria entender porque ele estava disposto a se posicionar contra toda a comunidade!

Eles o odiavam e o viam como um traidor, porque ser conservador era como uma traição. Mas ele não se importava, porque era nisso que ele acreditava. 

E foi assim que comecei esta jornada de busca da verdade… Mesmo que eu realmente não estivesse buscando a verdade sobre minha identidade. Eu estava buscando a verdade, politicamente falando.

Começamos a conversar muito sobre política e, eventualmente, comecei a realmente buscar a verdade. Isso foi anos antes de eu sair desse estilo de vida. 

Então meu parceiro também era como um “espelho” para mim, porque eu podia ver a verdade nele que eu não podia ver em mim mesma.

Eu me lembro que eu pensava: “Por que isso não é real para ele?”  Era tão óbvio que ele era um homem se vestindo de mulher, e ele estava usando perucas e maquiagem, sapatos bonitos e todas essas coisas, mas ele não era uma mulher!

Raquel: Ele tinha contato com a própria família?

Laura: Não. Na verdade, isso foi interessante, porque ele estava super isolado da família. A mãe dele faleceu quando ele tinha sete anos. Ele compartilhou comigo uma vez que provavelmente foi a partir daí que vieram muitos de seus sentimentos como transgênero.

Ele era o mais velho de quatro meninos, e acho que ele meio que assumiu o papel de mãe. Foi uma perda muito traumatizante. O pai dele faleceu quando ele tinha dezenove ou vinte anos, e depois disso cada irmão foi morar num lugar diferente do mundo.

Mas um dia, um dos irmãos de quem ele era mais próximo na infância apareceu na nossa casa, de repente! 

Então, Steve correu para se desfazer das roupas femininas e tudo mais. Pude perceber depois disso que o Steve realmente começou a perder o interesse pela identidade transgênero, mas ele demorou muito para admitir isso.

Raquel: Você está dizendo que isso foi resultado da interação com o irmão dele.

Laura: Sim. Acho que ver o irmão trouxe à memória dele quem ele era, e acho que era uma conexão pela qual ele estava faminto! 

Sabe, eles estavam separados há tanto tempo, e é como se isso o lembrasse – ou talvez essa visita tenha dado a ele aquela identidade de “ser o irmão”, sabe o que quero dizer? O encontro evocou aquela verdadeira identidade.

Quando ele estava completamente desconectado da família, ele se sentia livre para ter essa outra identidade, mas quando, de repente, aconteceu o reencontro, foi como se ele tivesse “voltado”. 

Ele começou a se envolver nas coisas que o seu irmão gostava, e ele estava se tornando cada vez menos feminino, mesmo que a  “retransição” dele não tenha acontecido até depois que eu fiz a minha. Então, ainda se passaram muitos anos depois disso.

Raquel: Então ele também acabou “retransicionando”? 

Laura: Sim, cerca de um ano e meio depois que eu fiz. Mas mesmo naquela época (isso foi apenas um ou dois anos em nossa jornada de nove anos), ele parou de usar a peruca, e raramente se vestia como mulher. Ele ainda comprava roupas na seção feminina, mas a maioria eram neutras, em termos de gênero.

Raquel: Você sabe o que é mais interessante para mim sobre tudo isso Laura, é ouvir como Deus está presente em sua história e como Ele está trabalhando soberanamente, através das circunstâncias em sua vida e através das orações dos seus pais e da sua tia. 

Talvez eles estivessem se sentindo desesperados. Talvez eles sentissem que Deus não estava fazendo nada porque, ao olhar humano, parecia que você estava se enredando cada vez mais profundamente no estilo de vida transgênero. 

E, no entanto, de alguma forma, Deus estava trabalhando em meio a tudo isso. É incrível para mim que Deus nos ama independentemente das escolhas que fazemos. Ele não desiste de nós, mesmo quando O desprezamos e nos afastamos.

Ele buscou um relacionamento com você, Laura, e Ele fez isso muito antes de começar a convencê-la sobre seu estilo de vida.

Como você virou a página? Quando você começou a ver que Deus era real e que Ele queria um relacionamento com você?

Laura: Começou muito cedo, na verdade. Olho para trás e fico impressionada com o quanto Deus estava me atraindo! Eu nem percebi isso até mudar meu estilo de vida e começar a contar minha história. Comecei a me lembrar de todas essas formas que Deus estava indo ao meu encontro.

Eu me lembro de uma época que estava tendo sonhos — não era como se estivesse ouvindo a voz de Deus falando comigo, mas era através dos sonhos que Ele estava me lembrando da verdade o tempo todo. Eu sonhava que estava sendo deixada para trás na volta de Cristo e coisas do tipo.

Eu sempre tive essa consciência, um medo de saber que eu não estava bem com Deus, mas eu dizia que não queria estar. Eu queria seguir meu próprio caminho. 

Uma das experiências mais fortes que tive, foi um sonho. Sonhei que minha sobrinha tinha caído da escada, quebrado a cabeça e tinha morrido (ela tinha uns dois anos na época). Acordei soluçando de tanto chorar.

Levei umas duas horas para perceber que tinha sido um sonho, que não era real, não havia acontecido de verdade. Mas me senti compelida a orar por ela… E eu nem tava orando naquela época. Mas eu tinha crescido em uma família cristã, então pensei: “Eu tenho que orar por ela.”

Dois dias depois ela caiu de uma escada, bateu e quebrou a cabeça. Mas ela viveu! E eu pensei: “Uau, acho que Deus me disse isso para que eu orasse por ela“. 

Foram várias intervenções de Deus na minha vida usando as circunstâncias.

Teve outro momento, no ano da minha transição, quando eu ainda escutava músicas horríveis. Lembro que meu pai ficou super decepcionado comigo, porque ele encontrou a minha coleção de CDs. Eu tinha Godsmack, Metallica e Nirvana e todas aquelas bandas repulsivas que eu estava ouvindo na época.

Lembro que um dia fiquei tão incomodada com aquelas músicas. Eu pensei: “Tô tão cansada dessas músicas! Elas me deixam com tanta raiva. Não aguento mais ficar com raiva o tempo todo!” 

Então eu troquei de estação, e parei numa música cristã pela primeira vez em anos, e eu comecei a chorar descontroladamente! A presença de Deus encheu meu carro!

E isso foi um ano em uma jornada de nove anos, mas Deus estava me atraindo e Ele nunca me abandonou.  Durante todo esse tempo, Ele estava intervindo na minha vida. 

Lembro de outra vez que eu estava ouvindo um programa de rádio que eu costumava ouvir há anos e o apresentador apoiava estilo de vida LGBT; ele sempre falava sobre a “liberdade”.

Mas ele fez uma pergunta um dia: “Por que é que os transgêneros sempre querem mudar seu corpo para combinar com sua mente, e não apenas mudar sua mente para combinar com seu corpo?” 

E eu lembro que eu não sabia como responder a essa pergunta. Eu fiquei tão revoltada com essa pergunta, porque eu não queria admitir que isso era possível. Eu me lembro que eu não conseguia tirar isso da minha cabeça!

Então eu continuei lutando e lutando com essa questão. Eu me lembro de ter ficado extremamente irritada com a possibilidade de ser concebível mudar de ideia em vez de mudar de corpo.

Raquel: Não sei se você sabe, mas por vários anos a Universidade Johns Hopkins suspendeu a cirurgia de redesignação sexual, porque eles testemunharam isso repetidamente na comunidade transgênero. 

Eles operavam o corpo de alguém para ser do gênero que aquela pessoa queria, porém o que de fato estava despedaçado não era reparado. Apenas os corpos eram alterados. 

Eles decidiram suspender completamente as cirurgias. Devo dizer, porém, que eles retomaram as cirurgias novamente agora; mas por um grande período de tempo – muitos anos – eles as barraram, por essa razão.

Mas, Laura, em algum momento você se sentiu feliz quando finalmente abandonou todos os vestígios físicos da feminilidade e abraçou uma identidade masculina.

Laura: Foi um paradoxo, porque sim, eu estava feliz, de certa forma. Fiquei feliz com a identidade. Fiquei feliz com o estilo de vida. 

Mas era sempre um vislumbre da felicidade que eu teria um dia. Meu pensamento era: “Um dia tudo isso será real, por hora esse é o processo para atingir aquele objetivo“.

Mas fui percebendo que as cirurgias não estavam tornando isso real. Eu lembro do meu primeiro emprego onde eu era conhecida apenas como homem, e pensei: “Finalmente!”  

As únicas pessoas que sabiam do meu passado eram minha família e meu parceiro, e eu tinha muito pouco contato com minha família.

E então eu pensava: “Agora que ninguém sabe, eu posso ser um homem. Eu posso só seguir com a minha vida e posso deixar tudo aquilo no passado.” 

Mas eu me lembro que comecei a ser meio que “assombrada”, tentando manter minha identidade. Era constante. Demandava um grande esforço da minha parte.

Sempre que eu ia falar alguma coisa sobre a minha infância, eu pensava: “Pera aí, eu não posso falar que eu era escoteira, mas sim um escoteiro. Eu não posso falar que eu fiz parte do time de softball (que era só para meninas), tinha que falar que eu tinha jogado beisebol. Eu não podia falar nada sobre os meus namorados do passado; todas achavam que eu era apenas um homem hétero.

Então uma vez eu acidentalmente, contei uma história enorme, sobre um ex-namorado, para minha chefe, e ela ficou tão confusa! Por mais que eu fosse “feliz” de certa forma, minha vida também se tornou um inferno.

Raquel: O suficiente para que você decidisse fazer a retransição?

Laura: Sim. Bem, não foi a insatisfação com o estilo de vida que me levou à retransição, porque eu ainda não queria ser uma mulher. Todo mundo achar que eu era homem ainda era melhor do que a identidade feminina. Eu não queria ser vista como mulher.

Na verdade, não tem outra explicação a não ser o fato de que Deus se apoderou do meu coração, começou a me transformar, e eu entendi que ele estava me atraindo, foi aí que Ele realmente me levou a retransicionar e retornar a quem Ele tinha me criado para ser. Finalmente percebi que, porque Ele havia me criado, somente Ele poderia definir quem eu era.

Há um versículo, Isaías 29:16, que diz: “Vocês viram as coisas de cabeça para baixo! Como se fosse possível imaginar que o oleiro é igual ao barro! Acaso o objeto formado pode dizer àquele que o formou: “Ele não me fez”? E o vaso poderá dizer do oleiro: “Ele nada sabe”?

Foi a esse ponto que cheguei. Eu pensava: “Bem, eu posso me identificar com o que Deus me fez para ser ou posso continuar a tentar me definir”, mas eu sabia que isso nunca seria real.

Raquel: Laura, quando você teve esse encontro real com Deus você ainda era o “Jake”. Quando Ele a chamou e a atraiu para a fé em Jesus, você era “Jake”. 

E então você começou a crescer espiritualmente, mas demorou um pouco até você admitir sua culpa e chegar ao ponto de perceber que precisava lidar com a questão de sua identidade sexual e o fato de você se ver como homem. Conte-nos como isso aconteceu.

Laura: Sim, eu fui sendo confrontada. Levou mais ou menos um ano e meio entre a minha salvação e o processo de reversão.

Raquel: Deixe-me pausar por um segundo, porque muitas pessoas vão achar difícil acreditar nisso.

Então, conte-nos. Quão genuína foi essa salvação? Era real… Você simplesmente não sabia como resolver tudo isso ainda, foi isso?

Laura: Sim, certo, quando eu fui salva, eu tive esse encontro incrível onde eu soube sem sombra de dúvida que eu tinha sido salva. Eu sabia que era uma nova criatura. Meu coração estava completamente transformado! 

Voltei ao trabalho e tudo o que eu queria fazer era ouvir os hinos e ler a Bíblia e tudo foi voltando. Liguei para minha mãe para contar o que havia acontecido, e ela teve certeza da minha mudança só de ouvir o tom da minha voz!

Lembro que assistia a todos os tipos de filmes de terror e coisas assim à noite, e me lembro de ser confrontada pelo Espírito Santo numa noite e pensei: “Opa! Deus está me transformando agora!“. Eu sabia que não podia continuar assistindo aqueles filmes, e essa foi a primeira coisa que eu me lembro.

Eu sabia que tinha sido verdadeiramente salva e que o Espírito de Deus tinha vindo sobre mim. Eu sabia que nunca mais seria a mesma.  Fui logo convencida sobre o estilo de vida que estava vivendo, mas não sabia o que fazer a respeito. 

Parei de assistir pornografia e tentei limpar minha vida. Eu tentei fazer tudo o que podia, exceto lidar com essa identidade transgênero, porque eu não achava que havia nada que eu pudesse fazer sobre isso. Me sentia como se eu estivesse presa.

Eu passava o dia ouvindo a Bíblia em áudio ou algum estudo bíblico de algum tipo, literalmente o dia todo, todos os dias. Deus estava derramando Sua Palavra em mim. Um dos versículos da minha vida é o Salmo 107.20 que diz: “Ele enviou a sua palavra e os curou, e os livrou da morte.”

Então, à medida que Deus derramava a Palavra em mim, eu ficava cada vez mais convencida, e percebi depois de um tempo que eu não podia simplesmente distorcer um ou dois versículos para se encaixarem no que eu acreditava. E a Bíblia inteira estava me dizendo que eu não podia ser transgênero.

Porque a Bíblia toda fala sobre o Deus Criador, que Ele é Senhor e Mestre. Devemos segui-Lo e Ele nos ama e cuida de nós, e quer um relacionamento conosco, mas tem que ser em Seus termos.

Mas eu não queria lidar com o meu pecado. Eu estava ficando brava com Deus em certo ponto, porque pensava: “O que é que eu posso fazer!? Vou aparecer no meu trabalho com um vestido e dizer: ‘Brincadeirinha! Na verdade, eu sou uma menina! Desculpa. Desculpa, eu menti para todos vocês por quatro anos’”. Entendeu? Eles nem imaginavam que eu fosse trans!

Raquel: E o que fazer com o seu parceiro? Essas foram questões profundas em seu coração que precisavam ser resolvidas. 

Laura: Certo!

Raquel: Laura, eu só quero rebobinar a fita aqui de volta ao ponto em que você realmente decidiu vir a Cristo. Você estava vivendo o estilo de vida trans, você estava se apresentando para o mundo como um homem. 

Seu chefe e as pessoas com quem você estava trabalhando pensavam que você era um homem. Você estava em um relacionamento com uma mulher trans.

Então, sua mãe pediu que você a ajudasse com um site dela de estudo bíblico e a Palavra de Deus começou a trabalhar em seu coração. Em que momento você disse “sim” a Jesus? Você se lembra desse momento?

Laura: Sim, na verdade foi um processo de alguns meses em que Ele realmente estava começando a me tirar daquela vida. 

Em determinado momento, acho que até me libertei de um espírito demoníaco. Houve uma diferença da noite para o dia no meu pensamento. Era como se meus olhos tivessem sido abertos, foi como aconteceu com o apóstolo Paulo quando as escamas caíram de seus olhos (ver Atos 9.18).

Eu tava tão convencida de que não podia mais ser transgênero que assinei o boicote de uma rádio que eu escutava contra a Target, por causa de suas políticas de uso do banheiro.

Eles estavam permitindo que qualquer pessoa entrasse em qualquer banheiro, independentemente de estarem passando pela transição ou não. 

Qualquer um poderia simplesmente dizer: “Eu sou uma mulher hoje” e entrar no banheiro feminino. E eu assinei o “boicote à Target”, porque eu sabia que não poderia mais ser transgênero, mas não sabia o que fazer a respeito.

Na minha mente, eu não podia ser mulher novamente, então era como se eu estivesse desesperadamente esperando que, de alguma forma, Deus me deixasse esquecer tudo isso e me permitisse viver como se eu fosse um homem. 

Mas Ele continuou tocando no meu coração. Lembro que, um dia liguei para minha mãe para perguntar o que ela estava ensinando no seu estudo bíblico.

Ela estava ensinando sobre o tribunal de Cristo, e eu fui super confrontada pelo o que ela me falou! Fui para casa e me joguei no chão. 

Eu sabia que não estava bem com Deus. Por mais que eu fosse zelosa pelo Senhor e estivesse compartilhando minha fé com meus amigos, eu sabia que ainda estava vivendo para minha própria carne de muitas maneiras.

Então eu disse: “Deus, o que o Senhor quer de mim?! Quero ouvir: ‘Muito bem, servo bom e fiel’. O que preciso mudar?” 

E o Senhor me fez uma pergunta, Ele disse: “Se você estivesse diante de mim hoje à noite, qual nome eu usaria?

E eu disse: “Peraí, isso não é justo! Eu sei que errei. Sei que não deveria ter feito a transição, mas agora é tarde!” Mas eu sabia que Ele não ia me chamar de Jake. Ele me lembrou de João capítulo 1, onde as Escrituras dizem: “O próprio Jesus Cristo é o Criador”. (ver v. 3)

E Ele disse: “Você não pode alegar que me ama e, no entanto, rejeitar a minha criação”. Teve até um momento que eu pensei que estava sendo condenada. 

Pensei: “Não há esperança para mim! Se Deus não me vê como Jake, então não há esperança, porque eu não posso voltar a ser Laura.”  Era tanta dor, e eu nem sabia o porquê.

Eu realmente não entendia nenhuma das questões que me levaram a esse estilo de vida. Quando eu entrei naquele estilo de vida, eu realmente acreditei que eu era apenas um homem preso no corpo de uma mulher. 

Eu sabia que toda vez que eu pensava em ser mulher, era como se uma faca penetrasse no meu coração! Então eu pensei que estava sendo condenada.

Mas com a voz mais amorosa que já ouvi em toda a minha vida, Ele sussurrou para mim e disse: “Deixe eu te dizer quem você é”. 

E foi isso que começou a me libertar. Percebi que Ele havia me definido e me criado com um plano e um propósito, com uma identidade. Eu não estava aqui só por causa da biologia. Eu estava aqui porque Ele criou uma pessoa específica.

E é isso que a Palavra de Deus diz, que fomos criados para boas obras em Cristo Jesus antes da fundação do mundo. (ver Ef. 1:4, 2:10). 

Então eu sabia que não importava o que eu fizesse com meu corpo, não importava quem eu dissesse que eu era, eu nunca seria ninguém além de quem Deus me criou para ser. Mas eu ainda não sabia como resolver essa situação.

Raquel: Isso me faz lembrar do Salmo 139, a conhecida oração onde Davi diz ao Senhor:

“Tu criaste o íntimo do meu ser e me teceste no ventre de minha mãe.Eu te louvo porque me fizeste de modo especial e admirável. Tuas obras são maravilhosas! Disso tenho plena certeza.

 

Meus ossos não estavam escondidos de ti quando em secreto fui formado e entretecido como nas profundezas da terra.

 

Os teus olhos viram o meu embrião; todos os dias determinados para mim foram escritos no teu livro antes de qualquer deles existir.”


Sabe, é surpreendente como Deus nos conhece intimamente antes mesmo de nascermos, e quão cuidadosamente e intencionalmente Ele nos une.

Acho que “Aquele que nos projetou é quem nos define” é o que declara o testemunho de Laura! 

Eu sei que em algum momento, Laura, você entrou em contato com uma cópia de Design Divino, um estudo bíblico que foi escrito por nossas queridas Nancy DeMoss Wolgemuth e Mary Kassian. 

Então, eu gostaria muito de ouvir como isso ajudou na transformação do seu processo de pensamento.

Laura: Quando iniciei a mudança do meu estilo de vida, eu estava fazendo isso em obediência a Cristo, mas eu não tinha interesse em ser mulher. Apesar de estar obedecendo, tudo isso ainda era muito, muito doloroso. Mas eu percebi que, mesmo depois que a mentira do transgenerismo se quebrou, eu não estava ainda obedecendo a Deus completamente.  

Eu estava em um grupo de discipulado com outras garotas, e eu estava me esforçando muito, mas eu ainda não sentia que me encaixava com as mulheres. 

Meu pensamento era: “Esta é apenas a minha cruz para carregar. Este é o meu sacrifício pelo Senhor“. Então nesse grupo de discipulado eles iam começar o estudo, Design  Divino.  

E eu tenho que ser honesta, no começo eu não queria participar. Eu não estava interessada em ouvir sobre  feminilidade bíblica.

Lembro de olhar para aquele livro! Precisa ver as minhas anotações do primeiro capítulo. Eram do tipo, “Essa pergunta é tão idiota!” e “Isso não me cabe!” e blá, blá, blá. 

Mas quando comecei a ler de verdade, meu coração começou a mudar. O Senhor começou a me mostrar como é lindo ser mulher, e como é especial e o que representa.

Acho que me lembro especialmente de ler sobre como homens e mulheres exibem o evangelho e a perfeita complementaridade deles. 

Na verdade, foi isso que começou a mudar meu coração. Comecei a ver que o design de Deus para a mulher é bom – não importa o que o mundo diga.

Raquel: É engraçado, Laura, enquanto você fala, não posso deixar de pensar na minha própria jornada. Eu acreditava intelectualmente que o plano e o projeto de Deus para a feminilidade estavam certos muito antes de sentir no fundo do meu coração que também eram bons e belos.

Intelectualmente, eu escolhi acreditar no que Deus disse, porque Ele é Deus e eu não sou, mas emocionalmente eu não estava totalmente de acordo com toda essa coisa da feminilidade. Mas eu me lembro do momento que isso mudou.

Eu estava sentada em minha mesa meditando em uma passagem específica das Escrituras, e o Espírito Santo abriu meus olhos para entender o quão profundamente Deus estima as mulheres e como Ele criou a feminilidade para ser uma parte preciosa e incrível de Sua história!

O Senhor me revelou naquele dia que, em última análise, quem eu sou como mulher não é sobre mim, é sobre mostrar a glória do evangelho e sobre contar a história de Jesus.  

Foi um momento profundo. Em um instante, fui dominada pela beleza e pela santidade do design de Deus, e comecei a chorar e chorar!

Aquele encontro me transformou porque, a partir daquele momento, não só acreditei que o caminho de Deus estava certo, como também fiquei convencida de que era belo e bom.

Sabe, na nossa cultura, constantemente nos deparamos com uma visão negativa das mulheres e da feminilidade. Ouvimos mentiras sobre a feminilidade e mentiras sobre um sistema patriarcal que nos mantém oprimidas.

Dizem que precisamos lutar contra os homens ou ser como os homens ou que os homens têm mais valor do que nós como mulheres, e adquirimos todos os tipos de crenças negativas sobre a feminilidade da nossa cultura e de vivermos num mundo quebrado. 

E quando Cristo começa a desembrulhar isso e remover as camadas, os nossos olhos são abertos e pode ser doloroso, mas também traz cura e redenção.

Mas me conta mais, Laura, como Deus começou a abrir seus olhos e ministrar a você em relação a quem você é como mulher?

Laura: Sim, lembro de decidir dar alguns pequenos passos. Eu não era casada na época. Então eu não tinha marido, mas trabalhava na igreja. Então pensei assim: “Bem, vou praticar algumas dessas coisas com os homens da igreja.” Vou pôr em prática o que aprendemos sobre respeitá-los, afirmando sua liderança e sua autoridade e encorajando-os.

Quando comecei a fazer essas coisas, comecei a ver o fruto disso e como aquilo funcionava. Eu estava sendo mais respeitada. 

Apareceu uma paz tão grande em mim, e comecei a ter essa grande alegria em vê-los se destacando como homens e não sendo agredidos pelas mulheres. Então isso começou a confirmar tudo o que eu estava lendo.

Comecei a entender realmente que recebemos amor dos homens, não tentando ser melhores do que eles, não tentando provar que estamos acima deles. 

Eu vejo isso, e isso me entristece agora. Vejo isso em muitos relacionamentos na TV ou quando estamos em público.

Eu vi um casal outro dia no aeroporto. A mulher estava falando tudo para o homem, tudo o que ele devia fazer. Ele estava  seguindo essa mulher como se fosse um cachorrinho perdido, como se ele não tivesse nada a dizer sobre nenhum assunto, e ela corrigia ele em tudo. 

E eu fiquei pensando: “Essas mulheres estão tão perdidas.  Elas querem desesperadamente ser amadas e, no entanto, estão extrapolando sua autoridade. Elas estão tentando derrubar os homens para que elas possam ser erguidas, mas isso é o oposto do que precisamos!”

Descobri que, ao encorajar os homens e ao afirmá-los, eles, por sua vez, me respeitariam. E isso se tornou uma bela representação do que eu acho que Deus projetou com Adão e Eva.

Raquel: Sim, voltemos a Adão e Eva. Quero voltar ao início, porque, honestamente, foi isso que Jesus fez. Quando Ele estava andando pelas ruas, alguns fariseus vieram até Ele para tentar prendê-Lo. 

Havia o que eu chamaria de revolução da época, que seria a revolução do divórcio. Sabe, estamos meio que na revolução transgênero agora.

E quando tentaram apanhá-Lo, Jesus disse: “No princípio… …volte ao início. O que eu projetei, o que eu pretendia?” (ver Mt. 19). 

Então eu gostaria de ler um versículo no início, lá atrás, Gênesis 1.27, o primeiro capítulo da Bíblia. “Criou Deus o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou.” 

Esse versículo do capítulo 1 de Gênesis nos dá uma visão geral da dignidade e da qualidade do homem e da mulher, criados à imagem de Deus para Sua glória. Gênesis 1 nos diz que fomos criados para ter domínio sobre o mundo e que compartilhamos essa missão igualmente.

Então, em Gênesis, capítulo 2, começamos a ver algumas diferenças entre os dois sexos. Assim, o capítulo 1 de Gênesis discute a criação da humanidade como um todo e nossa igualdade fundamental, mas o capítulo 2 fornece uma repetição ampliada que revela diferenças essenciais na criação dos dois sexos por Deus.

E ambas as narrativas são importantes; ambas são partes vitais da mensagem. Primeira parte: estamos juntos nisso como humanos. Deus vê o homem e a mulher como um todo igual, unido, indivisível. Nós somos iguais.

Segunda Parte: Deus nos criou de forma diferente. Macho e fêmea não são cópias um do outro. Somos seres complementares. 

Masculinidade e feminilidade não são a mesma coisa e não são intercambiáveis.  Deus nos criou exclusivamente masculinos ou exclusivamente femininos, e não somos iguais nesse sentido, nem devemos tentar ser

Laura, o que vem à sua mente quando você ouve esse versículo, como uma mulher maravilhosa de Deus – essa será minha biografia para Laura Perry – que sofreu com a dor do transgenerismo e da transição voltando a ser mulher. O que esse versículo significa para você?

Laura: Acho que agora que estou deste lado, entendo que o projeto de Deus é melhor e que eu nunca poderia me recriar. Eu vejo a beleza no que Ele criou, porque Deus não tinha que criar homem e mulher. 

Eu realmente meditei sobre isso uma vez. “Deus poderia ter acabado de criar um bando de seres assexuados. Por que Ele criou o homem e a mulher?”

Raquel: Me diga, por quê?

Laura: Acho que por vários motivos. Um, eu acho, é colocar o evangelho em exibição como Mary e Nancy falam em seu livro – para representar a união de Deus com o homem! Mas também acho que é para simbolizar essa grande necessidade por algo que está faltando.

Tipo, se perdermos parte do nosso corpo… Por exemplo, já ouvi falar de pessoas que tiveram uma perna ou um braço amputado ou algo assim. Existe essa “dor fantasma” e você anseia por ter esse membro do seu corpo de volta. Acho que existe essa grande necessidade um do outro. Na verdade, isso mostra, eu acho, um grande desejo de amor. Isso não existiria se fôssemos todos do mesmo sexo.

Há uma falsificação tão barata que Satanás oferece, assim como você mencionou anteriormente, Raquel, isso de fazer sexo em vez de fazer amor, nessa conexão íntima verdadeira. Acho que tem uma diferença enorme, quando você está realmente transmitindo sua alma.

Raquel: Claro que o evangelho é uma das razões pelas quais talvez Deus tenha nos criado distintamente homem e mulher. Mas isso também pode ser um reflexo de Ele ser um ser social!

Deus é um ser social. Na relação entre os membros da Trindade vemos uma profunda unidade. Deus é Um. 

Ao mesmo tempo, a Bíblia revela que o Pai, o Filho e o Espírito Santo interagem de maneiras distintas. 

Acho que Deus criou o homem e a mulher como um recurso visual, uma história, por assim dizer, para nos revelar verdades sobre a natureza e o caráter de Deus.

Romanos capítulo 1, que é uma passagem da Escritura que trata da sexualidade e da ética sexual, diz: “pois o que de Deus se pode conhecer é manifesto entre eles, porque Deus os manifestou. Pois desde a criação do mundo os atributos invisíveis de Deus, seu eterno poder e sua natureza divina, têm sido vistos claramente, sendo compreendidos por meio das coisas criadas,” (vv. 19-20).

É claro que sabemos que o epítome da Criação foi a formação, por Deus, do homem e da mulher. Assim, Romanos 1 significa que a humanidade, como homem e mulher, torna claro o que pode ser conhecido sobre Deus. 

Gênero e sexualidade foram criados para contar uma história simples e precisa sobre Deus.

Quando lidamos com um tópico cultural sério como o transgenerismo, sempre precisamos voltar ao que a Bíblia diz. Há coisas que a Bíblia diz sobre homem e mulher, e há coisas que a Bíblia não diz sobre homem e mulher.

Acho que às vezes começamos a montar uma narrativa falsa sobre o que é um homem ou uma mulher, e essa é realmente a narrativa que os transgêneros estão tentando viver

Se você tem unhas pintadas, cílios postiços, cabelos longos, perucas, saltos altos, seios torneados, se você tem as curvas certas e os trejeitos femininos certos, então você é uma mulher.

Essa narrativa foi exposta há alguns anos, quando um homem que havia feito a transição e assumido todas essas características culturais femininas externas foi, na verdade, nomeado Mulher do Ano. 

Então, acho que precisamos ter muito cuidado quando falamos sobre masculinidade e feminilidade para nos atermos ao que a Palavra de Deus diz sobre homem e mulher e não inventar coisas! Porque ser mulher não é corresponder a um certo estereótipo cultural.

Não invente coisas! Eu não tenho que usar rosa! Eu não tenho que usar rosa! Posso estar na minha garagem e construir coisas com as minhas ferramentas elétricas. Sou uma boa eletricista, ou eu gosto de dirigir meu trator.

Bom, é isso! A feminilidade bíblica não se trata de abraçar todas as armadilhas culturais estereotipadas externas da feminilidade. 

Em vez disso, trata-se de chegar ao âmago de quem Deus nos criou para ser. A Bíblia desafia as mulheres biológicas a descobrirem quem Deus as criou para serem como mulheres, e os homens biológicos a descobrirem quem Deus os criou para serem como homens.

Laura, quando você estava lutando com isso, estudando a Bíblia fervorosamente e sobre o Design Divino, qual parte que saltou para você de modo que você começasse a reconhecer: “Sim, isso ‘combina’ com quem eu sou!”

Laura: Na verdade, acho que a primeira parte que realmente começou a mudar meu pensamento foi quando estava falando sobre quem um homem realmente é. Lembro-me de ler aquilo e dizer: “Eu não sou assim!” 

Esse capítulo era, na verdade, antes de chegar às mulheres.

Acho que há tanta beleza nisso, porque à medida em que comecei a reconhecer o quão bom o homem era, e perceber que isso não era eu, comecei a desejar ter esse relacionamento, em vez de desejar ser eu mesma, porque reconheci que aquela descrição não era minha.

Nancy: Todo o crédito pela transformação que ocorreu na vida de Laura Perry vai para o Senhor, mas que privilégio é para o Aviva Nossos Corações desempenhar um papel nessa história, ser uma das ferramentas que Ele usou para trazê-la de volta para Si mesmo. Laura estará de volta em instantes para orar.

Raquel: Antes disso, Nancy, eu tenho algo ardendo em meu coração, e é isso: o estudo que ajudou Laura a ver como homens e mulheres devem ser se chama: Mulher, sua Verdadeira Feminilidade: Design Divino

Claro, Nancy, você e Mary Kassian escreveram esse estudo juntas especificamente para combater as mentiras e equívocos sobre o que realmente significa ser um homem ou uma mulher à luz da verdade do que a Palavra de Deus tem a dizer.

Aqui está o que está ardendo em meu coração: em primeiro lugar, toda mulher que nos ouve precisa desse estudo agora, porque precisamos estar teologicamente fundamentadas na verdade do que a Palavra de Deus diz sobre ser mulher.

Mas, mais do que isso, quero implorar a você. Se você tem uma filha ou neta adolescente ou é uma líder de grupo pequeno para mulheres jovens ou em idade universitária, elas precisam estudar sobre isso! 

Sim, é escrito para mulheres, mas elas são plenamente capazes de digerir esse rico alimento espiritual. Devemos fornecer isso a elas porque elas estão na linha de frente dessa batalha! Esta questão só vai ficar mais difícil e precisamos equipá-las.

Então, se você gostaria de revisar o que a Palavra de Deus diz sobre ser uma mulher por si mesma ou se você sente um chamado para conduzir esse estudo com um grupo de moças ou colegas visite o nosso site www.avivanossoscoracoes.com/livros e procure o livro: Mulher, sua Verdadeira Feminilidade: Design Divino.

Nancy: Embora esse estudo tenha sido escrito há vários anos, acho que nunca foi tão necessário e tão relevante quanto hoje. É necessário que estejamos preparadas para responder às perguntas da próxima geração em relação a esse assunto.

Perguntas como: Os familiares de alguém que adotou uma identidade transgênero devem chamá-lo de “ela” ou ela de “ele”? E o que você deve dizer a alguém que diz: “Eu nasci assim!” Bem, essas são apenas duas das questões práticas que vamos abordar no próximo episódio aqui no Aviva Nossos Corações.  Espero que você se junte a nós. 

Raquel: Estou pensando agora na mulher que está nos ouvindo e que não está confortável com quem ela é como mulher, ou talvez até mesmo no homem transgênero que está ouvindo e sente um eco do chamado de Deus no fundo de seu coração, ou na avó que está orando por aquela neta  querida, ou na mãe que encharca o seu travesseiro com lágrimas todas as noites. 

Laura, eu gostaria de saber se você poderia orar por elas, para que elas encontrem a paz que eu posso ver em seu rosto lindo, lindo. Devo dizer que não consigo imaginá-la como homem! Você é uma mulher fofa, bonita e radiante! E eu posso ver a luz de Cristo brilhando em você!

Laura: É um milagre! Eu olho para a minha própria história e fico impressionada com o que Deus fez! Já se passaram mais de cinco anos desde que deixei aquele estilo de vida e, honestamente, nunca acreditei que chegaria neste ponto. Eu não achava que voltaria a me parecer com uma mulher. Eu não achava que me sentiria como uma mulher de novo.

Eu honestamente deixei aquele estilo de vida para ser obediente a Cristo e fiquei maravilhada com o que Ele fez! 

E descobri que quanto mais confio Nele, quanto mais ando pela fé, quanto mais Lhe rendo tudo e entrego tudo por Ele, mais Ele se mostra fiel!

Raquel: Que dádiva de esperança! Vamos orar?

Laura: Pai Celestial, nós agradecemos por todas que estão ouvindo agora. Eu te agradeço, Senhor, porque todas estão aqui por um chamado divino, por uma razão ou outra. O Senhor não comete erros! Oro para que este programa seja um grande incentivo para elas. 

Senhor, para aquelas que estão lutando, talvez elas vejam alguma esperança, que elas percebam que podem voltar a quem Tu as criaste para ser, que elas não estão muito longe, que Tu podes curar toda dor e ferida interior… Mesmo quando eu esqueci de mencionar que o Senhor redimiu e restaurou meu relacionamento com minha mãe, completamente. O Senhor me deu um grande amor por ela e pelas mulheres, e o Senhor restaurou “os anos que os gafanhotos comeram”.

Oro por aquelas que estão orando por seus queridos para que tenham essa esperança, que não desistam dos seus queridos, que não desistam de quem estão orando, como sendo pessoas que Deus criou.

Ajude-as a se manterem fortes e a não abraçar a ideologia do diabo para concordar com as mentiras, mas a permanecerem firmes na fé, no amor e na compaixão. 

Senhor, dai-lhes forças para trilhar esse duro caminho de amor e verdade. Oro que o Senhor nos ajude a nos aproximar desse relacionamento com o Senhor. 

Cure todas as nossas fraquezas nessas áreas, Senhor, onde não confiamos em Ti como quem nos fizeste para ser. Oro para que o Senhor traga cura cada vez mais profunda, em nome de Jesus, amém.

Raquel: Vejo você amanhã, para o último episódio desta série com Laura Perry. Amanhã, Laura estará de volta para nos ajudar a entender mais sobre as lutas que ela enfrentou que a fizeram sentir confusão sobre sua identidade sexual e dará ótimos conselhos sobre como ajudar outras pessoas que enfrentam problemas semelhantes.

Aviva Nossos Corações com Nancy DeMoss Wolgemuth chama mulheres à liberdade, plenitude e abundância em Cristo.