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O Evangelho e as Chaves de Casa | Dia 4: Como Sua Casa Pode Apontar para o Evangelho

Publicadas: out 17, 2024

Raquel Anderson: A reputação dos cristãos pode ser… bem… complicada. Rosaria Butterfield acredita que os seguidores de Jesus deveriam ser conhecidos por sua humildade e pelo seu amor genuíno pelas pessoas.

Rosaria Butterfield: Imagine um mundo onde o fruto do arrependimento e a prática da hospitalidade marcam a reputação dos cristãos para aqueles que ainda não creem que Jesus salva pelo mesmo poder que o ressuscitou dos mortos.

Este é o mundo que a Bíblia imagina para nós. É o mundo pelo qual Jesus ora para que criemos em Seu nome.

Raquel: Este é o Aviva Nossos Corações com Nancy DeMoss Wolgemuth, autora de O céu reina, na voz de Renata Santos.

Bom, não digo isso com muita frequência, mas a série em que estamos agora deveria vir com um aviso. Ela é baseada no livro “O evangelho e as chaves de casa”. Pense bem, se vamos compartilhar a verdade e o amor de Jesus Cristo, precisamos estar prontas para receber as pessoas em nossas casas. Eu li este livro. Ele é super convincente.

Ouvimos nos últimos episódios como Deus pode usar a hospitalidade simples para transformar vidas de maneiras radicais.

Foi o que Ele fez na vida de Rosaria Butterfield. E Ele pode estar trabalhando nessa área da sua vida também. Você sentiu o suave toque do Senhor para amar seus vizinhos de maneiras que nunca fez antes?

Estamos prestes a nos encontrar com Rosaria e Nancy DeMoss Wolgemuth na Conferência Nacional do Ministério Ligonier para a parte final de sua conversa. Ao ouvir, imagine como Deus poderia usar seu lar para alcançar outros com Sua graça transformadora. Aqui está Nancy.

Nancy DeMoss Wolgemuth: Rosaria, muito obrigada por se juntar a nós esta semana aqui no Aviva Nossos Corações. Sei que nossas ouvintes foram extremamente desafiadas, abençoadas e encorajadas… e talvez um pouco assustadas…

Rosaria: Oh, não quero que fiquem assustadas!

Nancy: … ao falarmos sobre a hospitalidade radicalmente simples. Obrigada por nos tirar da nossa zona de conforto. Vamos falar um pouco sobre isso nesta conversa de encerramento hoje.

Seu livro se chama “O evangelho e as chaves de casa“. Eu amo esse título. Temos uma pessoa em nossa equipe que, quando estou me preparando para entrevistar alguém, ela lê o livro antes que eu leia e faz algumas anotações. Ela trouxe um resumo de vinte quatro páginas pra eu ler antes de ler o seu livro.

E no final dessas vinte e quatro páginas ela escreveu seu testemunho. Vou ler o que ela compartilhou sobre a sua história. Ela disse:

“Li o livro de Rosaria sobre hospitalidade, e estou completamente estarrecida! Fiquei desconfortável e resisti durante a introdução e o primeiro capítulo, mas no fim, meu coração ficou despedaçado pela verdade. Estou convencida de que a maioria dos cristãos não sabe nada sobre a comunhão genuína da Bíblia. Às vezes Deus fala em sussurros, mas ao ler este livro, Deus praticamente gritou comigo: ‘Você entende?! Você vai me obedecer agora?’

Desde 2001, moro em meu confortável bairro. Orei por meus vizinhos e compartilhei guloseimas de Natal, mas ao longo do último ano ouvi a dor em seus corações. Há um casal que acabou de se divorciar… e eu nem sabia que estavam passando por dificuldades!

Há uma mulher desesperada e temerosa porque o marido está à beira morte devido a uma doença. Há dois vizinhos preciosos com uma situação muito difícil com medo de ir à igreja porque, como disseram: ‘Vamos sentar lá e chorar’. Embora eu tenha dito: ‘Está tudo bem. Vou lá e choro com vocês’, eles ainda têm medo. Preciso ir atrás deles com amor.

A verdade é que também sei o que é o medo. Tenho medo de me aproximar, medo de que meus vizinhos possam interpretar mal. Fiquei em casa fazendo meu trabalho, cuidando das minhas responsabilidades, deixando minha casa bonita, mas não disponível além do que cabe no meu planejamento. Minha casa certamente não tem estado aberta a estranhos, uso o argumento de que é muito inconveniente e custoso. 

Mesmo para os vizinhos por quem oro e lamento. Não fui flexível o suficiente para sair da minha zona de conforto e atender às suas necessidades reais.

Como disse, estou completamente estarrecida! As palavras de Rosaria me deixaram desconfortável, mas também me deram esperança de mudança! A coisa boa de estar desfeita é que, no meio da nossa confusão e quebrantamento, finalmente chegamos a uma posição onde o Senhor pode começar a fazer Sua obra em nós e por meio de nós.”

Queria compartilhar isso porque acho, Rosaria, que esta não vai ser uma leitura confortável para todos. Não foi confortável para mim porque, embora (como compartilhei) tenha crescido em um lar muito dado à hospitalidade, é algo que está muito em meu coração, você me levou além do que considero hospitalidade “segura” e “planejada” para [hospitalidade que é] mais espontânea e flexível. Como você disse, esta hospitalidade não vai ser a mesma para todos e para diferentes fases da vida, e queremos enfatizar isso.

Rosaria: Sim, absolutamente, e não quero que as pessoas fiquem com medo. Mas, sabe, à medida que avançamos mais para um mundo pós-cristão, provavelmente vamos ver mais convertidos como eu. O que quero dizer com isso são pessoas que realmente vieram de muito pecado… pecado que cometi e pecado que outras pessoas cometeram e que recaiu sobre mim.

E com isso, por bem ou por mal, você fica um pouco menos preocupada com limites. Não estou tentando ser crítica quando digo isso. Eu meio que brinco: “Sou a Butterfield sem limites de fronteiras.” Não sou boa com limites, e entro com a cara e a coragem.

Às vezes faço alguma coisa e sei que há cristãos bem intencionados que diriam: “Espere! Vá devagar!” Ou, “Como você sabe que há um problema?” Mas praticamente todas as vezes, as vidas das pessoas são bem confusas. A vida sem Cristo é muito difícil, e acho que as pessoas que são cristãs há muito tempo se esquecem disso.

Nancy: E você não seria cristã hoje se não tivesse sido pela disposição de Ken e Floy Smith…

Rosaria: … de entrar em minha vida. Não, não seria.

Nancy: … e trazer sua confusão para a casa deles.

Rosaria: Com certeza! Foi exatamente isso. Acho que às vezes nos sentimos desconfortáveis. Pensamos: E se ofendermos as pessoas? Ou e se, na verdade, elas estiverem todas bem e não precisarem do meu Jesus? Bem, então você tem um problema teológico.

Nancy: Porque ninguém está bem. Todos precisamos de Jesus!

Rosaria: A vida sem Jesus é realmente difícil! Tem algumas coisas aterrorizantes. E acho que é isso que quero que as pessoas saibam. Porque sei que há pessoas que me ouvem falar e pensam: Bem, mas e as crianças?

Nancy: Na verdade, temos uma mãe com um bebê que esteve sentada ouvindo essa conversa, e perguntamos a ela durante o intervalo: “O que você quer saber?”

E ela disse: “Como praticar isso com um bebê em casa, quando você quer proteger seus filhos; você quer mantê-los seguros?” Como você responderia a esta pergunta?

Rosaria: Exatamente! Concordo. Na verdade, sua primeira responsabilidade é com sua família, mantê-los seguros. Você seria negligente se colocasse seus filhos em perigo. Vou te contar algumas das coisas que fazemos em nossa casa para manter algumas barreiras de segurança ao redor disso.

Sabemos que Satanás pode atacar todas essas barreiras, então não vamos agir como se isso fosse a solução final dessa conversa.

Nancy: Olha, nenhuma família está segura se Cristo não estiver presente ali. Ele é nosso refúgio, nossa fortaleza e nossa segurança.

Rosaria: Ele é. Isso significa que nenhum casamento está verdadeiramente protegido. Sem Cristo, os relacionamentos ficam vulneráveis e expostos a ainda mais conflitos e dificuldades. Fomos pais adotivos licenciados por dez anos, e isso significa que por dez anos tivemos algumas regras básicas em nossa casa, e essas regras foram muito úteis.

Quando as pessoas dizem: “Nossa! Essas regras são realmente criativas. Onde você as aprendeu?”

Eu digo: “Bem, aprendi com o setor de Bem-Estar Social do estado! Elas estão disponíveis para qualquer um.”

E algumas dessas coisas podem dar a aparência de que somos um casal “muito chato”. E de certa forma, isso pode ser verdade.

Por exemplo, simplesmente não permitimos álcool em nossa casa. Não acho pecaminoso beber álcool, mas nos anos em que fomos pais adotivos licenciados com adolescentes em casa, evitar álcool era uma ideia muito sábia.

Portanto, não ter álcool é uma coisa básica que mantém todos seguros. E o que isso significa? Significa que não podemos ter álcool. E sabe de uma coisa? Tudo bem para nós, porque é para um bem maior. Então isso é uma coisa.

Outra coisa é que não permitimos que as pessoas entrem na área dos quartos da casa durante o jantar. As crianças nunca podem estar em uma sala com alguém que não seja um dos pais ou uma pessoa designada.

Tenho uma amiga que viaja comigo, e me ajuda com as crianças. Ela é minha irmã no Senhor. Ela é como uma “tia” para meus filhos.

Nancy: Ela está na “lista aprovada”.

Rosaria: Ela está na lista aprovada. Mas somos muito claros com nossos filhos, e lembramos isso a todo momento, porque é difícil para as crianças, especialmente para crianças com necessidades especiais. Elas pensam que se veem uma pessoa na hora da história na biblioteca três vezes, essa pessoa é sua amiga!

Nós dizemos: “Não, não. Nunca entre em um carro [com eles], nunca fique sozinho em uma sala [com eles], ninguém pode te tocar…” Falamos muito sobre questões corporais. “Fale com um dos pais, fale com um dos pais, fale com um dos pais.” 

Mas na maior parte do tempo, quando temos comunhão aberta, estamos todos na sala de jantar, estamos na sala de aula em casa, estamos na sala de estar.

Nancy: Em um ambiente em grupo.

Rosaria: Nossos filhos têm idade suficiente para entender essas regras. Os bebês não. Então, quando você tem crianças muito pequenas, é um trabalho hiper vigilante, e você se pergunta se um dia realmente vai conseguir relaxar depois que seus filhos sobreviverem à primeira infância!

Tenho uma amiga querida da igreja que foi inspirada a praticar a hospitalidade. Ela é uma das pessoas mais hospitaleiras que conheço e acabou de se mudar para uma nova área; ela tem dois filhos, de um e cinco anos. O que ela decidiu foi ter um ministério explicitamente para crianças e mães.

Ela morava em uma rua sem saída, então escreveu bilhetes à mão para cada mãe, convidando todos para uma hora de história bíblica em sua casa na segunda-feira de manhã. Todo mundo veio! Até as mães que não são cristãs vieram.

Você sabe por quê? Elas se sentem solitárias. Isso te dá um motivo para tomar um banho e sair de casa. E é uma super conquista quando você tem um bebê e consegue tomar banho e sair de casa, não é? (risadas)

Tem sido maravilhoso dessa forma. Mas essa minha amiga, que é uma cristã muito fiel, também descobriu algumas necessidades em cada uma dessas casas. Uma das coisas básicas é: “Como faço para ir no supermercado, se o unico tempo livre que tenho é durante a hora da soneca da minha filha?” Bem, todas essas mães começaram a fazer compras umas para as outras!

Elas se tornaram uma equipe. Então, a partir disso, começou um estudo bíblico para casais—e esses não são cristãos! Entenda, eles não eram uma igreja; não eram um grupo de cristãos reunidos. Mas havia uma necessidade de comunidade. Minha amiga cristã viu isso.

Ela colocou Jesus no centro dessa comunidade usando a música de Dana Dirksen e ensinando histórias bíblicas para as crianças. Logo as mães ficaram curiosas: “É verdade? Deus responde às nossas orações? Não estamos sozinhos neste mundo? Existe um propósito para a minha vida? Existe significado no meu sofrimento? Como meu casamento seria diferente se meu marido e eu ambos estivéssemos submissos a Cristo?” Essas foram perguntas que surgiram de um tempo de histórias para crianças!

Mas uma das coisas tão vitais sobre o que ela faz é que ela faz isso toda segunda-feira de manhã. Não é, “Na terceira segunda-feira do mês, traga um prato.” Isso é outra coisa. É, “Venha como você está. Venha de pijamas.”

Nancy: Mesmo que você ainda não tenha tomado banho!

Rosaria: Sim, “Não seja uma super mulher. Apenas venha.”

Nancy: E você é assim com relação a sua casa também. Talvez você ainda esteja lidando com o ensino domiciliar. Existem coisas acontecendo que estão em vários estágios de preparação. Isso não é entretenimento.

Rosaria: Isso não é “entretenimento.”

Nancy: E seus cardápios, suas refeições e suas configurações de mesa, você apresenta várias situações em seu livro que são muito reais.

Rosaria: Sim, muito reais. Isso dá a outras pessoas a chance de ministrar. Sabe, minha vida é bem bagunçada. O Senhor enviou várias pessoas que estão lutando com várias coisas. Lembro-me uma vez que estava em uma conversa pelo Skype com uma amiga que estava passando por dificuldades. Era aproximadamente cinco da tarde, que não é um momento ideal para eu ainda estar no Skype, porque preciso preparar o jantar.

Um dos homens solteiros de nossa igreja entrou, e ele podia ver que eu estava ministrando a uma amiga. Ele olhou para mim e fez isso, meio que me deu um sinal, “Saia daqui; eu posso cuidar do jantar!” E com certeza pensei comigo mesma, Eu nem sei se esse homem sabe cozinhar, mas… tudo bem.

Levei meu computador para a sala de aula em casa, fechei a porta, falei com minha amiga que estava passando por dificuldades, saí meia hora depois e o cara tinha o jantar pronto. Ele fez um ótimo trabalho.

Nancy: Nossa, arruma uma esposa para esse rapaz! (risadas)

Rosaria: Sim, ele foi ótimo.

Nancy: Ele se envolveu, se tornou parte da família.

Rosaria: Ele se envolveu, e isso o fez se sentir realmente bem… e necessário. E é isso que uma casa hospitaleira diz. Não diz, “Bem, aqui estão os anfitriões, e aqui estão os convidados.” Uma casa hospitaleira diz, “Jesus foi tanto Anfitrião quanto Convidado.” E “hospitalidade bíblica” é diferente de “hospitalidade falsa.”

O problema é que muitos cristãos dependem de hospitalidade falsa. Não temos necessidade de uma hospitalidade real. A hospitalidade falsa é a hospitalidade que você pode comprar, você está no controle dela.

Nancy: Você é a doadora.

Rosaria: Você é a doadora; você não precisa ser a receptora. Isso é humilde! Mas em uma casa onde as pessoas se reúnem, você consegue ter um vislumbre daquela casa no Livro de Atos…

O que havia naquela casa onde todas as pessoas oravam por Pedro? Sabe, esse tipo de coisa. O que era? Bem, quem sabe? Talvez fosse grande o suficiente, talvez tivesse uma certa localização que facilitava, quem sabe? Mas simplesmente era. É o lugar onde as pessoas se reuniam. Então, em nossa casa, as crianças sabem como arrumar a mesa.

Nancy: E nem tudo combina.

Rosaria: Oh não! Não, não, não, as coisas não combinam. Eu meio que brinco com isso, “Diminua suas expectativas, aumente sua alegria.”

Nancy: Então não estamos falando de arranjos de mesa perfeitos do Pinterest.

Rosaria: Não. Não conheço ninguém que já tenha entrado em minha casa e quis tirar uma foto.

Nancy: E não há nada de errado com isso, mas isso não deveria ser algo que intimide ou nos impeça de exercer a hospitalidade.

Rosaria: Certamente! Eu amo o fato de ter amigos que gostam de decorar. Então a nossa é a casa onde nos reunimos para os feriados. Vamos receber todo mundo na Páscoa. Tenho uma amiga que veio até mim e disse, “Eu vou decorar.”

Eu sei o que isso significa, porque sabe, eu não decoro; eu limpo. E temos animais de estimação, então as pessoas deveriam ficar agradecidas que eu limpo! Mas se alguém quer decorar, ótimo! Sou totalmente a favor, mas quero que isso seja uma alegria e não uma preocupação.

Nancy: E falando em aspirar, deixe-me ler uma citação do seu livro. Você escreveu isso, Rosaria, “Hospitalidade é necessária quer você tenha pelos de gato no sofá ou não. As pessoas morrerão de solidão crônica mais cedo do que morrerão por causa dos pelos de gato na sopa.” Mesmo que isso seja um pouco nojento.

Rosaria: Eu sei, para as pessoas que não são amantes de gatos, isso é um pouco, sabe…

Nancy: Mas o que você está enfatizando aqui é: precisamos decidir o que realmente importa, e as pessoas importam mais do que coisas e objetos. Podemos facilmente transformar o desejo de ter tudo organizado ou perfeito em um ídolo.

Rosaria: Certo.

Nancy: Ou refeições. Da maneira como você fala sobre isso no livro, as refeições podem ser bem simples.

Rosaria: Elas são realmente simples. Na verdade, a maioria das minhas refeições são preparadas logo cedo. Basicamente todas as minhas refeições têm uma base de arroz e feijão e talvez frango, e eu adiciono alguns legumes. É basicamente isso.

Alguém me perguntou hoje se tenho um livro de receitas para algumas das sopas que faço. Não tenho. Eu meio que faço de improviso. Faço isso há anos. Não sigo receitas; eu gosto disso. Passo muito tempo na cozinha, eu gosto disso, mas há coisas que eu não faço.

Por exemplo, passo horas cortando legumes e ouvindo um sermão, mas não gasto tempo nenhum nas redes sociais.

Nancy: Você está fazendo escolhas.

Rosaria: Estou fazendo escolhas. E não é porque eu ache que as redes sociais são inerentemente más, mas eu prefiro conversar com pessoas ao vivo. Prefiro ouvir e acompanhar todos os sermões que quero ouvir durante a semana e cortar legumes do que ficar olhando o celular. A vida sempre envolve escolhas e sacrifícios.

Nancy: Quero mudar de direção um pouco aqui por um momento, porque sua vida, seu ser em Cristo… Você foi, como você fala em outro livro, uma convertida improvável. Deus usou a hospitalidade para se aproximar de você, para te conectar com Cristo. Isso é algo de que você teve a alegria de participar em relação à sua própria mãe. Você chama isso de “hospitalidade no leito de morte.”

Rosaria: Sim.

Nancy: Sei que há momentos de crise e momentos em que você teve um membro da família ou alguém próximo que, por anos e anos, era a pessoa menos provável de se converter.

Rosaria: Sim. Com absoluta certeza!

Nancy: Mas Deus agiu de uma maneira extraordinária. Robert e eu estávamos ouvindo uma história que você compartilhou neste livro. Você poderia nos dar uma versão resumida do que Deus fez ali?

Rosaria: Oh, foi incrível! Minha mãe foi ferida quando criança, muito ferida. Ela não foi tratada bem, e cresceu com uma grande desconfiança em relação aos homens. Ela também não tinha nenhum interesse na igreja. Acho que as únicas vezes em que eu ouvia minha mãe usar o nome de Jesus era como um palavrão.

Quando me assumi lésbica aos vinte e oito anos, isso não abalou o mundo da minha mãe. Acho que a posição dela era, “Você ainda vai poder ser professora emérita na universidade, certo?” Tipo, “Profissionalmente, estamos bem, certo?” Enquanto eu estivesse bem profissionalmente, o que eu fazia com minha vida e meu corpo era problema meu.

Ela até me disse: “Eu entendo completamente. Homens são perigosos. Você encontra alguns bons por aí, mas, na maioria das vezes, não é seguro.” Depois de vários anos, Kent e eu nos casamos, nos mudamos para a Carolina do Norte, minha mãe se mudou conosco e morou em casa por dezesseis meses.

Durante esse tempo, ela zombava da nossa fé, desafiava Kent quando ele tentava fazer devocionais em família. Foi terrível! Ela dizia aos nossos filhos que isso estava errado, que pessoas inteligentes não acreditam nessas coisas sobrenaturais.

Nancy: Ela era muito resistente.

Rosaria: Oh, foi difícil. E eu estava escrevendo um livro, e esse foi um momento muito difícil. Houve um momento específico depois que o segundo livro, “Abertura sem barreiras” foi lançado. Bem, há dois livros que estão meio que ligados: um é “Pensamentos Secretos de uma Convertida Improvável” e o outro é “Abertura sem Barreiras: Mais Pensamentos Secretos de uma Convertida Improvável“. Eles são sobre identidade sexual e união com Cristo.

Minha mãe leu ambos os livros e veio até mim depois de lê-los. Ela disse: “Rosaria, eu li ambos os seus livros, e não sou fraca como você. Talvez se eu fosse fraca como você, eu desejaria conhecer esse Jesus, desejaria ter uma vida como a sua. Mas eu não sou fraca como você. Mas eu quero te dizer: estou morrendo. Acabei de ser diagnosticada com câncer de pulmão, e quero morrer do meu jeito. Não quero que você ou sua religião interfira em mim e em como vou morrer.”

Esse foi provavelmente o maior conflito de fé da minha vida, porque as pessoas mais difíceis de testemunhar são os membros da sua família, porque eles conhecem seus pecados mais do que ninguém. Não há fingimento. Você pecou contra eles.

Bem, pela providência de Deus, pude passar os últimos dez dias da vida da minha mãe com ela no estabelecimento de  cuidados paliativos. Kent cuidou de tudo para que eu literalmente ficasse ao lado dela o tempo todo.

Morrer é muito difícil. É um processo vil! Assistir alguém morrer, mesmo no hospital com bastante morfina, sabe que a morte é uma maldição. Eu simplesmente orava. Sou cantora. Cantei todo o Saltério, cantei os salmos. Em certo momento, minha mãe simplesmente se sentou e olhou para mim, e disse: “Bem, acho que agora sou fraca como você. Por que você não me fala sobre esse evangelho? Mas eu não acredito. Por que não acredito? Se sou fraca como você, por que não acredito?”

E eu disse: “Bem, mãe, acho que não é o evangelho que você não conhece; acho que é o Pastor que você não conhece. Você parece ter uma ideia geral, mas é a Pessoa que você não conhece.” E minha mãe, de uma maneira muito prática, disse: “Certo. Ok. Estou morrendo. Me fale sobre isso; me fale sobre Ele.”

Esse foi o começo de um tempo fascinante na minha relação com minha mãe. Durou apenas dois dias, porque ela morreu muito rapidamente depois disso. Mas Kent e eu começamos a ler todas as passagens bíblicas que conhecíamos que falavam sobre Jesus, o Pastor, e o pastorear.

E minha mãe teve essa resposta imediata e totalmente oposta, onde não conseguia ouvir o suficiente. Ela dizia: “Leia mais para mim; me conte mais!” E então, em certo ponto, ela se sentou na cama. Sabe, é engraçado, as pessoas que estão morrendo, não conseguem mexer a boca, mas de repente parecem que vão sair andando do quarto!

Ela se sentou na cama e disse: “Mas espere aí! O que vou fazer com o meu pecado? Não quero falar com um padre. O que vou fazer com o meu pecado?”

E eu disse: “Bem, você tem que falar com o Sacerdote—o Sacerdote, Jesus. Você precisa confessar seu pecado e ter confiança de que Ele vai te perdoar.”

Ela disse: “Mas não preciso falar com você sobre isso?”

“Não! Eu não sou sua sacerdotisa!”

“Ótimo! Bom!”

Foi muito difícil. Minha mãe era uma mulher rústica. Ela havia trabalhado muito e tido uma vida difícil, mas dois dias antes de morrer, tive o incrível privilégio de vê-la entregar sua vida a Jesus!

Foi incrível! Minha mãe morreu, e eu não tive arrependimentos. Falo sobre isso no livro. Tivemos um relacionamento difícil, minha mãe e eu. Eu não podia ser tudo o que ela queria que eu fosse. Foi muito difícil; tivemos uma relação muito difícil.

Mas quando ela morreu no Senhor, foi como se todas as coisas que haviam sido dolorosas para mim em nosso relacionamento antes disso, fossem preenchidas pelo Senhor. Seu sangue preencheu essas lacunas de padrões ruins. Foi sem arrependimentos que enterramos minha mãe. Foi o momento em que percebi que Deus é misericordioso e ouve nossas orações.

Fui ao meu grupo ensino domiciliar, alguns dias depois, e uma das minhas amigas disse: “Oh, Rosaria, o que aconteceu? Sua mãe chegou à fé?”

Olhei para ela e disse: “Bem, não sei. Talvez tenha sido a morfina falando. Mas ela disse todas as coisas certas.”

E essa amiga olhou para mim e disse: “Sabe o quê? Sabe o quê, irmã? Quando você chegou à fé, muitas pessoas também não acreditaram. Então, adivinhe? Jesus salva pecadores—assim como você, assim como eu! Louvado seja Deus pelo que Ele fez na vida de sua mãe, e pare de se preocupar com a morfina!” Louvado seja Deus por amigos que podem fazer isso, porque é assustador!

Nancy: E, como você disse em seu livro, isso mudou o futuro dela, mas também mudou seu passado.

Rosaria: Mudou o futuro dela e o nosso passado. Não tenho nenhum desses arrependimentos. Não tenho nenhum desses “e se…”—essas perdas da infância. Porque o avanço da salvação resolve o olhar para trás da história.

Jesus reescreve a história! O evangelho muda indivíduos, mas também muda a comunidade. Muda o corpo de Cristo. Essa foi uma das lições cristãs mais poderosas da minha vida!

Nancy: Rosaria, no final do seu livro, “O evangelho e as chaves de casa“, no qual você descreve lindamente esse assunto de praticar uma hospitalidade radicalmente simples, você teve uma seção comovente que intitulou “e se?” E você disse: “Imagine um mundo onde cada cristão praticasse uma hospitalidade radicalmente simples.” Pinte para nós, em apenas um minuto aqui, como isso poderia ser. Ajude-nos a imaginar.

Rosaria: Você sabe que os cristãos precisam trabalhar de forma imaginativa, e precisam trabalhar de forma imaginativa em uma formação esperançosa, épica (literariamente falando). Precisamos pensar no “e se”, sabendo que o “e se” que Jesus segura é sempre bom.

Então eu perguntei: “E se?

  • Todo cristão praticasse uma hospitalidade radicalmente simples—como anfitrião ou convidado.
  • Todo cristão fizesse um pacto de membresia na igreja e o honrasse.
  • Todo cristão dizimasse, e onde vivêssemos intencionalmente dentro dos nossos recursos, tendo o suficiente para compartilhar, e talvez até nos mudássemos para bairros que precisam mais de nós do que nós deles.
  • Viver a imagem de um Deus Santo tivesse um significado profundo, algo que mudasse a forma como nos vemos e vemos os outros.
  • Os vizinhos dissessem que os cristãos fazem as melhores festas da cidade—e são as pessoas a quem recorrer para problemas e questões importantes—sem serem convidados.
  • As crianças da vizinhança soubessem que os cristãos eram pessoas seguras para pedir ajuda quando a agonia impensável invadisse suas vidas privadas ou familiares.
  • Os homens vivessem como homens de Deus e as mulheres vivessem como mulheres de Deus.
  • As crianças—incluindo aquelas que ainda não nasceram—fossem valorizadas como filhos de Deus; um mundo onde os papéis de gênero e sexualidade fossem conhecidos como bênçãos para os outros, mesmo quando exigissem grandes sacrifícios.
  • Onde nascer homem ou mulher viesse com bênçãos e limitações distintas, e onde nossos papéis como homens e mulheres fossem valorizados como chamados elevados e distintos.
  • Cada cristão conhecesse suficientemente seus vizinhos para ser um benefício terreno e espiritual.
  • Cada cristão conhecesse pelo nome pessoas que vivem na pobreza ou na prisão e se sentisse ligado a elas e a seus futuros e vivesse de forma diferente por causa disso.
  • A sexualidade fosse segura dentro dos limites bíblicos e não fosse desencadeada em estupro, incesto, pornografia e autodestruição.
  • A patriarquia bíblica, a liderança benevolente de pais com coração de servo, nos fizesse suspirar aliviados sabendo que os bons pais nos protegeriam das gangues errantes de homens maus.
  • O fruto do arrependimento e a prática da hospitalidade marcassem a reputação dos cristãos para aqueles que ainda não acreditam que Jesus salva pelo mesmo poder que o ressuscitou da sepultura.
  • As pessoas passassem a noite em oração.
  • Você conhecesse os nomes dos seus vizinhos, jogasse cartas com eles, fizesse refeições juntos, onde você orasse pelas crianças da vizinhança e estendesse a mão para ajudar antes que fosse solicitado.
  • Ninguém definhasse na solidão esmagadora, onde nenhuma mulher, homem ou criança abusada sofre sozinho, onde as pessoas levam seus problemas reais e urgentes para os cristãos—que têm a reputação de serem ajudantes—e onde as vítimas não são varridas, perdidas, esquecidas.
  • As pessoas temessem a Deus mais do que aos homens e servissem a Deus mais do que ao conforto.
  • O poder do evangelho para mudar vidas está ao nosso alcance.

Este é o mundo que a Bíblia imagina para nós! Este é o mundo pelo qual Jesus ora para que criemos em Seu Nome—não porque qualquer uma dessas coisas—dizimar, membresia na igreja, hospitalidade, defender vítimas—seja o paraíso na terra. 

Não é. Pelo contrário, fazemos essas coisas para que possamos nos preparar de braços dados para o que está por vir, para o retorno de Cristo, para a nossa herança no Novo Céu e na Nova Terra; para que possamos avisar nossos vizinhos do verdadeiro julgamento que virá; para que possamos honrar nosso Deus e Rei!

Isso é a essência, começando por você e por mim e pela nossa porta aberta e nossa mesa de jantar e nossas chaves de casa—prontos para dar. Isso não é complexo. O cristianismo diário radicalmente simples não é cristianismo de PhD. O evangelho vindo com uma chave de casa é o cristianismo A-B-C. A hospitalidade diária e radicalmente simples é o bloco básico para uma vida cristã vital. Comece em qualquer lugar! Mas, por favor . . . comece!

Raquel: Essa é Rosaria Butterfield, falando sobre alguns trechos de seu livro “O evangelho e as chaves de casa“. O subtítulo é “Praticando uma hospitalidade radicalmente simples em mundo pós-cristão.” Ela tem conversado com Nancy DeMoss Wolgemuth sobre como a hospitalidade é essencial para a vida de um cristão. Acesse o nosso site para adquirir sua cópia ou clique no link na transcrição.

“O cristianismo radicalmente simples do dia a dia não é um cristianismo de doutorado. É um cristianismo de ABC”, foi o que Rosaria disse. Quando penso em outros elementos da fé que foram blocos de construção para minha vida cristã, penso em duas palavras: “O Céu reina”. É uma mensagem tão simples, não é? Mas ser capaz de descansar na soberania de Deus muda como vivemos diariamente.

 

O Aviva Nossos Corações é o ministério em língua portuguesa do Revive Our Hearts com Nancy DeMoss Wolgemuth, chamando as mulheres à liberdade, à plenitude e à abundância em Cristo.

Clique aqui para o original em inglês.