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Fazer questão ou abrir mão?

Por Nancy DeMoss Wolgemuth

Essencialmente, existem duas maneiras de responder às mágoas da vida e às experiências injustas. Toda vez que nos machucamos, optamos por responder de uma dessas duas maneiras.

A primeira resposta natural é tornar-se em um cobrador de dívidas. Decidimos fazer o infrator pagar pelo que fez. Podemos ser evidentes ou sutis, mas até obtermos um pedido de desculpas satisfatório, até determinarmos que uma penalidade adequada foi paga, pretendemos manter o infrator na prisão dos devedores; nos reservamos o direito de puni-los por sua transgressão.

Em vez de nos libertarmos das ofensas que recebemos e deixar Deus ser a pessoa (e a única) grande e forte o suficiente para lidar com o problema da maneira perfeita, justa e redentora dele, nos agarramos à dor e recusamos deixá-la para lá. Mantemos o nosso ofensor como refém (pelo menos é o que pensamos).

Mas o problema é que ser um “cobrador de dívidas” faz mais do que manter o nosso ofensor na prisão; isso nos coloca na prisão.

 

Uma cela de prisão

Um colega me contou uma história emocionante que ele ouvira uma mulher compartilhar com a família da igreja, pois o Senhor estava revelando a ela sua necessidade de escolher o caminho do perdão. Quando menina, ela e uma amiguinha, em sua pequena cidade, saíram um dia para ver o xerife do condado cujo escritório estava no mesmo prédio da prisão da cidade. As crianças sempre consideraram aquele homem como amigo delas, a pessoa legal com o uniforme e o distintivo, e que era divertido de se estar por perto.

Em algum momento da tarde, sua amiga correu para brincar, deixando-a sozinha com o xerife em seu escritório. De repente, o olhar em seu rosto começou a deixá-la desconfortável. O clima na sala ficou estranhamente tenso e assustador. Ele se aproximou dela e sussurrou: “Se você disser a seus pais o que estou prestes a fazer com você”—apontando para as barras de ferro atrás dele—”vou colocá-la em uma daquelas celas da prisão”.

E com isso, ele começou a molestá-la.

Os eventos daquele dia haviam ocorrido a muitos anos no passado, quando já adulta, ela finalmente contou a história de como o homem que ela pensava ser um amigo de confiança havia destruído sua inocência infantil. Pensando no que o xerife havia dito sobre trancá-la se ela o denunciasse à mãe ou ao pai, ela disse: “Agora percebo que no meu coração o coloquei em uma ‘cela’ naquele dia, e todos esses anos eu o mantive naquela prisão.”

Quando Deus finalmente abriu seus olhos para ver o que a falta de perdão estava realmente fazendo com ela (e com seu casamento), percebeu outra coisa: naquele dia, tantos anos atrás, ela havia se colocado na cadeia também. E embora o homem estivesse morto há muito tempo, a falta de perdão e a amargura a mantiveram trancada ali—em uma cela de sua própria autoria—por todos aqueles anos.

Foi culpa dela ter sido abusada por uma figura de autoridade? Claro que não. Não há palavras fortes o suficiente para afirmar isso. Mas quem se machucou mais por sua falta de perdão? E por que ela deveria estar na “prisão” por um crime que alguém havia cometido?

A cobrança de dívidas é a resposta natural dos humanos pecadores ao serem prejudicados, abusados ou maltratados. Invariavelmente, isso produz o amargo fruto de uma dor mais profunda, ressentimento e escravidão.

Mas existe outro caminho. Uma maneira melhor. O caminho de Deus.

 

Abrindo mão

Como uma alternativa de ser cobrador de dívidas—o caminho do ressentimento e da retaliação—Deus nos chama para a escolha pura e poderosa do perdão—e da busca, sempre que possível, do caminho da restauração e da reconciliação.

“Como o Senhor te perdoou”, escreve Paulo em Colossenses 3:13, “você também deve perdoar”. O próprio Senhor foi igualmente claro e direto: “Sempre que você estiver orando, perdoe, se tiver algo contra alguém” (Marcos 11:25). “Qualquer coisa contra alguém.” Nenhuma ofensa é muito grande, nenhum ofensor está além dos limites aos quais nosso perdão deve se estender.

Sim, esse tipo de perdão não é natural. É sobrenatural. Às vezes é quase inacreditável.

 

Encontrando a liberdade

Pergunte ao cirurgião cujo erro médico custou a vida da mãe da minha amiga Margaret Ashmore. Ela foi levada às pressas para o hospital com dores no peito, mas ainda estava visivelmente esperta e alerta quando os testes revelaram que ela realmente havia sofrido um leve ataque cardíaco. Decidiu-se que um procedimento de angioplastia seria o melhor caminho para desbloquear suas artérias. Ela foi imediatamente levada para a cirurgia. Todo mundo esperava que ela fosse ficar bem. Mas, em algum momento da operação, o médico inflou o aparelho de balão muito rápido, muito cedo. Seu coração machucado começou a falhar irreparavelmente. Ela entrou em coma e morreu três horas depois.

O pai de Margaret estava inconsolável. Sua esposa de quarenta e dois anos—um casamento que ele valorizava com um intenso amor e lealdade mais do que a maioria—fora arrancada dele em questão de momentos. Por nenhuma boa razão. Pelo erro imprudente de um cirurgião.

Os dias que se seguiram foram quase dolorosos demais para Margaret suportar. Seu pai bom e gentil se tornava um ciclone de raiva, tristeza, desespero e… vingança!

Implacável em sua raiva, atormentado por seu coração partido, ele se declarou em uma missão para “derrubar aquele hospital!”. Exigindo uma reunião com a administração do hospital e os médicos responsáveis pelos cuidados de sua esposa, prometeu dizer na cara deles que estava processando a todos para tirar tudo o que eles tinham…e viveria para vê-los sofrer.

Enquanto a equipe do hospital e os médicos aguardavam ansiosamente a chegada do pai de Margaret para o confronto, eles tremiam ao pensar no que esperavam ouvir. Como alguém no lugar deles lida com uma situação como essa?

Você não lida…quando Deus o faz.

No caminho para a reunião, o pai de Margaret começou a perceber que se ele quisesse se libertar dessa masmorra de raiva e amargura em que se encontrava, teria que fazer o que Deus havia feito por ele. Ele teria que perdoar.

Para a surpresa de todos na sala, quando ele atravessou a porta naquele dia, foi diretamente ao homem cujo julgamento errôneo havia encerrado a vida de sua querida, estendeu sua mão para ele e disse: “A única maneira de eu conseguir viver com qualquer paz pelo resto da minha vida é perdoá-lo.” O médico começou a chorar. Pelo que pareceu uma eternidade, ele não conseguiu nem soltar a mão do homem que renunciou ao seu direito de retaliar.

Duas pessoas saíram daquela sala de conferência como homens livres naquele dia — mas ninguém mais livre do que aquele que ofereceu a libertação, aquele que perdoou.

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