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Humildade no lar

Por Cindy Matson

Dorothy Gale, do Kansas, me ensinou que “Não há lugar como o lar”. É onde eu uso minhas roupas confortáveis, não me preocupo com cabelo ou maquiagem, relaxo depois de um longo dia e, geralmente, me sinto mais segura.

Mas o lar também é o lugar onde é mais provável que eu baixe a guarda. Por me sentir segura com minha família, sou mais propensa a agir mal com eles do que com alguém a quem eu deseje impressionar.

Palavras de raiva, frustração, ansiedade e estresse saem da minha boca e atingem as pessoas que são mais preciosas no mundo para mim . Embora o lar seja um lugar seguro e confortável, também pode ser um dos lugares mais difíceis para demonstrar uma virtude cristã básica: a humildade.

Um exemplo bíblico de humildade foi Moisés. Ele não teve uma vida doméstica como eu ou você — a menos que você tenha vivido em um palácio nos primeiros quarenta anos de sua vida e depois decidido fazer uma mudança abrupta de carreira para se tornar um pastor nos próximos quarenta.

Embora a vida de Moisés tenha seguido um caminho um tanto não convencional, ele experimentou algo que a maioria de nós conhece muito bem: conflitos familiares. Ao liderar os israelitas no deserto, Moisés lidou com mais do que sua cota justa de murmúrio do povo. A murmuração se intensificou um dia quando Arão e Miriã, seus irmãos, decidiram botar suas queixas para fora. É nesse contexto que lemos em Números 12.3: “Ora, Moisés era um homem muito paciente, mais do que qualquer outro que havia na terra.”

Moisés demonstrou humildade frente a oposição de sua família. Sua resposta nos instrui sobre como responder humildemente, mesmo diante de conflitos com familiares.

 

Seja tardia para falar

A primeira lição que Moisés nos ensina é manter a boca fechada. Embora argumentar com silêncio geralmente seja uma péssima ideia, no caso de Moisés o silêncio foi instrutivo. Quando Arão e Miriã começaram a criticar seu irmão com inveja de sua posição como porta-voz do Senhor, as Escrituras não registram uma única palavra proferida por Moisés.

 

Sem rancor

Moisés não caiu na armadilha de trazer à tona ofensas passadas de seus irmãos. Este incidente ocorreu pouco depois do pecado de Arão de fazer um bezerro de ouro com as jóias do povo. Embora Moisés tivesse a oportunidade perfeita para criticar a liderança de Arão, ele não o fez. 1 Coríntios 13 ensina que uma das características definidoras do amor é que ele não guarda ressentimentos.

Amor verdadeiro ignora ofensas e opta por não trazê-la de volta em um momento oportuno. Orgulho e raiva fazem listas das ofensas, sempre prontas para serem usadas em autodefesa quando necessário.

Qual é a sua reação diante de conflitos em casa? Você busca munição nas falhas passadas de seus familiares?

 

Não deprecie

Uma situação em que familiares fazem acusações prejudiciais contra nós também pode nos tentar a empregar a tática do desdém. Embora essa estratégia se assemelhe à anterior, difere por não precisar estar enraizada em eventos reais. Pode ser uma fabricação de nossa própria percepção distorcida. “Você quer me acusar de preguiça? E você que…”?

Moisés também não recorreu a essa arma. Sem dúvida, ele tinha munição para disparar que poderia ter derrubado tanto Miriã quanto Arão, mas ele escolheu seguir o caminho de ser tardio para falar — o caminho que, de acordo com Tiago, permite que a justiça de Deus opere (1:19–20).

 

Não se autopromova

Moisés não apenas se recusou a trazer à tona as falhas passadas de seus irmãos, mas também não mencionou suas próprias realizações. Ele não sentiu a necessidade de se defender com a lista de coisas que havia feito — coisas como confrontar Faraó, libertar os filhos de Israel da escravidão, abrir o Mar Vermelho, ouvir a Deus diariamente (talvez com mais frequência). Se alguém tivesse um currículo para distribuir, seria Moisés. Mas ele não o fez.

Isso também corresponde à definição de amor em 1 Coríntios 13, que diz que o amor nunca é arrogante nem se envaidece. O amor não precisa se fazer parecer grandioso ou invejável aos olhos da outra pessoa.

 

Mas é tão fácil fazer!

Diante de uma acusação, uma lista inteira de razões pelas quais a acusação é falsa implora para sair de nossas bocas, colocando a outra pessoa em seu lugar e nos restaurando ao nosso status legítimo. Porém, o amor e a humildade mantêm esse desejo de autopreservação e exaltação sob controle.

Moisés, é claro, não é o exemplo final de ficar quieto diante de falsas acusações. Ele simplesmente prenuncia outro que seria depreciado por Seus familiares. O apóstolo Pedro, descreveu o silêncio exemplar de Jesus desta maneira: “Para isso vocês foram chamados, pois também Cristo sofreu no lugar de vocês, deixando-lhes exemplo, para que sigam os seus passos. ‘Ele não cometeu pecado algum, e nenhum engano foi encontrado em sua boca’. Quando insultado, não revidava; quando sofria, não fazia ameaças, mas entregava-se àquele que julga com justiça.” (1 Pedro 2.21–23, ênfase adicionada.)

 

Pronta para interceder

Assim como Cristo, Moisés confiou a situação de Miriã e Arão a Deus. E, no caso de Moisés, o Senhor mesmo defendeu Seu servo leal e o vindicou, afligindo Miriã com lepra. Arão, tendo rapidamente mudado de ideia, implorou a Moisés que intercedesse em nome de Miriã para que Yahweh curasse sua irmã dessa doença temida.

Mais uma vez Moisés viveu de acordo com sua reputação de “o homem mais humilde”. Em vez de recorrer a qualquer uma das armas de raiva e vingança que você e eu poderíamos ser tentados a usar, Moisés humildemente intercedeu por sua irmã. Sua oração por Miriã chegou aos ouvidos de Yahweh, e após sete dias de impureza, Miriã foi curada.

Depois de sermos atacadas a oração sai de nossas bocas, muitas vezes, com grande esforço. A última coisa que queremos fazer por nosso ofensor é orar. Mesmo que seja um membro amado de nossa família, uma oração pelo bem-estar dessa pessoa pode ter um gosto amargo em nossos lábios. Mas a verdadeira humildade no nosso lar significa que não retemos nossas orações, mesmo diante de uma ofensa.

Também não devemos reter o perdão. Embora as Escrituras não registrem a reconciliação relacional entre Moisés e seus irmãos, ela certamente a deixa implícita. Permitir que a raiva apodreça e reter o perdão prejudica tanto nosso relacionamento com Deus quanto nosso ministério. Nenhum desses parece ter sido afetado no caso de Moisés.

Não quero dizer que o perdão seja barato nem que sempre venha facilmente. Mas, por causa do evangelho, sabemos que o perdão é sempre possível. Se Deus, em Cristo Jesus, foi capaz de me perdoar pelos meus pecados traiçoeiros, como posso reter o mesmo de alguém que me ofendeu em muito menor grau? (Efésios 4:32; Mateus 18:21–35)

A humildade é sempre difícil, especialmente dentro das quatro paredes de nossa casa. No entanto, por causa do evangelho de Jesus Cristo, é possível estender perdão.