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Pressão Extrema: a angústia da alma

Por Nancy DeMoss Wolgemuth

A minha alma está profundamente triste, numa tristeza mortal.”
Mateus 26.38

Tudo o que Jesus foi, tudo o que Jesus é, tudo o que Jesus fez, o conduziu ao trabalho que a Ele estava destinado fazer naquele último dia. Começando naquela uma última noite.

No Getsêmani.

Ele e Seus discípulos haviam acabado de celebrar sua ceia de Páscoa. Eles saíram da cidade, atravessaram o estreito Vale do Cedron, antes de se recolherem num jardim de oliveiras nas encostas do Monte das Oliveiras, ao leste de Jerusalém. Getsêmani. A palavra vem de um termo hebraico que significa “prensa de azeite” — apropriadamente nomeado, porque naquela noite, entre as oliveiras, o Filho de Deus seria “prensado” muito além do que podemos imaginar.

O método tradicional de extrair óleo de azeitonas maduras é uma metáfora adequada para aquilo que Ele suportaria. As árvores eram sacudidas para que as azeitonas caíssem ao chão. Depois eram colocadas em um recipiente redondo feito de pedra para serem esmagadas e moídas até se tornar em polpa pela ação de uma grande pedra de moinho rolando sobre elas. A pasta resultante era espalhada em telas de juta. Empilhando as telas uma sobre a outra, os trabalhadores colocavam uma porção pesada de pedras ou vigas em cima, esmagando ainda mais as azeitonas moídas sob o peso e liberando o óleo de cada célula, até que um líquido avermelhado começasse a escorrer das frutas.

Que imagem do nosso Senhor Jesus naquele jardim!

Às vezes, ao meditar novamente naquela cena noturna, sou impactada por um sentido de quão incrivelmente íntima é — um vislumbre tão profundamente pessoal de Jesus num momento de intensa fraqueza, angústia e tentação. É como se não devêssemos ser permitidos testemunhá-la.

E, no entanto, as Escrituras nos convidam a olhar, a lidar com o porquê Ele teve que passar por esse tormento como quem passa por uma “prensa de azeitonas”, e a entender o que isso significa não apenas para a nossa salvação eterna, mas para nossas lutas diárias — tão insignificantes em comparação, mesmo quando parecem tão gigantescas.

Nunca poderemos compreender os horrores que Jesus enfrentou no Getsêmani ao contemplar a cruz. Jamais conheceremos uma dor como a que Jesus suportou naquele jardim — uma dor tão insuportável que o Pai, misericordiosamente, enviou um anjo para estar perto Dele — não para o livrar da pressão, mas para fortalecê-Lo com a resistência necessária para orar mais fervorosamente através de Sua agonia indescritível. (Lucas 22.43)

As Escrituras descrevem Jesus naqueles momentos como “triste… perturbado… profundamente aflito.” (Mateus 26.37-38) “Profundamente angustiado.” (Marcos 14.33) E, sim, “em agonia” — até “seu suor era como gotas de sangue que caíam no chão.” (Lucas 22.44)

A palavra grega traduzida como “agonia” aqui carrega a imagem de uma competição ou combate intenso; às vezes é usada para se referir ao sentimento de medo ou apreensão que uma pessoa passa antes de entrar em uma grande luta ou conflito.

Mas por que Jesus experimentou tal angústia da alma diante de Sua morte iminente, quando lemos sobre outros que foram calmamente para a morte como mártires, até cantando pelo caminho?

É importante esclarecer que esses mártires, embora possam ter sofrido terrivelmente por sua fé, nunca sofreram pelos pecados de outros nem mesmo pelos seus próprios pecados. Eles enfrentaram seus momentos cruciais como pessoas cuja culpa e condenação pelo pecado foram removidas pelo sacrifício de Jesus. Mas Ele mesmo não recebeu tal alívio. Nossos pecados — seus pecados, meus pecados — o estavam torturando, criando uma agonia como nenhuma outra, tão intensa que Ele clamou: “Pai, se queres, afasta de mim este cálice; contudo, não seja feita a minha vontade, mas a tua.” (Lucas 22.42)

Ele foi esmagado por nossos pecados. Não apenas “pecado” como um conceito vago, mas um acúmulo do peso morto de pecados reais — os pecados de todos que já viveram, todos que ainda viveriam. Cada um deles, cada pecado, era pesado com seu próprio peso de rebeldia e culpa. E juntos eles O oprimiam — empilhados, pressionando-o para baixo. Ele estava sob o peso do julgamento eterno provocado por todos aqueles delitos. E tudo isso enquanto Ele também suportava o assalto infernal de Satanás e seus demônios, tentando ao máximo fazê-Lo recusar-se a cumprir o que o plano redentor do Pai exigia Dele.

No entanto, apesar da tortura, do peso esmagador de nossos pecados, da tentação de desistir do que Ele veio fazer, Jesus permaneceu naquele lugar, determinado a beber até a última gota daquele cálice de julgamento e ira. Para nos salvar.

E assim, quando Seus apelos sinceros ao Pai trouxeram apenas silêncio do céu, Jesus se levantou do chão, voltou-se para Seus discípulos sonolentos — cujos próprios pecados e sonolência contribuíam para o peso que Ele carregava — e disse: “Levantem-se; e vamos. Aí vem aquele que me trai.” (Marcos 14.42) Ele estava preparado para a batalha agora, para caminhar diretamente para ela, embora já fisicamente enfraquecido.

Sim, Ele foi esmagado sob o peso de nossos pecados, mas por meio de tudo aquilo Ele foi capacitado pelo Seu temor reverente, Sua submissão inabalável à vontade de Seu Pai e Seu amor infindável por nós, pecadores.

Quando você se sentir esmagada pelo poder do tentador, lembre-se do que aconteceu ali, quando Cristo resistiu à tentação em nosso lugar.

Quando sua carne quiser seguir seu próprio caminho, lembre-se do que aconteceu ali, quando Cristo disse sim à vontade de Deus.

Quando seu coração doer por causa do pecado – pelo que está fazendo com você, pelo que está fazendo com os outros – lembre-se do que aconteceu ali, quando Cristo bebeu o cálice por completo a fim de que nunca precisássemos provar sua maldição.

Quando você duvidar se pode continuar enfrentando a dor, lembre-se do que aconteceu ali.

Vá para o Getsêmani. Reflita sobre a esmagadura, a pressão extrema que Ele suportou por seus pecados e pelos meus.

E siga em frente.

Texto adaptado do livro “Incomparable: 50 Days with Jesus” [“Incomparável: 50 Dias com Jesus”] de Nancy Demoss Wolgemuth (©2024). Publicado por Moody Publishers. Usado com permissão.