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O Evangelho e as Chaves de Casa | Dia 1: O Poder da Hospitalidade Simples

Publicadas: out 14, 2024

Raquel Anderson: Começamos hoje mais uma série chamada “O evangelho e as chaves de casa”  que eu tenho certeza vai ser uma benção na sua vida e de todos ao seu redor. Rosaria Butterfield era uma ateia declarada e ativista lésbica. Quando um pastor local e sua esposa a convidaram para visitar a casa deles, ela não tinha ideia do que esperar da visita.

Rosaria Butterfield: Ele deixou bem claro que eu não era um projeto. Eu era uma vizinha, e ele ia me tratar com respeito.

Raquel: Este é o Aviva Nossos Corações com Nancy DeMoss Wolgemuth, autora de O céu reina, na voz de Renata Santos.

Às vezes, tudo o que é preciso é uma mesa de jantar e o Espírito de Deus para mudar a vida de alguém para sempre. É isso que ouviremos hoje com nossa convidada, Rosaria Butterfield. Não muito tempo atrás, Nancy teve a oportunidade de sentar e conversar com Rosaria quando ambas estavam participando da Conferência Nacional do Ministério Ligonier. Vamos ouvir.

Nancy DeMoss Wolgemuth: É uma grande alegria hoje dar as boas-vindas de volta ao Aviva Nossos Corações para minha querida amiga, Rosaria Butterfield. Ela está aqui sorrindo, um sorriso enorme. Ela é uma irmã calorosa, centrada em Cristo, que ama o evangelho, e estou muito animada para conversar com você novamente.

Rosaria, bem-vinda de volta ao Aviva Nosso Corações.

Rosaria: Muito obrigada. É uma honra estar aqui hoje.

Nancy: Você escreveu um livro que é um assunto que está no seu coração há muito tempo.

Rosaria: Sim.

Nancy: E no meu também. Estou segurando-o em minhas mãos, e o título é O evangelho e as chaves de casa. E o subtítulo é: “Praticando uma hospitalidade radicalmente simples em um mundo pós-cristão.”

Tive a chance de ler este livro no voo para Orlando, e eu amei, amei, amei o que você fez com este assunto, mas principalmente amo … Bem, há duas coisas que amo nele: uma é o quão fundamentado biblicamente está nos caminhos de Deus e no evangelho de Cristo (vamos falar sobre isso daqui a pouquinho). Mas também amo como essa é uma mensagem de vida para você, Kent e sua família.

Rosaria: Sim, é verdade.

Nancy: Isso não é apenas teoria.

Rosaria: Não—é prática concreta.

Nancy: É uma prática confusa.

Rosaria: Sim, é. (Risos)

Nancy: Vamos explorar isso. Acho que para muitas pessoas é um tema assustador—hospitalidade. Mas vamos explorar por que é assustador e por que não precisa ser.

Quero começar com … Você diz no início deste livro que se Maria Madalena tivesse escrito um livro sobre hospitalidade neste mundo pós-cristão, seria como o seu.

Rosaria: (Risos) Sim, seria.

Nancy: O que te fez dizer isso?

Rosaria: Bem, o ímpeto para este livro veio há muitos anos, em um momento da minha vida que, na verdade, não era cristã. Eu era ativista lésbica. Estava feliz da vida em um relacionamento com outra mulher.

Eu tinha acabado de co escrever a primeira política de parceria doméstica na Universidade de Syracuse que seria precursora do casamento gay. E o que as pessoas às vezes não sabem é que a comunidade gay e lésbica é uma comunidade profundamente voltada para a hospitalidade. Isso começou, em parte, pela maneira como a crise da AIDS no final dos anos 80 e 90 forçou uma aliança entre pessoas que naturalmente não se relacionariam.

E isso pode ser algo útil para os cristãos entenderem. Não há uma afinidade natural entre uma mulher lésbica e um homem gay, por exemplo. Essa aliança foi construída a partir de uma crise.

Nancy: Então eles se uniram.

Rosaria: Eles se uniram por que … isso foi exatamente na época em que a AIDS era chamada de “DRIG”—distúrbio relacionado à imunodeficiência gay.

Portanto, a hospitalidade esteve arraigada em meu coração desde sempre. Mas também fui receptora da hospitalidade cristã naquele momento. Acho que as pessoas imaginam que os mandamentos sobre amar o estrangeiro são muito difíceis. Mas é por causa da hospitalidade que estou aqui com você, e tenho a oportunidade de falar nesta conferência e ser sua irmã no Senhor.

Mesmo que nunca tivesse falado em uma conferência na vida, estou em Cristo porque um pastor chamado Ken Smith leu um artigo que eu havia escrito em um jornal de Nova York, e o título do artigo (você sabe como os jornais dão os títulos) era “A Mensagem dos Guardiões da Promessa é um Perigo para a Democracia”.

Nancy: Este é um artigo que você escreveu.

Rosaria: Eu escrevi porque esse movimento masculino cristão tinha vindo à cidade e passado um tempo na universidade. Eu era professora na universidade e detestava as ideias que os cristãos defendiam, então escrevi esse artigo.

E um dos jovens presbíteros da Igreja Reformada Presbiteriana de Syracuse trouxe este artigo para Ken Smith e o colocou em sua mesa e disse: “Ken…”

Nancy: Ele era o pastor da igreja.

Rosaria: Ele era o pastor—um cara mais velho. Ele é ainda mais velho agora e ainda está vivo—graças a Deus. Mas ele era mais velho e experiente. Então aquele jovem presbítero colocou o artigo sobre a mesa e disse: “Ken, precisamos parar essa mulher. Ela é um problema. Ela é aquela que acabou de comissionar a primeira política de parceria doméstica. Ela é ativista dos direitos gays. Ela fala nas marchas da parada gay. Ela é uma máquina. Precisamos detê-la.”

E Ken olhou, levantou os olhos e disse: “Ah. Bem, talvez a Floy e eu devêssemos convidá-la para jantar.”

Nancy: O que não foi a resposta inicial que a maioria das pessoas provavelmente teria.

Rosaria: Não, porque eu não era a simpática e amigável vizinha, lutando contra atrações do mesmo sexo. Eu era a inimiga.

Bem, Ken me escreveu uma carta—isso foi antes de todo mundo ter e-mail disponível.

Nancy: Certo.

Rosaria: Então Ken me escreveu uma carta em papel de qualidade muito boa. Só de ver sua assinatura eu já sabia que ele era meio velho, o que achei um tanto interessante. Ele me fez algumas perguntas fascinantes sobre meu artigo, e eu não sabia ao certo o que fazer com aquela carta. Eu recebia muitos feedbacks—havia cartas de ódio, cartas de fãs—e ambas entravam por um ouvido e saíam pelo outro e depois iam para uma caixa.

Nancy: Claro.

Rosaria: Mas a carta dele me desarmou. Lembro-me de um colega meu do Departamento de Antropologia vir ao meu escritório, estávamos conversando sobre algo, e eu disse: “Ei, John, o que você acha desta carta?”

E John disse: “Você não está começando a escrever um livro sobre a direita religiosa e suas políticas de ódio contra pessoas da comunidade LGBTQ?”

E eu disse: “Bem, sim, sim, estou.”

E ele disse: “Apresento-lhe o seu novo assistente de pesquisa não remunerada. Esse cara entende do assunto. Ele tem credenciais, e ele é um ás no assunto. Você tem que jantar com ele.”

Nancy: Para descobrir o que ele realmente pensa.

Rosaria: E foi assim que tudo começou.

Nancy: Nessa carta, ele te convidou para visitar a casa deles?

Rosaria: Sim, ele realmente me convidou.

Nancy: E ele não agiu com ódio ou de uma maneira que você tinha presumido que ele agiria?

Rosaria: Não. Não. Não. Não. De jeito nenhum.

Nancy: Mas você podia perceber que ele não concordava com você.

Rosaria: Oh, sim, sim. Não, ele claramente não concordava com minha posição, mas discordava intelectualmente e com prudência, e eu fiquei super intrigada. Como vivem os cristãos? Eu nunca tinha sido convidada para uma casa cristã antes. Eu não tinha ideia. Tipo, “O que vocês fazem em casa? Quem diria?” (Risos)

Nancy: Certo.

Rosaria: Gente, quem diria? E pensei, Bem, isso vai ser interessante. Então ele me pediu para ligar para ele, e eu liguei. E foi muito gentil. Ele me convidou para sua casa e, logo depois disso, disse, “Ah, a menos que isso a deixe desconfortável, talvez você prefira que nos encontremos em um restaurante.”

Eu tive que explicar, “Não, não, não. Na verdade, isso é maravilhoso porque a comunidade LGBTQ é uma comunidade dada à hospitalidade.”

Nancy: Então você estava acostumada com isso.

Rosaria: Estava. Estava acostumada com muitas pessoas na minha casa, com várias ideias, todas se juntando, se unindo contra a solidão e o isolamento que as persegue.

Nancy: Certo.

Rosaria: Pensei que aquela seria uma experiência interessante. Depois descobri que na verdade ele morava a menos de um quilômetro de distância de mim, o que o tornava realmente um vizinho também.

Nancy: Quando você foi à casa deles pela primeira vez para jantar, estava apreensiva sobre como seria?

Rosaria: Estava. Quase cancelei. Na verdade, passei o dia todo ensaiando a ligação de cancelamento. Pensei nisso o dia todo.

Nancy: Mas você foi.

Rosaria: Mas aí decidi: “Não, apenas encare e vá.” Fiquei estacionada em frente à casa dele por um tempo. Só fiquei lá, estacionada. E pensei, minha caminhonete com meu adesivo da Liga Nacional de Ação pelos Direitos do Aborto e meus símbolos lésbicos, e todos os outros símbolos de um mundo tão estranho ao deles… isso é tão estranho. Isso é tão estranho.

Fiquei lá por um tempo respirando fundo e me lembrei do meu motivo: “Tenho uma pergunta genuína.” Isso era um projeto de pesquisa, mas no fundo, no fundo não era apenas um projeto de pesquisa.

Nancy: Certo.

Rosaria: Havia um desejo profundo de saber por que essas pessoas me odiavam, e por que achavam que minha vida era imoral e errada. E também tinha um desejo profundo, em certo grau, de explicar a eles que sou feliz. Sou uma boa cidadã. 

Tentei namorar homens. Estudei em escolas católicas. Tentei de verdade. E quando conheci minha primeira namorada lésbica, a vida finalmente fez sentido para mim. Eu não entendia fundamentalmente por que os cristãos não deixavam a vida sexual de pessoas adultas em paz.

Era uma pergunta genuína que me fez sair do carro e tocar a campainha.

Nancy: E como foi aquela primeira vez na casa deles?

Rosaria: Foi adorável. Foi muito descontraído—assim como Ken e Floy eram. Eles foram muito sensíveis comigo. Floy fez uma refeição vegetariana, o que ela não precisava fazer. Não sei se ela sabia que eu não comia carne na época ou se ela mesma era ou se era apenas uma refeição mais fácil de fazer. Mas foi realmente adorável.

Ken é um leitor voraz. E eles eram diferentes. Ken era o cara de humanas, e Floy era cientista. E embora tivessem um casamento muito “tradicional” entre aspas, onde Ken era o chefe da casa e Floy ficava em casa e fazia coisas de apoio, ela obviamente não era um capacho. Eles claramente formavam uma equipe, tava na cara que se amavam, e isso foi marcante. Foi muito marcante.

Aproveitamos nosso tempo juntos. E no final da noite, Ken disse que gostaria de me ajudar com meu projeto de pesquisa, o que, é claro, era…

Nancy: … o que você precisava.

Rosaria: Eu precisava, e foi meio que uma proposta de vendas. Era o que eu queria. Mas ele disse: “Você sabe, vai ter que ler a Bíblia.”

E eu disse: “Eu sei. Não sou antropóloga. Não posso simplesmente ir entrevistar pessoas. Mas gosto de ler livros; quero ler. Então planejo fazer isso. Este é o meu plano.”

Então ele disse: “Ótimo. Volte na próxima semana.”

E assim se deu início a uma amizade de dois anos. No final daquela primeira reunião, ele omitiu duas regras muito importantes no livro de regras sobre como os cristãos lidam com seus vizinhos pagãos. Todo mundo leu o livro de regras. Eu li. Você leu.

Número um: Você tem que convidá-la para a igreja. E número dois: Você tem que compartilhar o evangelho.

Nancy: Especialmente considerando o fato de que ele era um pastor.

Rosaria: Sim, isso mesmo. Eu estava só me preparando para isso no final, e ele não fez o convite. Ele simplesmente disse: “Ótimo. Bem, esta foi uma boa noite para nós. Te vemos na próxima semana. Tenha uma boa semana.”

E isso me desarmou também, e me fez sentir segura. Não era como se ele estivesse apagando sua vida cristã. Na verdade, ele passou a maior parte da noite falando sobre o que ele percebia como as diferenças em nosso ponto de vista. Ele me fez muitas perguntas sobre minha vida. Ele não caiu duro quando respondi essas perguntas, o que foi muito bom.

Nancy: E ele ouviu.

Rosaria: Oh, sim. Ele ouviu, e não teve um ataque cardíaco quando falamos sobre… Não sei. Ele foi adorável.

Ele também orou por nossa refeição de uma maneira muito diferente de qualquer oração que eu já tinha ouvido antes, e isso foi intrigante.

Como professora de inglês, estudei a forma narrativa. Sou o que se chama de “acadêmica de livros completos”, então minha formação é pegar livros e juntá-los e ver como eles se complementam. E isso significa que você tem que entender como diferentes vozes narrativas se encaixam.

Eu tinha ouvido um tipo de oração católica repetitiva. Eu esperava algo mais nesse sentido, mas a oração dele foi muito diferente. E o que foi realmente estranho—muito estranho—foi que ele estava falando com Deus como se estivesse em bons termos com Ele.

Nancy: Como se ele realmente O conhecesse.

Rosaria: Sim, e como se estivessem em bons termos. E pensei, “o que está acontecendo aqui”?

Então, no final daquela primeira noite, senti que era seguro envolver-me nesse projeto de pesquisa com alguém que considerava ser o inimigo porque ele deixou bem claro que eu não era um projeto. Eu era uma vizinha, e ele ia me tratar com respeito.

Nancy: E eles continuaram te convidando para voltar à casa deles, e você continuou indo.

Rosaria: Certo. Tive inúmeras refeições na casa deles. Passei dois anos jantando na casa deles. Algumas dessas eram refeições privadas. Mas depois havia outros dias, como neste dia que eles chamavam de “o dia do Senhor”, que eu pensava, Que coisa maluca. Que será que isso significa. (Risos.)

É nesse dia que eles chamam de “o dia do Senhor”, que, é claro, agora chamo de “o dia do Senhor”. Mas eles me convidavam, e tinham muitas pessoas de sua igreja, mas também muitas pessoas da comunidade. As pessoas chegavam com suas Bíblias e seus hinários, e se envolviam em discussões filosóficas, abriam a Bíblia, e falavam sobre coisas.

E eu pensava, “Gente, que coisa estranha”. Parece que a Bíblia não é uma peça de museu. Eu pensava que era algo onde você colocaria flores prensadas e não um livro pra ser usado ou lido. Foi fascinante ver pessoas usando um livro antigo dessa maneira. Foi realmente fascinante.

Eles também se envolviam nessa prática chamada de “salmos cantados” de um livro chamado O Saltério. Era um livro repleto, página após página com 150 salmos em métrica para harmonia de quatro partes. Eles cantavam a capela, o que é lindo.

Nancy: Sim.

Rosaria: Eu sou cantora. Amo cantar. Acho que a única palavra que eu poderia usar para descrever a casa cristã deles era atraente, porque a música era envolvente e bonita e me atraiu. Sou uma pessoa musical. Fala ao meu coração.

E as palavras… bem, elas me repeliam. Eram repelentes e irritantes e horríveis e assustadoras. E foi essa combinação de envolvente e repelente.

Nancy: E no entanto, essas mesmas palavras estavam realizando uma obra em seu coração.

Rosaria: Realmente estavam. Havia algo especial ao cantar aquelas palavras, porque elas penetram profundamente em você.

Nancy: Sim.

Rosaria: Então, eu também ia à casa deles aos domingos, e durante a semana às vezes Ken encontrava algum motivo para eu passar lá para entregar algo, ou ele passava lá na minha casa.

Ele se sentia muito à vontade com meus amigos. Tive um amigo que era trans—isso significa que era biologicamente homem, mas tinha tomado hormônios femininos o suficiente para ser quimicamente castrado, vivia em um tipo de limbo. Tipo, quando você a via, saberia. Talvez não ficasse totalmente claro, embora Jill fosse super alta, esse era um sinal—ela tinha mais de 1,80m—e tinha o pomo-de-adão. Isso também era um sinal.

Mas Ken foi muito gentil com Jill, e isso foi incrível para mim porque até na comunidade gay naquela época—isso foi nos anos 90—a comunidade trans não era vista como um recurso político, que é como acredito que a comunidade gay está usando a comunidade trans agora. Eles não eram vistos como a linha de frente de um movimento de direitos civis. Eles eram os primos embaraçosos ou algo assim.

Mesmo na comunidade gay, Jill não era tratada bem. E para Ken entrar, sentar-se e simplesmente tratar Jill com total e completo respeito foi incrível.

Nancy: O que vinha de sua teologia, que ela e você foram criadas à imagem de Deus.

Rosaria: Certo.

Nancy: Mesmo que seu pensamento tivesse sido distorcido pelo pecado, pela enganação.

Rosaria: Exatamente. Vinha de sua teologia. Absolutamente. Mas naquela época eu não sabia de onde vinha, mas era algo lindo, e fez uma enorme diferença para Jill.

Quer as pessoas saibam disso ou não, a comunidade transgênero tem um grau muito alto de problemas de saúde mental. É apenas uma cultura bárbara que pegaria uma comunidade que está dilacerada por problemas de saúde mental e faria dela uma ferramenta política para algum avanço nos direitos civis.

Ken foi muito delicado com Jill, e eu fiquei extremamente grata por isso. Não sabia por que na época. Realmente não sabia de onde vinha aquilo, mas sabia com certeza que todos precisamos disso. Seja o que fosse que Ken Smith tinha, eu sei, e sabia que precisávamos de muito mais do que ele tinha.

Nancy: Com o tempo, o Espírito usou a gentileza dele, a Palavra e o evangelho para te atrair à fé.

Rosaria: Exatamente! Sim! Dois anos lendo minha Bíblia repetidamente, sete vezes no total.

Nancy: Uau!

Rosaria: Dois anos passando por isso com o Ken, eu tive uma crise. Eu disse ao Ken: “Estou cansada disso. Não quero mais falar com você.” Tentei escrever uma carta de despedida para ele. “Não consigo mais fazer esse projeto de pesquisa. Acabou.”

E o Ken disse: “Ótimo. Vamos deixar de lado o projeto de pesquisa, mas vamos chegar ao cerne da questão. Vamos ir direto ao cerne disso. Continue lendo a Bíblia para as grandes questões da vida.”

E a única razão pela qual fiz isso foi porque ele e eu éramos amigos. E o que aconteceu foi que a Bíblia se tornou maior dentro de mim do que eu mesma. Cheguei a um ponto em que percebi que Jesus é quem Ele diz ser nas Escrituras. 

Todo esse tempo, eu realmente pensei que estava do lado da paz, justiça social, diversidade, compaixão e cuidado, e foi horrível perceber que estava perseguindo Jesus o tempo todo—não algum personagem histórico chamado Jesus, mas o meu Jesus, meu Profeta, meu Sacerdote, meu Rei, meu Marido, meu Amigo, meu Salvador.

Então eu fiz isso. Consagrei minha vida a Jesus. Acho que as pessoas frequentemente assumem que isso significava que meus desejos lésbicos desapareceram. Bem, não. Não. Consagrei minha vida a Jesus, não porque parei de me sentir lésbica, mas porque Jesus é quem Ele diz ser.

Nancy: Sim.

Rosaria: Foi um processo lento. Não foi fácil. O pecado sexual e a identidade sexual ficam profundamente enraizados na pessoa. Mas aos poucos, ao longo do tempo, eu vinha orando para que Deus me tornasse uma mulher piedosa. E com isso, não queria dizer nenhum dos estereótipos disso, mas realmente queria dizer cobertura. Se alguém me perguntasse: “O que isso significaria para você?” Na verdade, um dos meus amigos perguntou: “O que isso significa para você?”

Eu disse: “Significa cobertura. Significa estar coberta por Deus.” Eu só queria estar coberta por Deus.

E aos poucos, ao longo do tempo, essa oração se transformou em orar para que eu pudesse ser uma esposa piedosa de um marido piedoso. E isso parecia ridículo. Certo? Parecia absurdo. Mas Deus se especializa no absurdo.

Nancy: O conceito todo de nascer de novo é bem absurdo.

Rosaria: Sim. É bem absurdo. Deus se especializa no estranho e em alcançar o estranho—alguém como eu—e transformar essa pessoa e dar a ela um novo coração.

Por anos depois disso—por alguns anos, pelo menos—tudo em mim havia mudado e nada em mim mudou. Meu coração mudou. Eu desejava a Bíblia mais do que qualquer coisa. Eu queria ler teologia. De repente, eu queria ver minha história sob a cobertura da ciência da Bíblia.

Mas, novamente, eu simplesmente não parei de me sentir lésbica da noite para o dia. Não foi assim que aconteceu.

Nancy: Bem, foi uma jornada.

Rosaria: Sim, foi.

Nancy: Vindo a Cristo e depois crescendo em Cristo.

Rosaria: Sim.

Nancy: Exatamente como acontece com cada uma de nós, com cada pessoa.

Rosaria: Certo.

Nancy: Mas uma das coisas que amo, à luz deste novo livro que você escreveu, é que a incubadora, por assim dizer, para essa jornada, esse processo, para esse renascimento em você, foi uma casa.

Rosaria: Foi uma casa.

Nancy: Foram as refeições. Foi a amizade. Se estendeu dentro das quatro paredes de uma casa onde as pessoas não estavam… Onde um pastor e sua esposa, que eram conhecidos por uma visão diferente da sua, não tiveram medo de abrir sua porta, de te receber, de sentar com você.

Independentemente do que alguém mais possa pensar, em sua igreja ou em outro lugar, sobre tudo isso—foi essa hospitalidade, essa hospitalidade radicalmente simples que Deus usou como uma incubadora na qual mudou seu coração.

Rosaria: Sim.

Nancy: Queremos explorar nos próximos dias um pouco disso. Queremos desvendar como esse tipo de hospitalidade se parece—claramente teve um impacto radical em sua vida.

Rosaria: Teve!

Nancy: E agora você está desafiando outros a acreditarem que Deus pode usá-los como um meio de graça na vida dos menos prováveis, daqueles que você nunca esperaria estar abertos ao evangelho.

O livro se chama O evangelho e as chaves de casa, e você está falando sobre como praticar essa hospitalidade radicalmente simples em nosso mundo pós-cristão. Vamos continuar essa conversa amanhã no Aviva Nossos Corações.

Raquel: Nancy DeMoss Wolgemuth e Rosaria Butterfield conversaram sobre como Deus muda vidas no lugar mais simples—ao redor da mesa de jantar. Rosaria compartilha mais sobre isso em seu livro, O evangelho e as chaves de casa.

A conversa de Rosaria te inspirou a convidar alguém novo para jantar? Esperamos que a hospitalidade seja uma área na qual você gostaria de crescer.

 Amanhã, vamos ouvir o que aconteceu quando Rosaria Butterfield convidou amigos e família para dentro de sua casa.

Rosaria: Nós vimos pessoas terem suas vidas transformadas por Cristo, e tudo o que fizemos foi abrir a porta para uma casa bem bagunçada.

Raquel: Aguardamos você amanhã, aqui no Aviva Nossos Corações.

O Aviva Nossos Corações é o ministério em língua portuguesa do Revive Our Hearts com Nancy DeMoss Wolgemuth, chamando as mulheres à liberdade, à plenitude e à abundância em Cristo.