Durante minha infância, inúmeras frases ditas por meu pai se tornaram uma parte essencial da minha experiência de crescimento, assim como os aromas dos pratos criados por minha mãe ou a decoração azul e branca das prateleiras. Algumas dessas frases eram ditas em tom de brincadeira, como “Sem sacrifício não há benefício” (embora, na realidade, meu pai fosse bastante compreensivo quando passávamos por dificuldades). Outras frases eram ditas em outros idiomas, dos vários países nos quais ele havia estado, como “chotto matte kudasai” (“só um momento” em japonês). Mas uma frase deixou uma marca permanente na minha vida. Meu pai a usava antes de recebermos visitas, quando estávamos caminhando pelo aeroporto ou visitando igrejas que nos apoiavam como missionários.
“Lembre-se de ser uma bênção.”
Esta frase tinha grande significado para nós quando éramos crianças. Por causa do discipulado diário que recebíamos, tínhamos um vasto conhecimento bíblico que nos ajudava a entender o propósito por trás dessas palavras. Nós aprendemos que, como está escrito em Efésios 1:3, em Cristo fomos “abençoados com todas as bênçãos espirituais” e que essa realidade espiritual e eterna deveria ser evidente em nossas atitudes, palavras e ações. Agora que me tornei mãe, eu uso essa frase regularmente com meus filhos. Eu desejo ardentemente que eles compreendam que viver de uma maneira que glorifique o Senhor, demonstrando Seu amor para as pessoas ao nosso redor, é um privilégio.
Seria impossível compartilhar toda a nossa compreensão do que significa “Seja uma bênção”. Porém, gostaria de compartilhar algumas das ideias gerais que surgiam em nossas mentes imediatamente quando recebíamos este lembrete e o que meu marido e eu esperamos que nossos filhos também se lembrem ao ouvir essa frase.
Olhe ao redor
Constantemente éramos encorajados a considerar os outros superiores a nós mesmo, conforme os versículos em Filipenses 2:3–4:
Nada façam por ambição egoísta ou por vaidade, mas humildemente considerem os outros superiores a si mesmos. Cada um cuide, não somente dos seus interesses, mas também dos interesses dos outros.
A passagem continua dizendo que este foi o exemplo que nos foi dado pelo próprio Jesus. Em uma passagem semelhante, Marcos 10:45 diz: “Pois nem mesmo o Filho do homem veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos”. Como seguidores de Jesus, nós também somos chamados a essa linda maneira de viver capacitado pelo Espírito.
Quando eu estava no primeiro ano do ensino médio, embora morássemos no exterior, estávamos de licença nos Estados Unidos. Nessa época percebi que eu estava ficando cada vez mais introspectiva à medida que as semanas passavam. Parecia que eu não conseguia me libertar dos sentimentos de insegurança paralisantes que apareciam sempre que eu estava com grandes grupos de adolescentes ou adultos. Como sou naturalmente extrovertida (embora tenha um lado tímido), as pessoas começaram a notar meu comportamento retraído. Meus pais me chamaram para conversar e me perguntaram o que estava acontecendo e eu contei a eles sobre a minha luta.
Depois de me ouvir, meu pai disse: “Aposto que há outros que se sentem exatamente como você, talvez até pior. Por que você não pede a Jesus para ajudá-la a tratar os outros como gostaria de ser tratada?” Foi aí que a ficha caiu. Eu descobri que quando pedia a Deus que me concedesse a graça de considerar os outros superiores a mim, as coisas começavam a mudar. Até hoje, sempre que percebo que estou ficando introspectiva, me lembro dessas palavras de encorajamento e redescubro o quão revigorante é seguir o exemplo de Jesus, considerando os outros superiores a mim. Quando fazemos isso, Ele também cuida de nós.
Nossos pais treinaram ativamente nossos olhos e ouvidos para prestar atenção nos outros em todos os tipos de contextos, tanto reativos (em nossas respostas aos outros) quanto proativos (em nossa iniciativa de interação).
Durante nossas conversas, meus irmãos e eu éramos regularmente encorajados a ser calorosos, responder e fazer perguntas. Quando estávamos em lojas ou restaurantes, éramos encorajados a observar os outros e agir de acordo, prestando atenção ao volume de nossas vozes e o local em que estávamos. Quando recebíamos visitas em nossa casa, éramos instruídos sobre maneiras de fazê-los se sentir bem-vindos. Nossas festas de aniversário eram frequentemente bastante grandes porque éramos exortados a incluir qualquer pessoa que pudesse se sentir à margem do nosso círculo, bem como aqueles com quem tínhamos proximidade. Nossos pais treinaram ativamente nossos olhos e ouvidos para prestar atenção nos outros em todos os tipos de contextos, tanto reativos (em nossas respostas aos outros) quanto proativos (em nossa iniciativa de interação). Não é que fossemos perfeitos, mas nos foi dado um cinto de ferramentas espiritual repleto de maneiras pelas quais poderíamos buscar colocar os outros acima de nós mesmos, o que nos ajuda até hoje.
Seja grata e generosa
Generosidade e gratidão andavam de mãos dadas em nossa casa e acredito que também andam de mãos dadas nas Escrituras. Elas eram demonstradas pelo exemplo dos meus pais, que constantemente doavam seu tempo, energia e recursos. E quando recebíamos qualquer bênção, eles logo a reconheciam e agradeciam ao Senhor e àqueles por meio de quem a bênção vinha. O princípio por trás disso pode ser encontrado em passagens como 2 Coríntios 9:6–8:
Lembrem-se: aquele que semeia pouco também colherá pouco, e aquele que semeia com fartura também colherá fartamente. Cada um dê conforme determinou em seu coração, não com pesar ou por obrigação, pois Deus ama quem dá com alegria. E Deus é poderoso para fazer que toda a graça lhes seja acrescentada, para que em todas as coisas, em todo o tempo, tendo tudo o que é necessário, vocês transbordem em toda boa obra.
Quando nossos corações estão cheios de gratidão ao Senhor por quem Ele é e por tudo o que Ele fez por nós por meio de Jesus, devemos necessariamente transbordar de amor e generosidade para com as pessoas que estão ao nosso redor. Em resumo, pessoas gratas são pessoas generosas.
Se tivéssemos cultivado um talento, éramos encorajados a perguntar: “Como posso usá-lo para servir aos outros?” Se tivéssemos recursos de algum tipo, eles nos ensinavam a considerar: “Será que Deus quer que eu gaste isso para abençoar outra pessoa?” No uso do nosso tempo, a atitude cultivada em nosso lar era: “Há alguma oportunidade de encorajar outros agora ou em um futuro próximo?”
No quesito gratidão, éramos constantemente lembrados de agradecer verbalmente quando éramos servidos de alguma forma, nas grandes e nas pequenas coisas. Ações de graças a Deus eram demonstradas diariamente por meio da oração. Meus pais entendiam que a verdadeira gratidão é uma disciplina que deve ser ativamente cultivada para florescer.
Posso dizer com toda sinceridade que tanto eu quanto meu marido fomos agraciados com pais que são verdadeiramente algumas das pessoas mais gratas e generosas que já conhecemos. Essa é uma maneira incrível de se viver e uma tocha que queremos passar para a próxima geração.
Fale palavras de encorajamento
Desde muito pequenos, tínhamos a tradição do que carinhosamente (e com bom humor) chamávamos de “dizer coisas legais” para um membro da família em seu aniversário. Havia parâmetros claros sobre o que podíamos e não podíamos dizer. Precisávamos dizer um encorajamento genuíno para edificar o aniversariante. Essa prática preparou o terreno para a usássemos não só em aniversários, mas na vida cotidiana. Isso fez com que se tornasse normal o que muitas vezes pode ser algo bastante desconfortável, expressar o que vemos e apreciamos em outra pessoa ou tomar a iniciativa e dizer palavras gentis que inspirem as pessoas a amarem mais a Jesus e crescerem em sua devoção.
A Bíblia nos ordena a praticar essa forma de bênção com nossos irmãos e irmãs espirituais (1 Tessalonicenses 5:11). Quando encorajamos uns aos outros com a Palavra de Deus, isso se torna ainda mais poderoso: “Encorajem-se uns aos outros todos os dias, durante o tempo que se chama “hoje, de modo que nenhum de vocês seja endurecido pelo engano do pecado” (Hebreus 3:13, ênfase acrescentada).
As palavras de encorajamento não devem ser ditas apenas para pessoas que compartilham da nossa fé, mas também para aqueles que não fazem parte da família da fé e, até mesmo, para aqueles que não nos tem em alta conta, como diz Romanos 12:14: “Abençoem aqueles que os perseguem; abençoem, e não os amaldiçoem”.
A palavra para “abençoar” usada aqui, significa intencionalmente dizer palavras de louvor sobre alguém ou orar pelo seu bem. Encorajamento e bênçãos devem transbordar de nossos corações para aqueles que estão ao nosso redor, cristãos e não cristãos da mesma forma.
Senhor, faz-me semelhante a Ti
Havia uma canção que se tornou muito especial para minha família. Costumávamos cantá-la juntos quando meus pais eram convidados a falar sobre seu trabalho missionário no exterior. A letra era simples:
Senhor, faz-me semelhante a Ti,
Assim como és.
És um servo,
Faz me servo, também.
Oh Senhor, é meu desejo,
Que me faças,
semelhante a Ti, Senhor,
Faz-me semelhante a Ti.1
Ao considerarmos como Deus pode querer nos usar como uma bênção neste mundo e como discipular nossos filhos para serem uma bênção, que possamos começar com esta oração: Senhor, faz-me semelhante a Ti, Aquele de quem todas as bênçãos fluem.
Novembro chegou e as palavras de Heather nos ajudam a voltar os nossos olhos e nossos corações para Deus e para os outros em gratidão por quem Ele é e por tudo o que Ele fez. Precisa de uma dose extra de gratidão este mês? O livro de Nancy DeMoss Wolgemuth, “Escolhendo a Gratidão: Sua Jornada para a Alegria”, mostrará que a verdadeira gratidão não é um ingrediente incidental na vida do cristão: é um elemento crucial. Peça já seu exemplar na loja virtual do Aviva Nossos Corações.
1 “Make Me like You,” Heritage Singers, https://heritagesingers.com/track/461322/make-me-like-you.
Sobre a autora Heather Cofer
Heather é esposa e mãe de cinco filhos que vive no norte do Colorado com uma paixão por encorajar as mulheres a amarem a Jesus. Ela é autora deExpectant: Cultivating a Vision for Christ-Centered Pregnancy, e também colabora como autora para o Set Apart Ministries, Risen Motherhood, e Well-Watered Women. Ela gosta de flores frescas, bom café e de dar risadas com aqueles a quem ama.