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Vivenciando o Luto – Ep 01: Vivenciando o luto com esperança

Publicadas: mar 21, 2024

Raquel: Ao vivenciar e lidar com a perda de sua filha, Nancy Guthrie achou que de nada valia as pessoas sugerirem que ela “seguisse com a vida”.

Nancy Guthrie: Essas palavras transmitem a ideia de que estou deixando meu ente querido para trás e esquecendo que essa pessoa esteve aqui. Não. Eu não quero “seguir com a vida”.

Raquel: Este é o Aviva Nossos Corações, com Nancy DeMoss Wolgemuth, na voz de Renata Santos.

Nancy DeMoss Wolgemuth: Dia após dia, recebemos e-mails, das ouvintes do Aviva Nossos Corações compartilhando algum tipo de tragédia pessoal ou trauma pelo qual estão passando – seja em seu casamento, com seus filhos, ou com problemas de saúde.

Nesta vida, o luto é inevitável. Não há como escapar. Todos irão experimentar mágoa e tristeza; isso faz parte de viver em um mundo caído. Não podemos evitá-lo, e precisamos de sabedoria piedosa e bíblica sobre como lidar com o luto e a tristeza.

Minha amiga, Nancy Guthrie, irá compartilhar conosco hoje um pouco dessa sabedoria piedosa. Nancy é uma mulher estudiosa da Palavra de Deus; ela é autora do livro “Antes de Partir: Encarando a Morte com Confiança Corajosa em Deus” e também é professora de estudos bíblicos para mulheres, então o que ela irá compartilhar vem de uma leitura cuidadosa e um estudo profundo das Escrituras. 

Mas, como iremos logo descobrir, Nancy também tem um coração compassivo para as mulheres que estão sofrendo, pois ela mesma passou por uma perda e tristeza profunda em um nível muito pessoal.

Se você está passando por um momento de luto, minha oração é que Deus use essa mensagem para fortalecer e encorajar seu coração. 

Mesmo que você não esteja passando por uma situação difícil no momento, acredito que essa mensagem nos dará perspectiva, seja em nossas dificuldades atuais ou aquelas que nos esperam ao virarmos a próxima esquina.

Nancy apresentou essa mensagem numa conferência de mulheres. Vamos ouvir Nancy Guthrie.

Nancy Guthrie: Algumas semanas atrás passei uma hora ou duas ao telefone com uma moça que me ligou do Canadá. Há alguns anos, ela havia sepultado um filho e, cerca de uma semana antes desse telefonema, enterrou sua filha. 

Mesmo tendo passado por luto antes, a pergunta que ela me fez é uma que ouço com frequência.

É uma pergunta muito real: “Como superar o luto?” ou “O que preciso fazer para passar pelo luto e sentir alegria novamente? É possível, após esse tipo de perda, ainda ter prazer na vida?”

Quando ela me ligou, falou que observou mulheres que estavam na mesma situação ao seu redor. Ela disse: “Vi algumas coisas que são muito difíceis. 

Vi mulheres que se tornaram duras e amargas em relação a Deus e a outras pessoas após a perda. Eu não quero ser assim. 

Vi outras mulheres que pareciam estar tão abatidas e debilitadas que jamais almejarão buscar a alegria novamente; mulheres que se tornaram tão enfraquecidas que jamais andarão novamente na força do Senhor. 

Eu também não quero ser essa pessoa. Então, o que é necessário para superar o luto?”

A primeira coisa que é necessária é se permitir ficar triste. Meu filho, que completa vinte e dois anos esta semana, tinha oito anos quando meu marido, David, e eu tivemos uma filha chamada Hope. 

Hope nasceu com uma condição metabólica rara. Ela não conseguia ver, ouvir ou responder.

Ela nasceu sem uma pequena partícula subcelular que você e eu temos em cada célula do nosso corpo, e que ela precisava para viver. 

Quando ela nasceu, os médicos nos informaram que haviam danos sérios em todos os seus órgãos principais, especialmente no fígado, rins e cérebro. Danos ocorridos enquanto estava ainda no útero.

Além disso, nos disseram que não havia tratamento e nem cura; e que a maioria das crianças com essa síndrome vivia menos de seis meses. 

Tenho que dizer que quando fui para a sala de parto, foi o dia em que a tristeza entrou em  minha vida de uma maneira que certamente não esperava; de uma forma que jamais poderia ter imaginado.

Honestamente, ao longo da vida da Hope, eu costumava pensar, talvez de forma ingênua ou com um certo otimismo, que, dado o tempo que tive pensando em sua morte, me preparando para esse momento, talvez o luto para mim depois não fosse  tão doloroso. 

Eu imaginava que já estava enfrentando o luto antecipadamente e que não seria tão difícil mais tarde.

Bem, Hope esteve conosco por 199 dias e depois dissemos “adeus”. Eu senti que dentro de mim havia uma enorme bola de dor ulcerada e que precisava ser lavada, acalmada e drenada pelas lágrimas. Portanto, iria levar algum tempo para lidar com a tristeza.

Alguns meses depois, fui a um retiro do coral da minha igreja e lembro-me de ficar em pé e dizer a todos que lá estavam: “Gostaria de falar a todos que não estou caindo em depressão e não perdi minha fé. Só preciso que me deem algum tempo e espaço para ficar triste.”

Às vezes pensamos – ou pelo menos damos a impressão de que pensamos – que se a nossa fé for forte, então não há razão para ficar triste. 

Mulheres, caso ainda não tenham percebido, vivemos em um mundo caído. 

Aqueles que estão unidos a Cristo não estão isentos de experimentar os males deste mundo. A fé não faz com que a perda doa menos. David e eu pensávamos que faria.

Logo após o enterro da Hope, meu marido David me disse: “Acho que pensávamos que a fé faria essa dor doer menos, e não fez.” 

A fé nos manteve longe do desespero. Nos encheu de esperança e confiança em vê-la novamente e em tudo o que está por vir, mas não fez a perda doer menos. De alguma forma, pensamos que faria.

De alguma forma, também pensamos que deveria haver um limite de tempo para essas lágrimas. Lembro-me de uma senhora, recentemente viúva, que veio até mim na igreja. 

Ela me parou após o culto e disse: “Eu choro quando estou me arrumando para o trabalho de manhã. Choro o dia todo no trabalho. Choro no carro a caminho de casa, e quando chego em casa, choro. O que há de errado comigo?”

Eu apenas disse a ela: “Seu marido não era digno de uma grande tristeza? O que nos faz pensar que perder alguém de tão grande valor – alguém que você amava tão profundamente – não nos causaria uma tristeza profunda?” 

Mas, enquanto digo que vai levar algum tempo para lidar com a  tristeza, e realmente acredito nisso, também quero encorajá-la com esta palavra… 

É outra pérola de sabedoria do meu marido: frequentemente presumimos que estamos ou profundamente tristes ou cheios de alegria. No entanto, é surpreendente perceber como a alegria e a tristeza podem coexistir.

Estou apenas imaginando quantas de vocês nesta sala diriam: “Essa tem sido exatamente a minha experiência, e tenho ficado surpresa com isso – que a alegria e a tristeza podem andar de mãos dadas.”

Na verdade, eu realmente acho que uma pessoa que teve uma grande tristeza tem uma capacidade ainda maior de sentir alegria. 

É quase como se a tristeza expandisse nossa capacidade para que sintamos alegria mais profundamente, de forma mais persistente. A tristeza vai levar algum tempo. Além disso, vai exigir um mergulhar nas Escrituras.

É impossível passar por uma perda devastadora, que deixa a gente com muitas perguntas, do tipo “quem é Deus” e “como Ele está trabalhando no mundo”, e esperar que apenas sentar no banco de uma igreja ou numa classe da Escola Dominical, ouvindo uma mensagem por semana, vá responder a essas perguntas.

Esse tipo de perda nos impulsiona. Acho que faz parte do presente que veio no pacote que jamais desejaríamos receber. É parte do presente de uma perda devastadora, ter a reação de questionar: “Deus, pensei que te conhecia, pensei que entendia esta vida cristã e o Seu trabalhar com aqueles que colocam sua fé em Ti. 

Agora tudo isso caiu por terra, então tenho que começar do zero – descobrindo realmente quem Tu és. O que o Senhor está fazendo neste mundo? Como e por quê o Senhor permite certas coisas?”

Não vamos obter respostas a essas indagações apenas em conversas com outras pessoas ou com uma abordagem casual da Palavra de Deus. Não vamos descobrir essas coisas abrindo ocasionalmente a Bíblia, procurando passagens que trarão conforto.

Na verdade, acredito que, às vezes, a Bíblia não é um livro reconfortante. Certamente, não acho que a Bíblia foi escrita para ser usada dessa maneira – abordá-la em pedaços, procurando especificamente por uma pequena parte de conforto que aliviará minha dor.

Acredito que a única forma de encontrarmos consolo na Bíblia é quando nossa dor nos impulsiona a explorá-la profundamente, especialmente para compreendermos melhor o significado mais abrangente da Bíblia. 

A única maneira pela qual consegui dar sentido ao sofrimento foi chegar a uma compreensão mais profunda do que aconteceu no Jardim do Éden.

A única maneira de aceitarmos que Deus está fazendo algo bom neste mundo, incluindo as perdas que ocorrem no decorrer da nossa vida, é olharmos de volta para o Jardim do Éden e ver como era bom, ver tudo o que Ele pretendia compartilhar com Seu povo… habitar com eles, ser o Deus deles, e eles serem o Seu povo. E como isso se perdeu com o pecado de Adão e Eva.

Mas bem ali no Jardim, Ele deixou claro na forma como colocou a maldição na serpente. Ele também prometeu que o dia chegaria em que haveria uma descendência da mulher e que a serpente feriria Seu calcanhar, mas essa descendência esmagaria sua cabeça.

Talvez para muitas pessoas, isso pareça apenas um monte de teologia confusa. Se você está sofrendo profundamente neste mundo, aqui está sua primeira notícia de esperança. Ou seja, Deus não vai deixar que este mundo caído, onde há tanto sofrimento, permaneça assim para sempre.

Naquele mesmo dia, Ele revelou Seu plano para pôr fim ao sofrimento; pôr fim à morte. Muitas vezes, quando algo difícil acontece, as pessoas demonstram que estão muito bravas com Deus. 

É nesse momento que mergulhar nas Escrituras nos ajuda. Isso me fez chegar à seguinte conclusão: “Não deveríamos ficar bravos com quem realmente é o culpado – e quem realmente é culpado?” Vemos isso ali em Gênesis 3.

Qual é a causa de todo o nosso sofrimento neste mundo? É o pecado. Por que quando algo difícil acontece, nunca ninguém diz: “Estou tão bravo com o pecado e esse poder que o pecado tem de machucar aqueles que amo!”? 

Vemos então a necessidade que temos de nos aprofundar nas Escrituras.

Um terceiro ponto é que vai levar algum tempo para perdoar e depois perdoar ainda mais. Na verdade, ao longo da vida de Hope, especialmente no início (tenho vergonha de dizer), eu meio que mantinha uma lista mental de quem havia dito algo para nós e quem não havia. Não quero dizer uma lista física e escrita, mas eu sabia.

Eu sabia quem teve a coragem de se aproximar de nós e quem virou as costas e nos evitou. Minha resposta interna a isso era um ressentimento que se arrastava, e crescia. “Como eles poderiam? Que insensibilidade! Eles não sabem?” A verdade é que não, eles não sabem.

Com o tempo, especialmente depois que Hope morreu, comecei a perceber a morte e o luto por outro ângulo e pensar em como deve ter sido difícil para as pessoas saber o que dizer para nós. 

O que você diz a uma mãe e pai cujo filho está morrendo? Não está melhorando; não há um diagnóstico animador.

Queremos dizer algo que seja útil, inteligente, reconfortante, o que for. Então, para vocês que estão passando por um luto e talvez estejam se decepcionando profundamente  com a forma como seus amigos estão agindo (aqueles que você pensava que estariam com você no momento mais baixo da vida e que desapareceram), e você se encontra alimentando um ressentimento em relação a eles.

Talvez seu ressentimento seja com sua família. Eles deveriam entender; eles deveriam saber o que dizer, certo? 

Ah, queridas, vai levar algum tempo para perdoar. Acredito que a única maneira disso acontecer é convidarmos o Espírito Santo para fazer uma grande obra de perdão em nossos corações.

A única maneira de perdoarmos alguém por qualquer coisa e realmente ter o poder para fazer isso, é quando começamos a ver o quanto fomos perdoadas. Essa é a única maneira de encontrarmos nosso ponto de apoio para começar a perdoar outra pessoa. 

Se você for como eu, a razão pela qual muitas vezes não quero perdoar é porque, francamente, eles não merecem, certo? Porém, nós também não merecíamos e ainda assim Deus nos deu esse perdão tão generoso.

Mulheres, se vocês experimentaram um perdão tão generoso de seu Pai, não deveriam permitir que este mesmo perdão alcance as pessoas ao seu redor que as magoaram tão profundamente? 

Depois de fazer isso, você precisará reconhecer que eles provavelmente magoarão seus sentimentos novamente amanhã. É por isso que digo, vai levar algum tempo para perdoar e provavelmente você vai necessitar de um pouco mais de perdão.

Creio que é assim que nós, que estamos passando por luto, compreendemos a obra sobrenatural que o Espírito Santo está realizando em nosso interior, mesmo em meio ao sofrimento. 

Ou seja, em vez de focar nos erros, nas palavras ditas ou não ditas, devemos estender nossas mãos e oferecer uma ajuda, seja verbal, emocional e até mesmo física às pessoas ao nosso redor mesmo quando não sabem o que dizer. 

É quase como se déssemos uma mão a eles, ajudando-os a superar esse obstáculo constrangedor, convidando-os para uma interação. 

Não ficamos lá esperando para ver se eles sabem a coisa certa a dizer ou se vão ficar constrangidos e nos ofender ao dizer a coisa errada. 

Apenas os convidamos e esperamos a oportunidade de ser uma bênção para eles ao entrarem na nossa tristeza, mesmo que não saibam como agir.

A quarta coisa necessária para superar o luto é que será preciso fazer algumas escolhas difíceis. Vou mencionar algumas que acho difíceis.

Em meio à tristeza, é o nosso luto que nos mantém próximos à pessoa que perdemos. Assim, considerar a possibilidade de acordar um dia e perceber que o ente querido que partiu não é o nosso primeiro pensamento pode nos deixar desconfortável. 

Isso se dá porque nosso luto pela pessoa que perdemos é o que nos mantém próximos a ela.

Aqui está o que acho uma das coisas mais difíceis sobre o luto. Não queremos que o mundo esqueça a pessoa que morreu, mas devemos chegar ao ponto – se quisermos buscar a cura – onde damos permissão ao luto para afrouxar seu domínio sobre nós.

Porém, o que não queremos ouvir alguém dizer é: “Você não acha que é hora de seguir em frente? Bola pra frente!” Ah, como odiamos isso! 

“Do que você está falando? Seguir em frente!? Bola pra frente?! 

Essas palavras parecem como se estivéssemos deixando nosso ente querido para trás e esquecendo que a pessoa esteve aqui. Não. Eu não quero ‘seguir em frente’, não quero passar a “Bola pra frente”!

Mas, mulheres, nós queremos seguir adiante. Vê a diferença? Há uma pequena diferença. “Seguir em frente” é como deixar aquela pessoa amada para trás. “Seguir adiante” é confiar na Palavra de Deus, que Ele é Jeová Rafá, Ele é o Deus que cura. Ele tem o poder e o desejo de trazer cura para a nossa vida partida.

Então, superar uma perda vai exigir a escolha difícil de não nos tornarmos mulheres definidas pelo nosso luto. Você conhece mulheres assim? 

Em algum momento, isso se tornou a identidade delas; é o contexto em que lidam com qualquer pessoa; é quem elas são, e não parece haver nenhum desejo de serem definidas por qualquer outra coisa além da perda.

Queridas, há apenas uma coisa pela qual queremos ser definidas, e não é nosso luto. Queremos ser definidas apenas pela nossa conexão com Jesus Cristo. Queremos ser definidas por Cristo e Cristo somente – não pelas perdas em nossas vidas.

Outra razão pela qual essa é uma escolha difícil é que parece que, se começarmos a permitir que o luto afrouxe seu domínio sobre nós, talvez isso signifique que não amamos mais a pessoa como costumávamos amar.

Essa é uma posição muito dolorosa de estar, não é? Aqui está uma verdade na qual você pode se apegar: Seu amor pela pessoa que você perdeu não é definido pela sua miséria contínua.

Nancy DeMoss Wolgemuth: Estamos ouvindo Nancy Guthrie, autora do livro: “Antes de Partir: Encarando a Morte com Confiança Corajosa em Deus”, compartilhar sua história sobre luto e perda depois de ter perdido uma filha que nasceu com um distúrbio congênito raro. Aprecio muito a sinceridade de Nancy sobre a dor e o luto pelos quais ela passou, e ainda mais, por ela continuar a nos direcionar para a verdade do caráter de Deus e Sua Palavra … a verdade na qual podemos confiar, não importa o que esteja acontecendo ao nosso redor.

Nancy Guthrie será uma das preletoras na Conferência Fiel Mulheres que começa amanhã em Águas de Lindóia. O Aviva Nossos Corações também estará lá com um estande. Caso você esteja indo à conferência, venha conhecer pessoalmente parte da equipe do Aviva Nossos Corações, será um prazer!

Raquel: Amanhã, Nancy Guthrie se juntará a nós novamente. Depois dos eventos que ouvimos hoje, Nancy continuou passando por sofrimento. Ouça como ela continuou se apoiando no Senhor. Aguardamos por você amanhã, aqui no Aviva Nossos Corações.

O Aviva Nossos Corações é o ministério em língua portuguesa do Revive Our Hearts com Nancy DeMoss Wolgemuth, chamando as mulheres à liberdade, plenitude e abundância em Cristo.

Clique aqui para o original em inglês.