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Mamãe, você gosta de ser mãe?

Por Katie Faris

Uma pergunta difícil

“Mamãe, você gosta de ser mãe?” Um milhão de pensamentos tomaram conta do meu cérebro enquanto minha filha de oito anos esperava pela resposta, olhando para mim com os olhos arregalados. Eu queria, eu precisava, responder direito.

Quando uma criança pergunta se um pai gosta de seu emprego, há uma grande variedade de respostas aceitáveis. Podemos simplesmente dizer sim ou: “Sinceramente, é um trabalho difícil, mas é o trabalho que Deus tem para mim agora”. Se houver tempo, podemos explicar com mais detalhes as partes do nosso trabalho que amamos, as partes que não são tão boas e como somos gratos porque esse trabalho sustenta a nossa família.

Mas quando a sua filha quer saber se você gosta de ser mãe, um papel que conecta profundamente vocês duas, pelo qual você é responsável perante Deus, um trabalho que vai muito além da jornada comercial, aí a coisa muda de figura, pois há muito em jogo.

Naquele momento, eu queria dizer palavras de afirmação sobre a feminilidade bíblica e o valor da maternidade para uma menina crescendo na cultura do século XXI, que muitas vezes não dá valor a isso. Eu queria comunicar as alegrias e privilégios de ser mãe: sentir os primeiros chutes do bebê, beijar o cabelinho ralo de um recém-nascido, ouvir as primeiras palavras de uma criança e ver seus primeiros passos e, ao longo dos anos, tantas coisas mais. Eu queria que ela tivesse certeza do meu amor profundo e duradouro, não apenas pelos meus filhos em geral, mas por ela em particular.

No entanto, a maternidade é difícil. O trabalho de parto ou o processo de adoção são apenas o começo das dores que uma mãe experimenta em um mundo caído. Junto com o amor profundo, a jornada da maternidade muitas vezes traz uma dor de cabeça profunda. Como eu poderia dizer isso à minha filha?

Para complicar ainda mais as coisas, minha filha tem me visto sobrecarregada com as tarefas da maternidade. Ela já ouviu minhas reclamações e sentiu minha impaciência. E ela queria saber se eu ainda gosto de ser mãe, mesmo quando me sinto fraca e tentada e mesmo quando a vida de mãe não sai do jeito que planejo ou não é como espero.

Esta é uma pergunta difícil para muitas de nós. Sem dar uma resposta simplista aos nossos filhos (e tratando das nuances de seus níveis de maturidade), como devemos responder? Quanto devemos permitir que eles vejam e saibam não apenas das alegrias, mas também das tristezas da maternidade, os aspectos de que gostamos e aqueles de que não gostamos? Devemos conversar com nossos filhos sobre as partes mais difíceis de nossa jornada como pais, especialmente por que eles estão envolvidos nisso?

Princípios que devem nos guiar

Não existe um manual que ensine como sermos pais. Cada relacionamento entre pais e filhos é único, assim como nossas experiências como pais. Mas enquanto lutamos para responder a essas perguntas, aqui estão alguns princípios bíblicos que devem nos guiar:

1. Ame seus filhos.

Quer gostemos ou não de um aspecto ou tarefa em particular da maternidade, isso não muda a clara instrução nas Escrituras de amar nossos filhos. Vemos isso na Bíblia quando Jesus resume a Lei e os Profetas dizendo que devemos amar o Senhor e “amar o próximo como a si mesmo” (Mateus 22:39). Nossos filhos não são apenas considerados nossos “próximos” e incluídos neste mandamento, mas Paulo dá instruções específicas para que as mulheres sejam treinadas para amar seus filhos (Tito 2:4). Além do mais, cada filho ou filha, com sua personalidade e características únicas, é uma bênção de Deus a ser valorizada (Salmo 127:3–5).

O amor por nossos filhos deve ser marcado pelo nosso envolvimento com eles em conversas e respostas às suas perguntas mais profundas. Se decidirmos falar com nossos filhos sobre algumas das partes mais difíceis da maternidade, devemos fazer isso de forma que afirme o nosso amor por eles e o quanto os valorizamos. Devemos distinguir entre os elementos mais desafiadores do papel dos pais e a bênção de nosso relacionamento com nossos filhos. Em última análise, devemos fazer de tudo em palavras e ações para direcionar nossos filhos para o evangelho, por meio do qual Deus demonstrou seu amor por nós em Cristo (Romanos 5:8 e 1 João 4:10).

Com isso em mente, assim como em outros contextos e relacionamentos, devemos nos perguntar: seria amoroso compartilhar essas coisas com meu filho? Que informação pode ser considerada útil e benigna?

2. Ensine-os de forma diligente.

Quando os israelitas estavam prestes a entrar na Terra Prometida, Moisés ordenou que ensinassem os mandamentos de Deus de amá-Lo e ao próximo, para guardar esses mandamentos em seus corações. “Ensine-as com persistência a seus filhos. Converse sobre elas quando estiver sentado em casa, quando estiver andando pelo caminho, quando se deitar e quando se levantar.” (Deuteronômio 6:7). 

Essa cultura de conversa sobre os mandamentos, o caráter e os caminhos de Deus é algo a ser buscado por nossas famílias.

Quer estejamos preparando o café da manhã juntos ou caminhando até o parque, voltando da escola ou preparando eles para dormir, devemos ter uma conversa recheada de Deus, preenchendo nossos minutos com nossos filhos. Quando é normal falar sobre o que realmente importa, nossos filhos se sentem seguros para fazer suas perguntas e eles até esperam que nossas respostas apontem para as Escrituras.

Ensinar nossos filhos com diligência significa não deixar de falar sobre o pecado e suas consequências, inclusive seu impacto na vida familiar. Mas quando o fazemos, levamos nossos filhos a ver como o evangelho oferece esperança tanto para os pais quanto para os filhos?

3. Conte histórias a eles.

Logo após o meu nascimento, os médicos informaram a meus pais que eu tinha cifoescoliose, uma doença congênita nas costas. Eles não tinham ideia do que isso significaria para o meu futuro. Será que eu iria andar?

Aprendendo a engatinhar com um suporte nas costas, eu parecia uma tartaruga carregando seu casco. Mas, como as doze pedras que Josué erigiu em Gilgal (Josué 4:20), conforme eu crescia e ia mudando de um suporte de coluna para outro e conforme eu progredia de engatinhar para andar e até correr, minha mãe foi guardando cada um daqueles suportes como testemunho da obra de Deus em minha vida. Assim como os pais israelitas deveriam apontar para aquelas pedras e contar a seus filhos como Deus secou as águas para que Seu povo passasse por elas, minha mãe me mostrou aqueles suportes e me contou como Deus respondeu à sua oração e foi misericordioso com meu corpo.

Tenho uma amiga que coleciona pedras de verdade e sei de outra mãe que usa uma variedade de objetos em sua casa, elas fazem isso tanto para lembrar sobre a fidelidade de Deus para com suas famílias quanto para compartilhar essas histórias com seus filhos. E eu? Dirigindo para casa depois das consultas médicas, digo aos meus filhos como Deus tem sido fiel com eles em relação à saúde deles. Também mantenho um diário para cada um dos meus filhos e escrevo livros que espero que eles leiam algum dia. Como você pode, de maneira apropriada ao seu desenvolvimento, contar histórias sobre a fidelidade de Deus na doença e na tristeza na vida do seu filho ou filha?

Como Maria, temos o privilégio de ponderar sobre a obra de Deus na vida de nossos filhos (Lucas 2:19). Podemos ajudá-los a conectar os pontos de sua história pessoal – as partes de que se lembram com as partes de que não se lembram – e contar como vimos Deus trabalhar em suas vidas desde o nascimento até o presente.

Dependa do Senhor

Em última análise, devemos viver a maternidade pela fé, e dependemos do Senhor para guiar nossas conversas com nossos filhos sobre as alegrias e tristezas da maternidade. Quer uma criança faça uma pergunta inesperada aos oito anos ou se planejamos um tempo para compartilhar intencionalmente em um aniversário de dezoito anos, devemos convidar o Espírito Santo a nos guiar e pedir ao Senhor que nos conceda a sabedoria que Ele promete (Tiago 1:5). Então, confiamos que Deus cumprirá Seus propósitos, para Sua glória, na vida de nossos filhos e em nosso relacionamento com eles.

Quando minha filha me perguntou se eu gosto de ser mãe, eu congelei. Eu queria acertar a resposta. Embora existam partes da maternidade de que gosto muito, ser mãe também foi uma das coisas mais difíceis e dolorosas que já experimentei. A maternidade contém ambas características: a alegria e a tristeza.

Mas definitivamente as alegrias superam em muito as tristezas e eu respondi a ela com um retumbante sim.

Naquele dia e todos os dias, quero dizer aos meus filhos que amo ser mãe. E não qualquer mãe, mas a mãe deles. Nas alegrias e nas tristezas.

 

Uma versão deste artigo foi originalmente publicada em Crossway.com. Usado com permissão.